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Publicado: Segunda-feira, 10 de agosto de 2009

E o reino?

Fazei-nos, Senhor, construtores de vosso Reino!
 
Ninguém que participa das nossas Celebrações Eucarísticas desconhece as inúmeras referências bíblicas ao Reino de Deus. São muitas as parábolas que procuram descrever o Reino, através de comparações significativas (semente, tesouro, vinha...). Mas o que é, enfim, o Reino oferecido por Deus para nós, filhos amados?
 
Segundo o papa Bento XVI, Paulo tem uma das definições mais bonitas do Reino de Deus: “... é justiça, paz e alegria no Espírito Santo” (Rm 14,17). O próprio Paulo lembra que isso é agradável a Deus e desejado pelos homens, por isso devemos procurar aquilo que nos leva à paz. Observa ainda o papa que as “obras da paz” constituem uma expressão sintética e completa da sabedoria bíblica... Assim, todo “realizador de paz”, quer na comunidade cristã quer no mundo, torna-se semente do Reino de Deus que já está presente e progride para a plena manifestação.
 
Como vemos, o Reino de Deus parece o estágio final da humanidade, o verdadeiro paraíso terrestre; infelizmente ainda não conseguimos percebê-lo entre nós. Sequer temos ânimo de compartilhar o otimismo e a confiança do nosso papa. Ao contrário, o mundo nos dá argumentos até para pensar que está caminhando ao contrário, negando a prática dos valores do Reino, ou seja, cada dia pior no aspecto “plenitude da vida”.  
 
Por quê? Afinal nós não nos conformamos com esse mundo verdadeiramente dilacerado por discórdias, conflitos de interesses, disputas mortais, ganâncias, rivalidades, injustiças, ódios... um mundo triste. Ao mesmo tempo vemos que muitos não se interessam por ele e, até mesmo, o recusam; preferem um mundo à sua maneira, adaptados aos seus interesses, à sua vontade. Poderíamos dizer que o mundo está dividido entre duas propostas de reino: O Reino de Deus, que Santo Agostinho chamou de “cidade celestial”, formada pelo amor de Deus, e o Reino dos homens, que Santo Agostinho chamou de “cidade terrena”, formada pelo “amor de si mesmo”. É claro, contrárias em suas leis e em seus objetivos. Enquanto na primeira vemos até o desprezo de si mesmo, na segunda o próprio Deus é desprezado.
 
E estes dois reinos estão entre nós há muito tempo. Frutos, respectivamente, do Amor e do pecado. Reino do Bem e “reino” do Mal, sempre em duelo, com suas armas e batalhas, fazendo, ao longo da história da humanidade, cada um, seus seguidores.
 
Assim, embora Cristo insista em afirmar que ele está próximo... não o vemos soberano e definitivo.
 
O fato é que muita coisa vem postergando a implantação do verdadeiro Reino e as nossas ações, infelizmente, pouco concorrem para sua construção. Ainda são poucos os operários para a messe do Senhor, embora a Igreja reze sem cansar: “Enviai, Senhor, operários para a messe”.
 
É certo que a tarefa não é fácil, parecendo mesmo não ser para nós. Preferimos transferir responsabilidades: Onde está Deus? Será que se esqueceu de nós? Posturas anti-cristãs, de homens de pouca fé...
 
O problema é que o Reino depende da Verdade e do Amor e estes não crescem em corações fechados... Falta Deus, falta Fé, falta coragem, vontade. Faltam gestos de bondade e de caridade, faltam os trabalhos carregados de amor...
 
Deus não descansa e pede que façamos o mesmo. A semente do Reino de Deus continua a ser semeada entre nós... Deus faz brotar, crescer e frutificar, mas nós somos os meios para que isso aconteça; afinal o Reino não é para Ele, nem para seus anjos, mas para nós, seus filhos, seu povo escolhido.
 
Precisamos redescobrir a alegria de pertencer a esse Reino que se deve alargar à custa de nossa atuação como cristãos assumidos e comprometidos com ele; é necessário converter-se, viver as bem-aventuranças e cumprir a vontade de Deus Pai. Vamos trocar de cenário: saiam vaidade, inveja, poder, domínio, opressão... entrem humildade, amizade, piedade, ternura, bondade, graça...
 
Com a força motora da Fé e do amor, que crescem alimentados por Deus, seremos capazes de transformar o mundo.

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