Colunistas

Publicado: Segunda-feira, 13 de junho de 2005

Entrevista do Cardeal Ratzinger

Com grande senso de oportunidade, sob o título “O Que Pensa Bento XVI?”, o semanário “Jornal de Opinião”, da Arquidiocese de Belo Horizonte, em edição de 8 maio último transcreve em três páginas, alentada entrevista concedida pelo então Cardeal Joseph Ratzinger em 2 de novembro de 2002. Trata-se de um encontro com jornalistas na Universidade Católica Santo Antônio de Múrcia durante um Congresso Internacional de Cristologia. Elaborada pelos redatores da Agência Zenit, na longa entrevista o atual Papa Bento XVI responde como a Igreja deve posicionar-se frente aos desafios do mundo atual, o diálogo inter-religioso, a espiritualidade, o Papa João Paulo II, o Concílio Ecumênico Vaticano II e sobre teologia da libertação.

Pessoalmente sinto-me tentado a simplesmente transcrever algumas das magistrais respostas do então Cardeal Ratzinger, hoje colocado à frente da Igreja Católica. Levando em conta as inoportunas críticas feitas por alguns “teólogos” brasileiros ligados à teologia da libertação, atenho-me neste artigo à resposta dada pelo atual Papa. À pergunta que lhe foi feita por um jornalista sobre certos professores de Seminários no País Basco, que ousam justificar o terrorismo do ETA ou pelo menos não o condenam taxativamente, o cardeal disse o que transcrevo a seguir:

“Nesse caso se aplica simplesmente o que a Congregação para a Doutrina da Fé disse entre os anos de 1984 e 1986 nas Instruções “Libertatis Nuntius” e “Libertatis Conscientia”, sobre a teologia da libertação.Certamente o cristianismo se relaciona com a liberdade, mas a verdadeira liberdade não é uma liberdade política. A política tem sua autonomia e isso foi sublinhado especialmente pelo Concílio Vaticano II. E não deve ser construída pela fé como tal, deve ter a sua racionalidade. Da Sagrada Escritura não se podem deduzir receitas políticas e muito menos justificações do terrorismo.

Parece-me, pelo que se refere a esse caso específico, que já está dito tudo nas duas Instruções de nossa Congregação para a teologia da libertação. A novidade do messianismo cristão consiste em que Cristo não é, imediatamente, o Messias político que realiza a libertação de Israel como se esperava. Esse era o modelo de Barrabás, através do qual queriam alcançar, imediatamente, com o terrorismo, a libertação de Israel. Cristo proclamou outro modelo de libertação que se realizou na comunidade apostólica e na Igreja, tal como se constituiu conformado e testemunhado no Novo Testamento. Mas, como dizia, tudo já está dito nessas duas Instruções”.

Os “teólogos” da libertação aos quais me referi em artigo anterior a este, Leonardo Boff, Frei Betto, Padre José Comblin e outros menores, certamente devem ter lido com atenção as Instruções acima referidas, cujo texto e divulgação foi autorizado pelo saudoso Papa João Paulo II. Nelas é condenada a leitura política da Sagrada Escritura, especialmente do livro do Êxodo. Além disso, fica bem claro ser de todo inaceitável a análise da realidade brasileira e latino-americana de corte marxista, propondo um falso conceito de libertação e lutas de classes, incentivando guerrilhas e até revoluções.

As referidas Instruções insistem em que a pessoa de Jesus Cristo deve ser vista, antes e acima de tudo, como redentora do pecado e não como libertadora das lamentáveis injustiças que continuam causando tanto sofrimento a milhões de homens e mulheres. A raiz mais profunda de todas essas injustiças está no pecado pessoal que, em certos casos, torna-se também pecado social. Em todo caso, a resposta a essas injustiças jamais poderá ser dada a partir do ódio mas do amor, que continua sendo a quintessência da mensagem moral cristã.

Mais adiante espero poder refletir com os leitores sobre as negativas conseqüências para a comunidade católica, das teses da “teologia” da libertação que prevaleceu no Brasil e na América Latina estendendo-se, também, à África e outras partes do mundo.

Comentários