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Publicado: Sábado, 14 de dezembro de 2013

E ontem, como era?

Estava-se em meio a mais um dos congressos anuais de marketing católico, ainda ao tempo da direção espiritual do Bispo de Santo Amaro, Dom Fernando Figueiredo.

Desta vez, escolhida a capital, Fortaleza.

Esse período coincidiu com a despedida do Cardeal Dom Cláudio Hummes, titular daquela Arquidiocese, então transferido para São Paulo. Por sinal, que sua Eminência, logo em seguida, em face de seus atributos e qualidades, foi  designado a importante posto junto aos Cardeais sediados em Roma, missão que desempenha até os dias atuais.

Coube então a Dom Cláudio, especialmente convidado, na mesma ocaisão, proferir a aula inaugural daquele magno evento.

De toda sua proveitosa prédica, entre outros, sejam agora relembrados alguns tópicos, sabidos, mas sobre os quais nem sempre se reflete.

 O eminente Prelado, em tom saudosista e algo melancólico, dizia que as Igrejas, em geral instaladas em área central das cidades, aos poucos perdiam sua influência. As torres, por altas que fossem, ofuscadas por entre os edifícios.

E ontem, como era?

Antes, tudo muito diferente.

Agora, nem o badalar dos sinos se escuta. Um pouco por causa dos ruídos, agitação de atividades próximas, como até porque muitos toques referenciais foram suprimidos, quando não silentes de vez.

Os sinos eram meio de contato e aviso aos moradores. Primeiro, as horas com suas marcas intermediárias, que se dividiam em sons próprios. De quinze em quinze minutos. As catedrais, basílicas e sedes de paróquias iam muito além, ao anunciar inclusive os óbitos, em sonoridade plangente. Até sinistros de monta, tinham seu brado de alerta, sobretudo nas madrugadas, em casos de incêndios. Agora, não mais, lamentava.

 Os templos católicos de expressão perderam essa influência pitoresca e sadia, que atingia o objetivo de congregar e fazê-los mais unidos e reunidos, os católicos, bem como a população em geral.

Destarte, conceda-se a ousadia de aduzir notas correlatas à digressão do brilhante orador, como fatos notórios nessa mesma linha de evasão dos fiéis. Ela se opera de há muito e lenta, mas progressivamente.

Até se ampliar a participação do celebrante nas missas, antes rezadas de costas para os presentes e em latim, considerem-se medidas de avanço e inclusão no âmago das orações, rezadas e compreendidas nas suas finalidades.

Ninguém segura, de outro lado, ao longo dos anos, a evolução de hábitos e comportamento, avanço técnico, alterações gradativas adotadas no laicato e pela Igreja também.

Essa constatação gera algumas questões.

Quem consegue hoje ver filas para confissões, comuns nos sábados à tarde.

Senhoras se aproximavam para receber a comunhão somente se cobertas de véu significativo e apropriado. Banalidade de hoje, o uso de calças compridas nessa hora e não raro com vestes inadequadas, a ponto de a feminilidade estar bem diluída, se não descaracterizada até.

Existia a mesa de comunhão, em que todos recebiam a Eucaristia, o padre de um lado e os fiéis de outro, estes genuflexos,  acomodados em fila horizontal.

O jejum prévio, extremamente simplificado, para a observância mínima de somente uma hora.

As bênçãos do Santíssimo, após o escurecer, conhecidas como “rezas”, por que acabaram? O seu horário aos sábados à noite cederam vez à missa de preceito, que só valiam para os domingos. E assim por diante.

Ficam uma certeza e uma dúvida:

Tais concessões e metamorfoses estão aceitas e consumadas.

Mas valeu mesmo a pena?

Catedrais e templos cristãos de envergadura, quase sempre vazios.

Catedrais, no tempo moderno, capazes de atrair público sem fim, são na verdade os “shoppings”, que se multiplicam e empolgam, com incrível volúpia e velocidade.

O povo, de todas as greis e religiões, está ali.

O consumismo, a fatuidade e a irreverência movem o mundo.

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