Publicado: Segunda-feira, 31 de julho de 2006
Em defesa dos sapos, rãs e outros batráquios
Nem Toscanini consegue um uníssono tão perfeito como aquele que ouvimos em regiões lacustres, entoado por dezenas e às vezes centenas de rãs. Se o leitor prestar atenção, notará que o coro não começa como uma orquestra. Duas ou três rãs marcarão o ritmo inicialmente e, aos poucos, as demais se agregarão. Com este truque dispensam o maestro. E quem não se maravilhou com aquelas pererecas arbóreas que entoam solitárias suas baladas, ou com o sapo martelo e suas estridentes "pancadas"? Enfim, batráquios, para nós brasileiros, são, antes de tudo, animais seresteiros. Assim, enquanto os sons da natureza durante o dia são devidos principalmente aos pássaros, à noite são os batráquios que se encarregam da sinfonia.
Há uma outra evocação que essa subclasse desperta. Várias espécies do gênero Rana constituem deliciosa iguaria. Sob este aspecto não ficam nada a dever a seus competidores, os pássaros. Como decidir entre uma rã "a la provençale" e um faisão "a la bordelaise". Aprendemos, também na escola, que não devemos perseguir os sapos e seus parentes, pois são extremamente úteis ao homem como insetívoros, no que também competem com os pássaros. Entretanto, se o leitor procurar informações em algum compêndio corrente de Zoologia, ficará surpreso ao ver que esses animais são considerados genericamente como venenosos. Embora existam algumas espécies de sapos e rãs extremamente agressivas, capazes de morder, não usam a boca para envenenar o inimigo. Nem sequer usam a peçonha contra uma presa, como fazem as cobras. O veneno se localiza em glândulas imediatamente sob a pele. A peçonha serve, portanto, como uma defesa passiva. Quase todos os anfíbios secretam, desta maneira, veneno em sua pele. Apenas algumas espécies são muito mais eficientes que outras pois, basta um miligrama de veneno do sapo vulgar do gênero Bufo, que todos nós temos em nossos quintais, para matar um cão. Presumo que essa quantidade se refere à neurotoxina purificada, que é a principal componente do veneno dessa espécie. Alguns autores afirmam que há uma variedade de outras toxinas, inclusive algumas de características citolíticas, que estão incluídas no fétido líquido, contido nas volumosas glândulas situadas próximas dos olhos do sapo comum.
Eu estou convencido, que o estratagema do sapo é mais amplo. Como as borboletas, que conseguem um quase completo salvo-conduto graças ao sabor repulsivo, o sapo inclui em seu líquido venenoso substâncias nauseabundas. E é isto que salva sua vida dos cães, que se põe imediatamente a vomitar antes de engolir a peçonha. Nenhum cachorro morde duas vezes um sapo. Mas conta-se que o "proscius" americano, o "racoon", em desespero, talvez, esfrega o sapo na areia até limpá-lo do veneno e o come. Tudo é possível. A neurotoxina encontrada sob a pele de tantos batráquios é uma proteína complexa que produz efeitos semelhantes àqueles ocasionados pela digitalina. O paciente morre com uma excessiva aceleração cardíaca e descontrole motor generalizado.
Pouco se sabe sobre a verdadeira eficiência do veneno dessas visualmente atraentes espécies, a maioria das quais é de hábitos arbóreos. Mas a maioria dos autores reconhece que o veneno secretado por estas rãs é muito provavelmente o mais potente dentre os que são produzidos por animais. O episódio revelado pelo ecólogo Ruschi, que teria sido contaminado por uma dessas espécies há aproximadamente dez anos, tendo ficado com uma lesão progressiva no fígado, parece contrariar, em certa medida, os conhecimentos correntes sobre o assunto.
