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Publicado: Quinta-feira, 12 de julho de 2007

Dr. House

Notei que de alguns anos para cá, perdi a paciência de assistir televisão. Nada muda, não há nada de novo. O Jornal Nacional apresentado pelo mesmo casal, no mesmo horário com as mesmas notícias de sempre: corrupção, violência, economia, comportamento e no final uma matéria bonitinha para o tele-espectador assistir a novela tranqüilamente.
 
A coisa piora aos sábados, mesmo com a criatividade incansável de um Luciano Huck. Aqueles filmes repetidos pela enésima vez, os programas de entrevistas sem graça alguma, são de dar dó. E domingo? Faz quase 15 anos que a briga é a mesma: o mauricinho loiro contra o obeso engraçadinho. Nos intervalos, uma partida de futebol.
 
Quando passou a me faltar tempo de parar na frente da televisão, passei a ser mais feliz. Senti-me mais útil, sei lá. Nem fiquei triste, porque realmente são poucas as coisas boas para assistir nos canais abertos. Os que compensam geralmente são exibidos em canais que não pegam aqui e em horários pouco convidativos.
 
Há alguns meses passei a experimentar a novidade da tv a cabo. Os canais fechados realmente têm uma programação diferenciada. Programas de entrevistas, de humor, sobre a natureza, sobre a História, tudo bem feitinho. Os seriados são um grande achado, principalmente nas madrugadas de insônia. Não são traduzidos. Ouve-se a língua original com legendas, como se a programação fosse um constante filme em DVD.
 
Uma das séries que mais venho acompanhando é a que leva o nome de seu personagem principal, o Dr. House. Junto com outros três médicos, o personagem é o chefe de um Departamento de Diagnósticos.
 
Funciona mais ou menos assim: todos os casos esquisitos que chegam no hospital fictício acabam parando nas mãos da equipe. Sentados em sua sala, a missão é descobrir o que o paciente tem. É um show de teorias, de nomes estranhos de doenças esquisitas, de nomes esquisitos de medicamentos estranhos. Para cada idéia são feitos inúmeros exames. Entre um e outro tratamento, uma reação inesperada do organismo do paciente causa surpresa e pode colocar tudo a perder.
 
Os pacientes não são o único ponto dramático das séries. Dr. House é um egoísta que pensa que ninguém sofre mais do que ele, pois é obrigado a conviver com a dor de uma paralisia na perna. É sarcástico e insensível, mas todos o respeitam porque sempre está certo em suas teorias. Há muito mais coisas a revelar sobre esse personagem, mas perde a graça contar. É melhor assistir.
 
Dr. House trabalha em um hospital mantido por doações e pelo governo norte-americano. Atendem pessoas de todos os níveis sociais. Houve episódios em que trataram pessoas ricas e de classe média. Também atenderam mendigos, prostitutas, viciados. São adultos, jovens e crianças, todos com doenças inexplicáveis. A equipe de médicos se desdobra por horas, dias e semanas para resolver cada caso.
 
Assistindo um episódio dia desses, me peguei fazendo um paralelo com o nosso sistema público de saúde. Não sou especialista na área, mas ao que me parece o diagnóstico no Brasil é muito ruim. Tenho o caso concreto de um amigo que foi três vezes a um Pronto Socorro, aparentemente com uma febre muito forte e dores nas costas.
 
Ele é jovem, vive com mochila nas costas. Os médicos lhe deram remédios para a gripe e aconselharam um ortopedista. Só que a gripe não passava. Ao contrário, foi ficando pior. Por fim, deu sorte. Achou um médico que diagnosticou um princípio de pneumonia...
 
Infelizmente, no Brasil as coisas estão assim. Não se pode confiar em nada do que é público. Hospitais, escolas, segurança pública, tudo parece falho. Até quando continuará assim? Teremos um dia o gosto de ver hospitais atendendo bem a todos os pacientes, escolas ensinando efetivamente nossas crianças, policiais realmente garantindo a segurança da comunidade? Ficaremos livres da impunidade e da corrupção?
 
São respostas que não tenho e espero ter no futuro. Mas o cético e pessimista Dr.House certamente daria a mesma opinião que dei sobre a programação televisiva no início deste artigo. Queira Deus que as coisas mudem logo, para o bem de todos nós.
 
Amém.
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