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Publicado: Terça-feira, 5 de abril de 2011

Discorrendo sobre o amor - Parte 1

Há tempo ando querendo enfrentar esse nebuloso tema que é o amor. Criei coragem e pretendo escrever umas duas ou três crônicas ou artigos visando projetar um pouco de luz sobre esse assunto do trivial cotidiano que, talvez seja bem difícil explicitá-lo corretamente, pois o que se lê, quase sempre, são mínimas referências, máximas irreverências ou inverdades malévolas. Para não me alongar exemplifico com o colunista R. da Matta,  Estadão (19/1/11), que diz ipsis litteris “Naqueles tempos antigos, a gente não dizia que amava. A gente dizia que gostava.

O amor era uma palavra muito forte e tão removida das coisas do mundo diário que requeria controle e dava vergonha. Escrevíamos sobre o amor, mas usávamos o gostar nas nossas declarações. O amor era para os deuses, para as igrejas cheirando a vela e incenso e para a tela dos cinemas.”

Para fundamentar o  texto, como cristão-católico me socorri ao que está ao meu alcance em minha modesta biblioteca. Achei e considero suficiente para o fim proposto, procurar entender a mensagem do Papa Bento XVI constante de sua primeira encíclica DEUS É AMOR e também procurar subsídios básicos no magnífico livro de São Francisco de Sales TRATADO DO AMOR DE DEUS, que adquiri num sebo há cerca de trinta anos, com as páginas ainda fechadas!

Sua Santidade em sua encíclica faz referência a três palavras gregas relacionadas com o amor Eros, philia (amor de amizade) e ágape e a explicação não sendo clara, obrigou-me a procurar elucidações no volumoso TRATADO de S. Francisco de Sales que realmente é fantástico e dilucida o assunto de forma cabal.

Como esse livro deve se difícil de ser encontrado, teço prévias considerações sobre o mesmo, no sentido de entusiasmar eventuais leitores de se dedicarem a se aprofundarem no complexo tema. Trata-se de robusto volume de 620 páginas editado pela primeira vez a cerca de quatrocentos anos (1616), o que nos deixa admirados pela profundidade e clareza da doutrinação exposta.

Contém doze livros, cada um dividido na média de quinze capítulos, sendo que para compreender o amor de maneira simples e corriqueira, creio, será suficiente restringirmo-nos a  apreciar alguns capítulos do primeiro livro, encabeçados com os seguintes títulos: A vontade governa as paixões (III,pg.28), O amor domina todas as afeições e paixões e dirige mesmo a vontade, ainda que esta também tenha domínio sobre ele (IV,pg32), Descrição do amor em geral(VII,pg38), De onde se origina o amor (VIII,pg.42), Divisão do amor (XIII,pg58), A caridade deve se chamar amor (XIV,pg.59).

Para melhor compreensão do meu texto entendo útil iniciar com a transcrição do ensinamento de S. Francisco de Sales (ob.cit. pg.28): “A vontade, Teotimo, domina a memória, o entendimento e a imaginação, não pela violência mas pela autoridade, de forma que nem sempre é obedecida, como nem sempre o é o pai de família por seus filhos e seus servos. Ora acontece o mesmo com o apetite sensual(1), que como diz Santo Agostinho, em nós pecadores, tem o nome de concupiscência e está sujeito à vontade e ao espírito.(1)

Por “apetite sensitivo” entendem os filósofos escolásticos – a operação pela qual o homem tende para um bem que convém à sua natureza sensitiva, e que foi percebida pelos sentidos.As operações desta faculdade, elevadas a um grau intenso de força e energia, tomam o nome especial de paixões, que podem ser boas ou más.

(Continua)

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