Colunistas

Publicado: Segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Dona Maria soltando os cachorros

Quem assistiu uma oradora na TVCâmara, gravada em São Paulo na quarta-feira, dia 7, e que foi ao ar no sábado, dia 10, as 8 horas, não deve ter ficado surpreso com a declaração da D.Maria de 68 anos.

O programa é Assembleia Popular, criado pelo Deputado Enio Tatto, do PT - onde o povo pode se manifestar por alguns minutos, desde que se inscreva no dia da gravação 45 minutos antes.

Ela falava de leis e direitos e disse que nunca teve seus direitos respeitados e lembrou que era uma aluna muito pobre. Na escola que estudava o cantor da moda Francisco Alves ia se apresentar e cantar CRIANÇA FELIZ.

Era o acontecimento do ano na escola e os alunos da sala dela eram escolhidos para fazer coro com ele em um palco improvisado na escola. Menos ela, já que seu uniforme era desbotado por ser muito velho (ela era a mais pobre da sala). D. Maria nunca esqueceu essa dor, essa humilhação e essa injustiça que sofreu na escola.

A professora para tirar a aluna do coro, usou o seguinte expediente: saiu da sala e colocou um aluno para anotar quem conversava, depois de ter uma conversinha particular com ele. O nome da Maria foi anotado várias vezes no quadro e toda vez que ela ia reclamar que não estava fazendo nada, era mais uma anotação. D. Maria levou essa mágoa e essa dor pela vida afora. Depois de 68 anos se lembra da injustiça e da humilhação que sofreu. Jamais esqueceu da covardia de uma profissional que recebia para educar e dar bons exemplos.

A escola pública de São Paulo, continua a mesma.

Então a Globo, no Fantástico, mostra agora a professora escolhida como uma das melhores no Rio de Janeiro fazendo exatamente isso, e a Globo mostra como se fosse uma atitude maravilhosa. A escola pública continua a mesma, 68 anos depois.

Um menino escolhido para caguetar as meninas e uma menina para caguetar os meninos.

Até quando veremos esse tipo de escola que deseduca nossos filhos. Transforma-os em seres cruéis, desumanos, desonestos que aprendem a cuidar da vida dos outros?

Uma escola onde se incentiva a discórdia, a covardia e a preguiça? Uma escola onde a professora ensina que os mais fortes, como ela, no momento, usa os mais fracos para cumprir o que é sua obrigação para a qual ela é paga?

Até quando meu DEUS, até quando?

Lembro ADÉLIA PRADO, em seu livro ‘Soltando os Cachorros’:

“O que é que eu faço, em que língua vou fazer um comício, uma passeata que irrompa nos gabinetes, nas salas dos professores que tomam cafezinho e arrotam sua incomensurável boçalidade sobre o susto de meninos desarmados.

Fazem política, os desgraçados, brigam horas e horas pela aula a mais, o tostão a mais, o enquadramento, o qüinqüênio, o milênio de arrogância, frustração e azedume”.

Comentários