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Publicado: Sexta-feira, 9 de setembro de 2005

Do Sionismo ao Estado de Israel

Este é o terceiro de uma série de artigos que venho escrevendo sobre os milenares desencontros entre judeus, árabes e palestinos no Oriente Médio. Voltando milênios antes de Cristo, lembrei o Patriarca Abraão, pai de Ismael e Isac em sua chegada a Canaã, a Palestina dos tempos de Cristo, a “Terra dos Filisteus” em que “corriam leite e mel”. Nascidos do mesmo pai mas de mães diferentes, Agar e Sara, os árabes descendem de Ismael, os judeus de Isac e os palestinos dos antigos filisteus. Lamentavelmente, todos sempre se desentendendo. Três mil anos atrás Davi, pequeno pastor de Belém e Judá, futuro segundo rei dos judeus, venceu com sua funda o gigante Golias, guerreiro filisteu e o atual povo palestino.

Lembrei que os judeus praticamente em toda a sua história sempre foram dominados por povos estrangeiros. A cultura, com destaque para as diferenças religiosas, ainda hoje distanciam judeus, árabes e palestinos. Depois de 400 anos de escravidão no Egito, os judeus retornaram às suas terras mas tiveram tanto Jerusalém quanto o grandioso templo de Salomão destruídos por Nabucodonosor. Tiveram início, assim, as suas diversas “diásporas” ou dispersões pelas maiores cidades do mundo antigo e do Império Romano. Tito, futuro imperador romano, cercaria e destruiria Jerusalém e o Estado de Israel, no ao 70 d.C. Inicia-se de tal modo a maior das diásporas judaicas, que persiste até hoje apesar do lamentável holocausto que dizimou nos anos de Hitler seis milhões de judeus. Portanto, foi durante milênios uma nação sem o próprio território e Estado.

Em 1897 surge o movimento sionista organizado pelo judeu austríaco Theodor Herzl. O projeto dos sionistas foi, desde o princípio, o retorno à “terra de Sião”, a Palestina, além da reconstrução do Estado de Israel. Nunca faltaram recursos para a aquisição de terras dos mais pobres palestinos e a formação de um exército clandestino que, paulatinamente, iria impor-se tanto aos palestinos e árabes, quanto aos ingleses e seu Protetorado.

Decorridos 50 anos do surgimento do sionismo, em 29 de novembro de 1947 a Organização das Nações Unidas aprovaria a constituição do Estado de Israel, instalado em 1948. O novo Estado judaico teria 20 mil km², exercendo a sua soberania sobre parte de Jerusalém, a Judéia e a Galiléia ocidental. À Jordânia coube a Transjordânia e a parte velha de Jerusalém. O Egito ficou com a Faixa de Gaza e a Transjordânia confiada à Legião Árabe. A ONU também reconhecia o direito dos palestinos ao próprio Estado.

Procedentes de todas as partes da Europa, América, países da África e da União Soviética, os judeus dominariam as terras que a ONU lhes confiou e depois das três guerras dos anos de 1956, 1967 e 1973, também a Cisjordânia, toda Jerusalém, a Faixa de Gaza, as colinas de Golan, da Síria e parte do sul do Líbano. Organizado como uma república leiga mas tolerante do ponto de vista religioso, Israel teria o próprio Presidente, um Primeiro-Ministro e o seu Parlamento. Iriam suceder-se como chefes-de-governo David Bem-Gurion, Moshé Sharet, novamente Bem-Gurion, Levi Eskhol, Golda Meir, Itschak Rabin, Benjamin Netaniahu e, nos dias de hoje, o general Ariel Sharon.

Coube a ele, militar de linha dura, mesmo enfrentando minorias israelenses radicais, desocupar e devolver à Administração Palestina a Faixa de Gaza. Após a morte de Yasser Arafat está sendo possível a retomada do diálogo com o seu sucessor, o moderado Mouhamed Abbas. Ficam como graves problemas a serem resolvidos, tanto a constituição do Estado Palestino quanto a devolução de parte de Jerusalém, o retorno hipotético de milhões de palestinos exilados das suas terras e a questão dos assentamentos judaicos na Cisjordânia.

É sempre possível, especialmente na atual situação, continuar sonhando com a paz e a convivência, lado a lado, entre os Estado de Israel e o Estado Palestino. É o que todos esperamos e pedimos a Deus: que Jerusalém seja realmente a “Cidade da Paz” e que a Terra Santa acabe aceitando Jesus Cristo como o “Príncipe da Paz”.

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