Publicado: Quinta-feira, 27 de setembro de 2012
Educação: a mão à palmatória
Cento e sete alunos do Colégio Rio Branco, em São Paulo, se manifestaram contra as câmeras de vigilância instaladas nas salas de aula, se recusando a entrar nelas.
O grupo entendeu que sua privacidade foi invadida, além de não ter sido avisado com antecedência sobre a instalação dos artefatos, e da direção não atendê-lo.
Os alunos foram punidos com um dia de suspensão. De acordo com o regimento da escola, os estudantes que não assistem as aulas podem ser punidos com até cinco dias de suspensão.
O episódio me fez lembrar de muitas coisas. Da mordaça imposta pela ditadura militar; dos pais descontentes com uma greve de professores, que sugeriram que ela fosse realizada durante as férias escolares; do discurso de “educar para a cidadania”; da arbitrariedade na aplicação de conceitos e penas.
Os conceitos de cidadania e democracia vieram da Grécia. Cidadania se refere aos direitos relativos ao cidadão, que não deveria apenas morar na cidade, mas, também, agir ali. Ao longo da história o conceito foi ampliado e relacionado ao de democracia, que tem na participação dos indivíduos sua principal característica.
A concepção de educação no século 21 está intimamente ligada às de liberdade, democracia e cidadania. A educação não pode preparar nada para a democracia, a não ser que também seja democrática.
Jamais ouvi um diretor de escola no Brasil, afirmar que não prepara seus educandos para o exercício pleno da cidadania que prevê, inclusive, a livre manifestação.
O Colégio Rio Branco – um dos mais tradicionais da capital paulista – foi, no mínimo, arbitrário. Oferece uma educação “para a cidadania” e pune os que dela fazem uso.
Para piorar seu desempenho, taxou os manifestantes como “cabuladores de aula”, enquadrando-os num regulamento que pune a fuga das aulas com menos aulas ainda.
Talvez a “tradição” faça a diferença. Vá entender.
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