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Publicado: Quarta-feira, 9 de março de 2016

Enquanto Somos Jovens

Enquanto Somos Jovens

Não é novidade pra ninguém que Noah Baumbach é um excelente diretor. Pena que desconhecido. Apesar de ter lançado ótimos filmes como o indicado ao Oscar de melhor roteiro que é “A Lula e a Baleia”, “Margot e o Casamento” e o mais recente que é o sensacional “Frances Ha”, ele ainda não é associado ao grande publico, diferente do seu amigo Wes Anderson no qual ele o ajudou a escrever o roteiro de “A Vida Marinha com Steve Zissou”. Podemos ver varias semelhança entre os dois em seus filmes, digo mais pela temática já que a direção de Noah é bem mais bagunçada e frenética do que Anderson. Acho esse caos em seus filmes perfeitos e mostra também o espírito de seus personagens.

Em seu novo filme no qual teve sua estréia dia 18 de Junho aqui no Brasil, o diretor trata o tema da idade e do existencialismo de forma exata e coerente com a proposta do filme e também com a sua direção, ou seja, o caos! Usando como tema principal a fase da meia idade que são as principais questões para todos que é o medo de envelhecer, filhos, carreira e dinheiro. O casal principal é vivido por Ben Stiller e Naomi Watts, consegue tratar bem a entediante vida no “pós-moderno”. Como eles não têm filhos, ficam perdidos com os amigos que já estão nessa fase e também de ter outras preocupações que só quem é pai sabe o que é.

Josh (Stiller) é um documentarista e de certa forma frustrado por uma vida que não deu certo. Sua esposa Cornelia (Watts) parece caminhar por essa mesma estrada. Até que numa palestra ele encontra um jovem casal que baseiam sua vida em “viver”, ou melhor, fazer o que da na telha. Ficamos admirados com a química entre Jamie (Adam Driver) e Darby (Amanda Seyfried, um casal jovem e “hipster”. A pose de casal feliz e super entretido um com outro é muito bem passado quando numa cena vemos Josh e Cornelia entediados com a tecnologia. E no outro ponto vemos o jovem casal vivendo coisas simples como sair com os amigos, jogando basquete e etc. Essa transição da geração X e Y é muito bem retratada no filme. Principalmente quando temos uma inversão de papeis.

O ponto que Baumbach quer retratar é como vivemos a vida de várias formas. Seja por você ficar entretido com a tecnologia que ela te consome ao todo, como é o caso do casal mais velho ou o ponto do casal mais novo em que eles se desapegam de todas essas comodidades. O filme se perde na segunda parte, onde vemos que o roteiro da uma decaída e parte para o ostracismo. O que poderia ser uma discussão legal e muito mais aproveitada sobre relacionamentos e as novas formas como um casal passa a vida juntos em pleno século XXI, saiu da linha de pensamento e começou a contar outra história. Isso muda no final do filme, mas sinto que já é tarde para poder aproveitar toda essa trama que foi construída na primeira parte.

O filme conta com Adam Horovitz (Ad-Rock) e Maria Dizzia que são o casal que acabou de ter um filho. Eles são uma boa contradição com Josh e Cornelia, desde o estilo de vida como também o que eles pensão sobre toda uma nova geração. 

Na ultima cena onde os dois vão adotar uma criança em algum país. Acho que temos a melhor cena do filme. Josh e Cornelia estão sentados e temos uma câmera frontal neles e fazendo contraponto com uma crianças de 2 anos que está sentado e usando um celular. A criança consegue desbloquear o celular e fazer ligações mesmo não sabendo falar direito. Achei essa cena sensacional. A cara deles vendo aquilo é impagável, mas ao mesmo tempo triste. Porque estamos perdendo. Mesmo com essa nova onda da tecnologia dominando tudo. Somos obsoletos no nosso jeito de viver, por isso acho que a maior crítica e também o maior ponto que o diretor coloca no filme é “cada um vive como quer”. Seja pela exclusão da tecnologia que é abordado pelo casal jovem ou a presença ferrenha da tecnologia na vida do casal de meia idade.

Apesar das escorregadas no roteiro Noah Baumbach conseguiu unir o útil ao agradável em revelar e descancarar um tema pouco falado e abordado nos cinemas que são essas relações entre casais, gerações e também como fazemos para tocar nossas vidas. Um bom filme, com uma excelente fotografia. Vale muito à pena assistir e também refletir sobre esse combate entre a geração X e Y e até que ponto vale ser “pós-moderno”. E como diz a música de David Bowie “Golden Years” que encerra o filme “Não me deixe te ouvir dizer que a vida está te levando para qualquer lugar, anjo”.

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