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Publicado: Sábado, 23 de abril de 2011

Discorrendo Sobre o Amor - Parte 3

Com as transcrições feitas nos artigos anteriores, iniciamos este com outra, de esclarecimento cabal: “a vontade governa todas as outras faculdades do espírito humano, mas é governada pelo seu amor que a torna qual ele é. O amor de Deus é o primeiro entre todos os amores e possui a tal ponto o direito de dominar inseparavelmente unido e próprio à sua natureza, que se ele não domina,deixa de existir e perece.” (Destaque nosso ob.cit.pg.36).

Continua o grande santo: “o amor divino é, na verdade, o último nascido entre todos os afetos do coração humano; pois, segundo diz o Apóstolo aparece primeiro o que é animal e só depois o que é espiritual.” (pg.37). Mais: “A salvação é revelada pela fé, prepara-se pela esperança, mas só é dada à caridade (amor). A fé mostra o caminho da terra prometida, como uma coluna de nuvem e de fogo, isto é, claro-escura; a esperança sustenta-nos com a suavidade do seu maná; a caridade introduz-nos nela, como a Arca da aliança que nos abre a passagem do Jordão, quer dizer do juízo final, e permanecerá no meio do povo, na pátria celeste, prometida aos verdadeiros Israelitas, na qual nem a coluna da fé é já necessária para nos guiar, nem o maná da esperança para nos sustentar”.

“As virtudes residem na alma para animar os seus movimentos e a caridade, como a primeira de todas, as dirige e  modera, não só porqueem todas as coisas, o primeiro em cada espécie serve de regra e de norma a tudo mais (Aristóteles) mas também porque Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, e quer que tudo no homem, como n’Ele próprio seja ordenado pelo amor  e para o amor.” (pg.38).

Mais: “A vontade tem uma  relação tão íntima com o bem que apenas o avista volta-se logo para o seu lado, para nele se comprazer, como em seu objeto, unindo-se-lhe tão estreitamente, que não se pode explicar a natureza da vontade senão pela relação que tem com o bem, , nem a natureza do bem senão pela relação que tem com a vontade. Dizei-me, Teotimo,o que é o bem senão aquilo que cada um quer? E o que é a vontade senão a faculdade que dirige e encaminha para o bem, ou aquilo que julga se-lo?”.

“Por conseguinte, Teotimo, a complacência e a efusão da vontade na coisa amada é o amor; ainda que a complacência não seja senão o princípio do amor, e o movimento ou efusão do coração, que se segue, seja o verdadeiro amor. Um e outro podem chamar-se amor, posto que por motivo diferente. Assim como a aurora pode chamar-se dia, também esta primeira satisfação do coração na coisa amadapode chamar-se amor, pois é o primeiro assalto do amor”. (Pg.39, destaques nossos).

Finalizando a temática sobre o amor, transcrevo parte da crônica que escrevi na década de noventa que sintetiza bem o assunto:“Há necessidade urgente de se trazer de volta o amor. A linda palavra amor, hoje completamente desvirtuada, precisa ser resgatada, utilizada adequadamente e - mais ainda -, incutida nos corações humanos, na escalada da recuperação individual e social.

Na atualidade, escreve-se ou fala-se de amor mais na conotação eufêmica de encontro íntimo dos sexos, como na expressão de fazer amor. Corporificado, materializado - guardando-se as devidas distinções -, podemos então comparar o amor com um churrasco, uma feijoada, uma bacalhoada, uma chopada, uma laranjada, etc. Satisfeitos ou fartos, podemos partir para outras iguarias mais leves ou diferentes, onde, talvez – com o paladar mais apurado -, encontraríamos aquilo que verdadeiramente nos agrada (mais um ilusório amor).

Nota-se que discorrer sobre o amor não é fácil. Palavra abstrata, imaterial, escapa aos sentidos e somente através de pensamentos, juízos e raciocínios é que principiamos a desvendar o seu significado. Amor de pai, amor de mãe, de filho, esposo (a) e assim por diante, nos levam a considerações surpreendentes, elevadas, onde se percebe a racionalidade ou espiritualidade dos humanos.

Amor, então, é um sentimento nobre, puro, desprendido, pronto para o sacrifício, sendo que – na união íntima do homem e da mulher – o amor jamais existirá, se um dos parceiros foge, sob qualquer pretexto, principalmente à procura de um outro substitutivo.

Se não voltar o amor, no relacionamento individual  e social, serão inúteis ou efêmeras  as realizações em benefício da comunidade. Será impossível vida harmoniosa e feliz enquanto as famílias se encontrarem destroçadas pelo desamor.”

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