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Publicado: Segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Eles Sabiam de Tudo

Eles Sabiam de Tudo
Escultura de Antonio Conrraddini

Eles sabiam de tudo. Ninguém é inocente. Não nesta eleição. Está tudo certo. São as pessoas que estavam escondidas se esforçando para aguentar o primo gay, o cunhado negro, a irmã diretora da empresa, e por aí vai.

Ele não escondeu nada de ninguém; é o candidato mais honesto. Ninguém é inocente. Eles sabiam o que estavam fazendo quando votaram. Sabiam exatamente o que faziam! São pessoas que não se viram representadas nos últimos anos e que morrem de medo do moderno, do novo. Natural. Isso é natural, gente! É democrático.

Eles sabiam que o Paulo Guedes é o PC Farias dele; sabiam que o objetivo é vender todas as empresas brasileiras do governo para empresas internacionais grandes, como já abertamente declarado. Assim eles acreditam que seja possível gerar mais empregos e salvar o país, entregando nosso capital financeiro, intelectual e estratégico de defesa da pátria.

Eles sabiam que o projeto de governo dele prevê mais reduções de direitos trabalhistas para buscar o equilíbrio financeiro do governo sem onerar as empresas. Ele não escondeu de ninguém.

Eles sabiam que o interesse pessoal e governamental dele é fazer de tudo para extinguir qualquer expressão de ativismo, seja por um planeta melhor ou por cota de mulheres na política.

Eles sabiam que a meta dele é conseguir mais resultados alterando a constituição, se for necessário.

Eles sabiam que terão os filhos “protegidos” dos homossexuais pois ele criminalizará manifestações de gênero em ambientes públicos.

Eles sabiam que é importante ter uma arma em casa para o ladrão nem cogitar entrar. Sabiam que ter uma arma significa ter autonomia para usá-la. Como sabem que é a arma que “garante a ordem” nas favelas.

Afinal, como indivíduos elegemos outras pessoas para nos governar não só por uma obrigação do sistema, mas por vermos no outro a figura paterna de governança; vemos alguém que fará o “trabalho sujo”.

Votamos naqueles que representam proteção aos nossos interesses. Isso significa que não tem ninguém santinho dizendo que fez por um ou outro motivo; fez pelo todo. E não há problema nisso, pois ainda vivemos em uma democracia com uma constituição interessante. AINDA!

O problema está exatamente no fato de ser cada vez mais forte um sentimento de rejeição à democracia. Esse defender de direitos que ferem os direitos do outro. Isso está forte. O brasileiro não conseguiu avançar sua percepção diplomática.

Ele próprio, sendo o mais votado, e tendo seus filhos como mais votados, questiona integridade da urna eletrônica. É saudável e importante questionar, mas perigoso não respeitar.

Como escreveu Kennedy Alencar: “Ele tem dificuldade em conviver com a democracia”.

Tempos difíceis.

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