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Publicado: Domingo, 9 de novembro de 2008

Em defesa de um Administrador Injuriado

Crédito: Google Imagens Em defesa de um Administrador Injuriado

Creiam-me: José Denárdio da Figueira Paranhos é inocente. A acusação maldosa de que tem sido vítima explica-se pela indisfarçável inveja de seus adversários, em face do que fez e ainda fará por nossa terra.

 

Imputam-lhe como crime a compra de 2,5 toneladas de canjica sem licitação. Ora, senhores, não estamos falando de concorrência pública para aquisição de mísseis, turbinas para hidrelétricas, cápsulas espaciais e outros itens de pouca importância e custo unitário irrisório, tão irrisório que a própria sociedade se envergonharia em investigar os meandros de compra. Falamos de canjica e seus essenciais derivados, e do caos que poderia advir com sua escassez. Daí ser plenamente justificada, neste caso, a dispensa de licitação, até porque um único fornecedor demonstrou suficiente competência técnica no manejo e distribuição do insumo precioso aos entrepostos públicos.

 

E como é precioso. Dentre miríades de aplicações cotidianas, podemos citar a farinha de canjica enriquecida com ferro, vitaminas e ácidos graxos, comprovadamente mais eficaz que o óleo de fígado de bacalhau no combate às hipovitaminoses A e D. A canjica em flocos, processada, embalada e distribuída simultaneamente pela Canjesp, Canjerj, Canjemg, Canjesc e Canjenorte às escolas de suas respectivas redes de ensino, com ação clinicamente demonstrada no incremento da memorização de números de telefone, incluindo DDD e independente do prefixo da operadora. (E aqui abro um parêntese para louvar a canjica como instrumento de integração nacional e de desenvolvimento de nossas telecomunicações).

 

Continuando, citemos a canjica em pasta, que utilizada em conjunto com a fécula de mandioca gera poderoso grude para colagem de pipas, papagaios, pandorgas, maranhões e outras incontáveis denominações popularmente atribuídas a esse artefato tão estimado pela gurizada. Temos ainda a canjica moída e desmembrada em suas moléculas e átomos, recentemente aprovada pelo Ministério dos Esportes para utilização como antiderrapante em barras assimétricas. E, logicamente, a canjica in natura, largamente empregada como substituta do feijão para marcar os números sorteados nas cartelas dos bingos devidamente regularizados.

 

Tão rica é em possibilidades esta nossa glória verde e amarela que nada menos de 14 laboratórios farmacêuticos multinacionais pelejam junto à OMS a quebra de sua patente, argüindo como justificativa os bilhões de potenciais beneficiados ao redor do globo com seu manancial de utilizações farmacológicas – incluindo-se aí um revolucionário tônico para calvície e um regularizador de disfunção erétil capaz de deixar o azulzinho Viagra vermelho de vergonha.

 

Tecidas estas considerações, destaco também em defesa de José Denárdio seus inequívocos sinais exteriores de pobreza, ou de empobrecimento lícito, como a posse de um tupperware rachado e colado com durex e a constatação de um taco solto em sua sala de estar, com um volante da loteria esportiva de 1973 servindo de rejunte provisório – ou permanente, pela longa data da gambiarra. A única, aliás, que o incorruptível caráter do acusado poderia conceber. Coragem, José Denárdio, mantenha a cabeça erguida. A história lhe fará justiça.

 

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