Não devemos, entretanto, consentir que este caso esporádico produza preconceitos adversos como os existentes contra aranhas e comunistas em nossa sociedade. Em primeiro lugar, porque o veneno dos batráquios em geral é usado passivamente, ou seja, apenas quando o espécime é engolido ou tocado. Em segundo, porque as únicas espécies verdadeiramente perigosas para o homem, são raras e anunciam com seu exótico colorido sua periculosidade. São, no máximo, setenta espécies entre duas mil. Assim, com exceção dos pássaros dentre os vertebrados, não há classe menos perigosa para o homem do que os anfíbios.
Há uma outra evocação que essa subclasse desperta. Várias espécies do gênero Rana constituem deliciosa iguaria. Sob este aspecto não ficam nada a dever a seus competidores, os pássaros. Como decidir entre uma rã "a la provençale" e um faisão "a la bordelaise". Aprendemos, também na escola, que não devemos perseguir os sapos e seus parentes, pois são extremamente úteis ao homem como insetívoros, no que também competem com os pássaros. Entretanto, se o leitor procurar informações em algum compêndio corrente de Zoologia, ficará surpreso ao ver que esses animais são considerados genericamente como venenosos. Embora existam algumas espécies de sapos e rãs extremamente agressivas, capazes de morder, não usam a boca para envenenar o inimigo. Nem sequer usam a peçonha contra uma presa, como fazem as cobras. O veneno se localiza em glândulas imediatamente sob a pele. A peçonha serve, portanto, como uma defesa passiva. Quase todos os anfíbios secretam, desta maneira, veneno em sua pele. Apenas algumas espécies são muito mais eficientes que outras pois, basta um miligrama de veneno do sapo vulgar do gênero Bufo, que todos nós temos em nossos quintais, para matar um cão. Presumo que essa quantidade se refere à neurotoxina purificada, que é a principal componente do veneno dessa espécie. Alguns autores afirmam que há uma variedade de outras toxinas, inclusive algumas de características citolíticas, que estão incluídas no fétido líquido, contido nas volumosas glândulas situadas próximas dos olhos do sapo comum.
Eu estou convencido, que o estratagema do sapo é mais amplo. Como as borboletas, que conseguem um quase completo salvo-conduto graças ao sabor repulsivo, o sapo inclui em seu líquido venenoso substâncias nauseabundas. E é isto que salva sua vida dos cães, que se põe imediatamente a vomitar antes de engolir a peçonha. Nenhum cachorro morde duas vezes um sapo. Mas conta-se que o "proscius" americano, o "racoon", em desespero, talvez, esfrega o sapo na areia até limpá-lo do veneno e o come. Tudo é possível. A neurotoxina encontrada sob a pele de tantos batráquios é uma proteína complexa que produz efeitos semelhantes àqueles ocasionados pela digitalina. O paciente morre com uma excessiva aceleração cardíaca e descontrole motor generalizado.
Pouco se sabe sobre a verdadeira eficiência do veneno dessas visualmente atraentes espécies, a maioria das quais é de hábitos arbóreos. Mas a maioria dos autores reconhece que o veneno secretado por estas rãs é muito provavelmente o mais potente dentre os que são produzidos por animais. O episódio revelado pelo ecólogo Ruschi, que teria sido contaminado por uma dessas espécies há aproximadamente dez anos, tendo ficado com uma lesão progressiva no fígado, parece contrariar, em certa medida, os conhecimentos correntes sobre o assunto.
Não devemos, entretanto, consentir que este caso esporádico produza preconceitos adversos como os existentes contra aranhas e comunistas em nossa sociedade. Em primeiro lugar, porque o veneno dos batráquios em geral é usado passivamente, ou seja, apenas quando o espécime é engolido ou tocado. Em segundo, porque as únicas espécies verdadeiramente perigosas para o homem, são raras e anunciam com seu exótico colorido sua periculosidade. São, no máximo, setenta espécies entre duas mil. Assim, com exceção dos pássaros dentre os vertebrados, não há classe menos perigosa para o homem do que os anfíbios.
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