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Publicado: Quinta-feira, 28 de outubro de 2004

Em guadalajara, no México

Retornei, dias atrás, do México. Sempre considerei uma graça de Deus poder conhecer outros povos. Em 1976 já havia visitado a Cidade do México, a maior metrópole da América e, parece, do mundo. São 17 milhões de habitantes que chegam a 22 milhões, levando em conta toda a região integrante do Distrito Federal.

Dia 08 de outubro, como diretor espiritual de um grupo de peregrinos que ajudei a constituir, partimos de Guarulhos para o grande país irmão. Foram dez dias percorrendo a Capital, visitando as grandes pirâmides do sol e da lua, pré-colombianas, Puebla, Quaretaro, São Miguel de Allende e Guadalajara. O objetivo principal da nossa viagem foi a participação no 48o Congresso Eucarístico Internacional, em Guadalajara, Estado de Jalisco.

Em 1955, padre ainda novo, pude participar do Congresso Eucarístico Internacional realizado no Rio de Janeiro. Nenhum cenário natural poderá ser igualado ao da então capital do Brasil. Dom Jayme de Barros Câmara, Cardeal Arcebispo teve na pessoa de seu auxiliar, Dom Helder Pessoa Câmara, o seu braço direito na organização e realização daquele Congresso, primeiro e único realizado no Brasil.

Em 1992, Bispo Coadjutor de Jundiaí, pude participar do Congresso Eucarístico Internacional realizado em Sevilha, na Espanha e, em 1996, do de Wroclav, na Polônia. Foram grandes eventos na vida da Igreja, centrados sempre na reflexão, culto e exaltação de Cristo, real e misteriosamente presente na Eucaristia, sacramento de sua perene permanência na Igreja e no Mundo.

Neste mês de outubro, já sem as responsabilidades maiores no pastoreio e administração da Diocese de Jundiaí, empenhei-me na organização de um Grupo de Peregrinos amigos. A Agência de Viagens Itiquira, de São Paulo, foi exemplar na solução dos numerosos problemas e providências que uma viagem ao exterior sempre exige: hotéis, ônibus, viagens, visitas, documentação, etc. Presto a minha homenagem especialmente à simpática Reni Magliozzi, dedicadíssima e incansável agente de viagens que nos acompanhou.

Os Congressos Eucarísticos Internacionais, vieram se realizando desde o fim do século XIX, até este ano, a cada quatro anos, menos durante as duas Grandes Guerras do século passado. Os primeiros foram na Bélgica, em Lille, seguidos de dezenas de outros na França, Itália, Espanha e outros continentes como o realizado em Nova Delhi, Índia, com a presença do Papa Paulo VI. São eventos que envolvem toda a Igreja, à qual foi confiado o dom e o sacramento da Eucaristia que pereniza entre nós, até o segundo advento de Cristo, a sua real e confortadora presença no Pão e no Vinho consagrados.

Não foi possível ao nosso Grupo de Peregrinos estar em Guadalajara, segunda cidade do México, com quatro milhões de habitantes, entre os dias 09 e 12 quando o Congresso já havia sido aberto no Estádio de Jalisco, com importante programação diária no Centro de Convenções ExpoGuadalajara, para pelo menos 15 mil pessoas. Perdemos, também, a tradicional Procissão da grande e histórica cidade até o Santuário mariano de Nossa Senhora de Zapopan, distante oito quilômetros. Dela qual participaram, segundo os jornais, cerca de três milhões de fiéis! Nosso Cardeal Dom Cláudio Hummes presidiu a Eucaristia que precedeu o início da grandiosa manifestação de fé dos mexicanos.

Acomodados no Hotel Fiesta Inn, a algumas quadras da ExpoGuadalajara, participamos de várias solenes Eucaristias e de oportunas Catequeses feitas por Cardeais. Na tarde do dia 15 de outubro estávamos no encontro dos peregrinos de língua portuguesa na Paróquia de Santo Henrique. Em mais de uma noite participamos, na Praça da Independência, atrás da imponente Ópera no centro de Guadalajara de apresentações folclóricas latino-americanas.

Os momentos culminantes do Congresso foram a solene Concelebração Eucarística, na Esplanada dos Arcos, presidida pelo Cardeal japonês Stephen Fumi Hammao, seguida da Procissão Eucarística que percorreu seis quilômetros, da Avenida Vallarta até a Praça da histórica e feérica Catedral. Indescritível o fervor religioso de mais de um milhão e meio de fiéis mexicanos de todas as idades e classes sociais. Os cerca de 400 Cardeais, Arcebispos e Bispos, milhares de sacerdotes, seminaristas e religiosas ouvimos, literalmente, milhões de vezes a aclamação: “Se ve, se sente: Jesus está presente! Vê-se e sente-se: Jesus está presente!”. Um grande e precioso ostensório levava o Santíssimo Sacramento em meio à multidão, até o centro histórico de Guadalajara, encerrando-se o evento eucarístico mais solene de que já participei em minha vida, com a bênção dada pelo Cardeal Josef Tomko, Legado Pontifício.

Domingo, dia 17, pelo menos 80 mil fiéis lotaram o Estádio Jalisco para a Missa de encerramento do Congresso. Foi geral a aclamação quando o Papa João Paulo II saudou, da Basílica de São Pedro, em Roma, os peregrinos, declarando o início do Ano Eucarístico para toda a Igreja, destacando a mensagem do lema do Congresso Eucarístico Internacional – “A Eucaristia, Luz e Vida do Novo Milênio”. O Sucessor de Pedro antecipou, também, que o próximo Congresso deverá realizar-se no ano 2008, na cidade canadense de Quebec.

Os peregrinos da Diocese, particularmente de Itu, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, os Arcebispos e Bispos brasileiros que vivemos aqueles dias do Congresso, retornamos ao Brasil convencidos de que os 80 milhões de católicos mexicanos devem ser tidos talvez como os mais fervorosos da Igreja. Mais uma vez, confirmou-se a conhecida expressão do grande Tertuliano, no fim do século III: “O sangue dos mártires é semente de novos cristãos!”. Depois da Revolução Bolchévica de 1917, comunista e atéia, o México foi a primeira nação marxista no Ocidente. Na década de 1930, o Presidente Calles perseguiu, torturou e fuzilou centenas e centenas de sacerdotes e fiéis daquele país irmão da América do Norte. Estatizou todos os bens da Igreja Católica, levando-a à clandestinidade. Purificada pelo sangue dos seus mártires a comunidade católica mexicana tornou-se fervorosa, dando ao mundo um belo exemplo de fidelidade a Cristo e à Igreja. Nossa Senhora de Guadalupe, cuja nova e moderna Basílica é visitada anualmente por mais de dez milhões de fiéis, filialmente chamada de “Madrecita”, protege os Pastores, multiplica as vocações sacerdotais e religiosas e abençoa a nação. Ela transformou o México, dando-lhe, ultimamente, plena liberdade religiosa e governantes católicos, respeitosos dos cinco séculos de uma história marcada pela fé e devoção da grande comunidade católica

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