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Publicado: Sexta-feira, 20 de março de 2009

Duas Panteras, Uma Cor-de-Rosa

Uma das coisas mais divertidas da minha infância era assistir aos desenhos da Pantera Cor-de-Rosa. Ia ao ar no horário nobre do SBT. A emissora de Sílvio Santos ficava passando o desenho minutos seguidos, até que acabasse a novela da concorrente Rede Globo. Para mim, era uma delícia.
 
O desenho em si era muito engraçado, com situações surreais. A personagem esteticamente desengonçada e o fato de só existir uma pantera daquela cor em todo o planeta, eram ingredientes a mais. Sem dizer que era preciso prestar atenção e ter uma certa capacidade interpretativa, já que a Pantera não falava e o desenho era nos moldes do antigo cinema mudo, usando muito de expressões faciais e sinais.
 
Os que hoje têm no mínimo 30 anos de idade, devem lembrar-se do desenho animado. A Pantera Cor-de-Rosa chegou até a estampar figurinhas que vinham de brinde nos salgadinhos da Elma Chips. Eram incríveis figurinhas que brilhavam no escuro.
 
Poucos sabem que a personagem surgiu mesmo foi no cinema, com a série de filmes “The Pink Panther”. Foram várias películas mostrando as trapalhadas do Inspetor Jean Jacques Clouseau. Não obstante suas gafes e manias, o detetive francês sempre acabava resolvendo os mistérios, mesmo sem querer.
 
Então, de onde veio a Pantera Cor-de-Rosa? No primeiro filme da série este era o nome de um valioso diamante indiano. Em seu interior, a jóia translúcida tinha uma mancha em forma de pantera. Na animação inicial do filme, apresentando o elenco e a equipe de filmagem, o desenho da Pantera Cor-de-Rosa apareceu e a personagem caiu no gosto de todos.
 
Muito do sucesso dos filmes “The Pink Panther” pode ser creditado a Peter Sellers, que encarnou o Inspetor Clouseau. O ator conseguiu desenvolver um belo sotaque francês e mesmo sua postura corporal lembra os nativos da terra de Napoleão.
 
Além disso, Sellers tinha uma ótima veia cômica e colaborou incrementando várias cenas. Vários “acidentes” de Clouseau (que vivia batendo o nariz em portas, caindo de edifícios, incendiando os próprios bolsos com o isqueiro e prendendo a mão em lugares impensáveis), foram imaginados pelo ator.
 
É uma pena “The Pink Panther” não ter virado uma série televisiva, pois seria ótima. Mas para ressuscitar o personagem, depois chegou aos cinemas uma versão moderna, com Steve Martin no papel principal e cuja seqüência estreou recentemente em várias salas mundo afora.
 
Martin é um ator cômico reconhecidamente de sucesso. Já fez ótimos filmes, alguns dos quais assisto sempre que posso. Também atua como humorista na televisão norte-americana e escreve crônicas humoradas para jornais e revistas dos EUA. Porém, seus méritos não me tiram o dever de frisar de que não esteve à altura de Peter Sellers no papel do Inspetor Clouseau.
 
O filme novo da “Pink Panther” é bom, vale o preço da locação. O problema parece ser que Sellers tinha uma vivência européia maior do que o norte-americano Steve Martin. E como sabemos, o que é engraçado para o europeu pode não ter graça nenhuma para o norte-americano. E vice-versa.
 
Eis a questão. O Inspetor Clouseau de Steve Martin é um bobalhão cheio de trejeitos amalucados. O ator sequer pintou sua tradicional cabeleira branca, para ficar mais parecido com o Clouseau dos filmes anteriores. Manteve preto um ridículo bigode, deixando-o a personagem descaracterizada.
 
O proeza de Peter Sellers era justamente fazer com que o Inspetor Clouseau parecesse uma pessoa real, metida em situações ridículas mas possíveis. Seu charme era parecer bobo sem ser idiota. Era fazer da confusão não a graça em si mesma, mas o elo entre personagem, enredo e expectadores.
 
Entre Sellers e Martin, neste caso, 10 a 0 para Peter. Podemos até ter duas panteras, mas apenas uma é cor-de-rosa de verdade. A de Steve é no máximo um gatinho vermelho, aguado.
 
Amém.
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