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Publicado: Sábado, 24 de novembro de 2012

Ele foi meu professor

Crédito: Revista Campo & Cidade Ele foi meu professor
Prefeito Olavo Volpato, Antenor Fruet (diretor), Renato Luciani e frei Agostinho.

Desde a década de 1980 leciono uma disciplina ou outra, aqui e ali.

Sempre estive presente nas salas de aula como aluno e como professor, mas nunca fui exclusivamente professor. Sempre desempenhei outras profissões para sobreviver, mas sou um apaixonado pela educação e entendo que a educação é a única forma de se construir um Brasil melhor. Quero dar a minha contribuição.

Comecei lecionando no Junqueira Ortiz que foi uma escola técnica de contabilidade. Ali, apaixonei-me pela docência e dela não me separei mais. Pudera, a escola reunia funcionários e mestres de altíssimo valor, como a professora Marta, o professor Abede, o professor Tito e tantos outros. Eu era o professor caçula e me orgulhava de estar entre eles.

Foram muitas as dificuldades. A escola não tinha sede própria e vivia mudando-se daqui prá lá e de lá prá cá. Em certa ocasião, lembro-me que fomos obrigados a usar umas salas de aula emprestadas do Regente Feijó. Mas não tinha sala para todos e eu acabei dando aula para minha turma num dos corredores do Regente. Claro que, com a concordância dos alunos que queriam aprender de qualquer forma.

Velhos tempos, belos dias. Os professores queriam ensinar e os alunos queriam aprender. Que diferença para os dias de hoje, quando o desrespeito ao professor, as agressões verbais e físicas, os enfrentamentos, as palavras chulas, tomam conta do cotidiano escolar.

Nunca fui afrontado ou agredido por um aluno e fico espantado com os relatos dessas ocorrências hoje em dia.

Lembro-me com saudade do meu primeiro dia de aula no Junqueira Ortiz, que foi também o primeiro dia em que dei aulas da minha vida. Ainda era um garoto, inexperiente de tudo, inseguro para falar em público, fui apresentado à sala pelo professor Antenor Fruet, de saudosa memória, que era então o diretor da escola. Feita a apresentação, o diretor retirou-se da sala e eu fui entregue as feras.

Sozinho, pela primeira vez, em frente à uma plateia de mais de cinquenta alunos adolescentes, comecei gaguejando uma apresentação que tinha preparado em frente ao espelho, em observação às melhores técnicas de oratória. Estava indo bem, até a hora em que falei que era de Itu, e que, portanto, a maioria dos alunos deveria me conhecer, já que todos eram também de Itu. Nesse momento, um aluno (o Joãozinho das piadas de professoras), levantou-se e disse: pois eu sou da Bahia. Riso e algazarra geral. Respirei fundo, esperei a classe voltar a normalidade e emendei: você leva todo jeito. Riso e algazarra geral. Estávamos empatados. Magoou-me muito a ofensa preconceituosa que dirigi aos nordestinos, povo pelo qual tenho o maior respeito, mas foi o que me veio na mente naquele momento de opressão. Nunca mais tive problema nesta sala de aula, com o “baiano”, ou com qualquer outro aluno.

Muitos alunos passaram pelas minhas classes, e vez por outra encontro alguém que me diz: você foi meu professor. Sinto um orgulho imenso, mesmo sabendo que não sou o melhor dos mestres, mas tenho me esforçado para melhorar. Continuo estudando, agora como mestrando em Educação, para ser um professor melhor.

Agora, um fato inédito aconteceu hoje: estava eu aguardando o inicio de uma palestra de um profissional internacional, num grande hotel da nossa cidade. Foi quando, a gerente de eventos do hotel, tomou o microfone e dirigindo-se ao público, disse apontando para mim: ele foi meu professor.

Fui tomado de um orgulho sem tamanho e os mais próximos disseram que eu fiquei ruborizado. Muito obrigado pela lembrança querida aluna. Fico feliz em vê-la desempenhando um cargo tão importante e com tanta competência, e feliz em saber que contribui com um pedacinho desse sucesso. E que juntos contribuímos com a nossa cidade e com o nosso Brasil.
 

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