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Publicado: Segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Embriagado de Amor

Embriagado de Amor

Quando você vê “Embriagado de Amor” pela primeira vez, a primeira coisa que vem na sua cabeça é: “Mais um filme do Adam Sandler?”. Mas não! A um diferencial. Ele é dirigido pelo Paul Thomas Anderson, um diretor que sabe o que faz e pode-se dizer que como “Scorsese” ele coloca suas mãos no projeto e se reinventa novamente como o próprio filme, que vai tanto com elenco, fotografia, produção e a própria direção.

Antes de ele fazer “Embriagado de Amor” P.T.Anderson fez dois excelentes filmes (de roteiros originais) “Boogie Nights” e “Magnólia” que colocaram o nome dele como melhor diretor em festivais ao redor do mundo. E a licença poética para ele fazer o que quer você percebe bem no próprio filme, que é inteligente, emotivo e sincero, ou seja, a própria alma do “Embriagado de Amor”. Apesar de parecer bizarro o andamento da trama, que para quem conhece a filmografia do P.T.Anderson sabe como ele gosta de mesclar vários elementos como referencias, uma não-linearidade nas historias e uma trilha sonora que deixa o espectador sempre tenso, visto por “Boogie Nights”.

Começo destacando o papel de Adam Sandler. Estamos acostumados a ver ele em filmes de comedia escachada como “O Paizão”, “Gente Grande” e o péssimo “Cada um tem a gêmea que merece”, claro tendo destaques como “Ta rindo do que?”, ”Click” e ótimo drama “Reine sobre mim”. Mas nesse filme Sandler está totalmente diferente do habitual encontramos um homem com problemas de agressividade, ele não sabe muito bem o quer da vida, mas mesmo com todos esses defeitos ele consegue nos cativar por ser um personagem real e pouco convencional para um tipo de gênero que é “Comedia Romântica”, mas como eu disse, o filme tem um diferencial “Paul Thomas Anderson”.

O filme conta a historia de Barry Egan (Adam Sandler) um homem que tem seu próprio negócio de desentupidor de pias e mora em Los Angeles. Um dia uma van deixa um pequeno piano em frente a seu trabalho, e Barry fica com ele.

Quando volta a sua loja, você percebe como a câmera em ângulos fechados pega o ambiente de Barry que é sempre claustrofóbico. Tanto no começo do filme onde aparece Barry fazendo uma ligação para falar de milhas aéreas, a câmera é afastada e o deixa sozinho no cenário dando um sentimento de solidão, depressão e angustia. Barry é a ovelha negra da família, ele tem 7 irmãs que sempre tentam arranjar alguém para ele ou ficam lembrando do passado. Esse sentimento nostálgico sempre deixa Barry zangado. Em uma cena onde sua família liga repetidamente para o seu trabalho, você vê pela sua expressão a frustração de não deixa-lo em paz, quando ele chega à casa de uma das suas irmãs a família está falando dele. E imediatamente ele tem uma explosão e quebra os vidros da sala, a cena que segue dele falando com o seu cunhado de como ele é triste o tempo todo e sempre chora, e o cunhado fala para ele: “Barry eu sou um dentista como você acha que posso te ajudar” é sensacional como ele sai da cena chorando, e a expressão de assustado do cunhado resume a cena que diz “Ele não pode contar com a família”.

Barry aos poucos começa a mudar. Ele se mete em problemas como, uma gangue do telefone erótico aonde ele liga e no dia seguinte ele é ameaçado a depositar uma quantia de dinheiro, e depois ele conhece Lena Leonard (Emily Watson) e começa a ter um romance com ela. Você sente como ela o muda e como ela o aceita, quando eles estão na cama Barry diz: “Você é tão linda. Eu te amo tanto que quero destruir sua cara com uma marreta.” E invés de Lena ficar assustada ela fala: “Amo você tanto que quero arrancar meus globos oculares e chupá-los e depois dar um soco nas suas bolas.”

É esse amor irracional, burro e estranho que é explorado no filme. O interessante é como as mudanças são bem sutis e hilárias como a conversa que Barry tem com Dean Trumbell (Philip Seymour Hoffman) onde os dois se ameaçam. Esse tipo de humor negro é que está sempre presente nos filmes de P.T.Anderson e uma característica de Barry.

Talvez “Embriagado de amor” nunca alcance o que outros filmes de Anderson alcançaram, ainda mais por “Sangue Negro” que não é só um filme, e sim uma obra de arte.

Mas como Barry o filme de primeira pode não ser entendido e mal compreendido na maioria das vezes, mas depois você observa e sente que por trás de tanta raiva se esconde uma personalidade real, sincera e muito carismática.

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