Entrevista do Cardeal Ratzinger
Pessoalmente sinto-me tentado a simplesmente transcrever algumas das magistrais respostas do então Cardeal Ratzinger, hoje colocado à frente da Igreja Católica. Levando em conta as inoportunas críticas feitas por alguns “teólogos” brasileiros ligados à teologia da libertação, atenho-me neste artigo à resposta dada pelo atual Papa. À pergunta que lhe foi feita por um jornalista sobre certos professores de Seminários no País Basco, que ousam justificar o terrorismo do ETA ou pelo menos não o condenam taxativamente, o cardeal disse o que transcrevo a seguir:
“Nesse caso se aplica simplesmente o que a Congregação para a Doutrina da Fé disse entre os anos de 1984 e 1986 nas Instruções “Libertatis Nuntius” e “Libertatis Conscientia”, sobre a teologia da libertação.Certamente o cristianismo se relaciona com a liberdade, mas a verdadeira liberdade não é uma liberdade política. A política tem sua autonomia e isso foi sublinhado especialmente pelo Concílio Vaticano II. E não deve ser construída pela fé como tal, deve ter a sua racionalidade. Da Sagrada Escritura não se podem deduzir receitas políticas e muito menos justificações do terrorismo.
Parece-me, pelo que se refere a esse caso específico, que já está dito tudo nas duas Instruções de nossa Congregação para a teologia da libertação. A novidade do messianismo cristão consiste em que Cristo não é, imediatamente, o Messias político que realiza a libertação de Israel como se esperava. Esse era o modelo de Barrabás, através do qual queriam alcançar, imediatamente, com o terrorismo, a libertação de Israel. Cristo proclamou outro modelo de libertação que se realizou na comunidade apostólica e na Igreja, tal como se constituiu conformado e testemunhado no Novo Testamento. Mas, como dizia, tudo já está dito nessas duas Instruções”.
Os “teólogos” da libertação aos quais me referi em artigo anterior a este, Leonardo Boff, Frei Betto, Padre José Comblin e outros menores, certamente devem ter lido com atenção as Instruções acima referidas, cujo texto e divulgação foi autorizado pelo saudoso Papa João Paulo II. Nelas é condenada a leitura política da Sagrada Escritura, especialmente do livro do Êxodo. Além disso, fica bem claro ser de todo inaceitável a análise da realidade brasileira e latino-americana de corte marxista, propondo um falso conceito de libertação e lutas de classes, incentivando guerrilhas e até revoluções.
As referidas Instruções insistem em que a pessoa de Jesus Cristo deve ser vista, antes e acima de tudo, como redentora do pecado e não como libertadora das lamentáveis injustiças que continuam causando tanto sofrimento a milhões de homens e mulheres. A raiz mais profunda de todas essas injustiças está no pecado pessoal que, em certos casos, torna-se também pecado social. Em todo caso, a resposta a essas injustiças jamais poderá ser dada a partir do ódio mas do amor, que continua sendo a quintessência da mensagem moral cristã.
Mais adiante espero poder refletir com os leitores sobre as negativas conseqüências para a comunidade católica, das teses da “teologia” da libertação que prevaleceu no Brasil e na América Latina estendendo-se, também, à África e outras partes do mundo.