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Publicado: Terça-feira, 29 de novembro de 2011

Entre o ibérico e o britânico

Crédito: Divulgação Entre o ibérico e o britânico
We could have spoken English

 

Como Santos é uma cidade de porto, logo, acaba sempre se tornando uma cidade de passagem. É difícil para o visitante ver Santos de uma forma diferente. Por mais que o santista se esforce, uma semaninha somente nos meses da temporada não é o bastante para se cair de cabeça na essência do que é ser santista.

Há uma certa complexidade? Até há. Mas em todos os lugares do mundo há certa complexidade. O que passa desapercebido por quem passa por aqui é um certo torque britânico no tipo de relação e sinergia que há entre os santistas da gema.

Primeiro porque, em se tratando de cidade de passagem, é meio difícil você encontrar um santista da gemagema mesmo. Só para vocês terem uma idéia, minha mãe é de Votuporanga. Meu avós paternos eram de Amparo e Pedreira. Eu e meu irmão somos, a bem dizer, a primeira geração de nativos de Santos. Nascemos e moramos aqui.

Logo, nem todo mundo que você trombar em Santos é santista, da gema, de nascimento e crescimento, de vivência. Ainda que as colonias portuguesa e espanhola sejam uma força na cidade, herdamos dos ingleses uma coisa que, de repente, passa sem que ninguém perceba: o humor.

Apesar da City of Santos Improvements Company, responsável pelo desenvolvimento urbano da cidade, ser uma empresa canadense, a colônia inglesa era consideravelmente numerosa na cidade. Nas praias de Santos, se jogava criket, por exemplo. Aos poucos, os ingleses foram tomando o rumo de casa, mas o tipo de sinergia e humor permaneceram.

A primeira vista, o tipo de relacionamento que temos entre os da gema, aos olhos de quem vem nos visitar, parece tremendamente rude. Com um santista, não se gasta muito tempo de prosa solta, ao sabor das palavras. Os santistas da gema, quando em Santos, são quase como personagens de filmes do Guy Richie: aquela coisa totalmente direto ao ponto. É até fácil você irritar um santista: floreie sua conversa. O sucesso de tirá-lo do sério é líquido e certo.

Não que em Santos nós não conversemos. Conversamos, só não enfeitamos. A sorte da cidade está na pluralidade de origens abrigadas aqui. É o que torna o santista da gema um pouco mais maleável. A sinergia entre os nativos certamente soa para os demais habitantes de outras cidades como frieza ou completa falta de educação.

Agora, o que quebra o turista no meio é ele nunca saber se estamos falando a sério ou se estamos dando aquela tirada de sarro. Isso é um elemento quase que genético, está no DNA dos santistas da gema. Conversar com um santista é um risco: você nunca sabe se ele está falando a sério ou não.

Tanto que é comum em conversas entre dois santistas da gema um se irritar com o outro por achar que há uma intensa carga de deboche no enunciado de seu interlocutor. É frequente dois santistas tendo que checar com o outro se ele está falando aquilo de verdade ou não.

O que deixa o santista sempre em uma situação difícil diante de um visitante ou quando ele, o santista, é o visitante em outras paragens. Certamente vem aquele comentário do tipo aqueles caras metidos a bestaarrogantes...

Entretanto, essa característica pode ser tremendamente enriquecedora a quem vem passar uns dias na cidade. Uma vez você encontrando um santista da gema, a diversão é garantida. Principalmente se você vier acompanhado de um inimigo seu. Fazemos o trabalho de tiração de sarro, você se diverte e o seu inimigo nem percebe que foi alvo de gozação.

A fina ironia do santista, o da gema, é uma característica que, de um modo em geral, causa verdadeira gastura em quem não é daqui. Agora, uma vez você sacando qual é a jogada e entrando na nossa, certamente você terá histórias para contar. E seus desafetos nem perceberão.

That's it, ladies and lads... We are from Santos. And proud of it!

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