Elegia ao elogio
Um dia desses, em um estabelecimento financeiro, ao atender-me, uma funcionária disse-me que pela manhã em sua casa, lembrara-se de mim, isto porque vestira o mesmo traje que ao usa-lo pela primeira vez, eu lhe dissera que estava muito elegante. Sorri-lhe e pensei cá com meus botões que na verdade, eu é que estava agradecido, pois através de um mero elogio, estava eu em sua memória, uma pessoa que, respeitosamente, me é cara.
Elogiar o próximo, seja qual for a circunstancia, é muito bom mesmo, desde que, nem exagerado, nem gratuito.
Durante minha vida, convivi com muitos chefes, que, neste particular, utilizavam métodos bem distintos. Houve um que, fazia-o por escrito, em meus próprios relatórios a ele encaminhados. Outro que a sua maneira de elogiar consistia em não ir à minha sala de trabalho o que, felizmente, fez poucas vezes, o que não impedia de quando possível, eu ir à sua própria sala e lá termos longas e frutíferas conversas sobre o trabalho e outros interessantes assuntos.
Tive um chefe, presidente de uma grande corporação que sua forma de elogiar era a de convocar-me à sua sala e me fazer ouvir em silencio seu despacho com sua secretária, dando cumprimento a uma recomendação de uma auditoria que eu fizera ou comandara.
Quando mais jovem, fiz às vezes de secretário de um diretor industrial de uma grande e bela empresa. Ele me instava, a chamar determinado chefe ou encarregado, e pelo tom de sua voz, identificava com antecedência se daí iria advir ao convocado um elogio ou ira “rolar”, “chumbo grosso”.
Aprendi muito com essa gente toda. Felizmente, a maioria, eram grandes profissionais, cada um com seu próprio estilo, e foram poucos os casos em que se tratava de pessoas pouco qualificadas, inexperientes, ou despreparadas, para elogiar ou criticar na medida certa. Destes, lembro-me particularmente de um, que paradoxalmente, fazia questão de ao mesmo tempo informar ao funcionário que estava concedendo um aumento de salário, e aproveitar para dar uma “ensaboada” quanto a seu desempenho.
Como todos sabemos, o criticar é realmente muito fácil e há formas mais ou menos pertinentes, elegantes, desejáveis e toleráveis. Todavia, já o elogio, requer mais habilidade e talvez mesmo concessão. Muitas vezes, perdemos ótimas oportunidades para elogiar o próximo, seja como chefe, companheiro ou mesmo subordinado. Mas não é apenas no trabalho que devemos nos preocupar com tais princípios. Tal deve ser válido, em nossos lares, e no nosso convívio com as pessoas em geral.
Outro dia, soube que um amigo, encontrava-se algo deprimido com uma atividade que exerce, voluntariamente, em uma entidade filantrópica. Escrevi-lhe um e-mail, através do qual, elogiei seu desempenho, observando que ele era muito importante naquele meio, pois contribuíra notavelmente naquela instituição.
Afinal, quem de nós não gosta de ter o ego massageado, quando merecido? Tanto nas pequenas, quanto nas grandes coisas, vida afora.
Portanto, se o querido (a) leitor (a), me permitir uma breve recomendação, lembre-se que durante sua existência terá ótimas oportunidades de consignar na memória do próximo um justo elogio de forma tão indelével que possa com alguma sorte ter tal, mesmo ser registrado num escrito qualquer.
Dedico este artigo a Cleanor Cristófani, um dos melhores contadores com quem tive o privilégio de trabalhar e aprender.