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Publicado: Terça-feira, 31 de maio de 2005

Diário de um peregrino em Roma - V

Os teólogos da libertação e o novo Papa

Com a eleição de Bento XVI a alegria e a esperança dos fiéis católicos percorreram o mundo. Contrastando com esse júbilo geral, entristeceram a todos as inoportunas declarações de alguns teólogos da libertação, como as do ex-franciscano Leonardo Boff, do dominicano Frei Betto e do belga José Comblin. Tiveram respaldo no desapontamento de um ou outro bispo e certo número de clérigos e religiosas com o anel de tucum nos dedos.

Na Europa, ao que me consta, somente Hans Kung manifestou sua desilusão com o longo e fecundo pontificado de João Paulo II e sua frustração com a eleição de Bento XVI. Lamentavelmente, entre cadernos inteiros de elogios aos dois Pontífices, o “Estadão”de 3 de abril destacou o “complexo anti-romano” do polêmico teólogo, aliás porta-voz dos que desejam uma Igreja feita à sua imagem e semelhança, dando-se ares de uma infalibilidade que negam aos Romanos Pontífices.

Uma análise em profundidade do que escreveram demonstrará senão a perda da fé recebida quando batizados, pelo menos da educação que todos sempre têm o dever de ter. É com sofrimento que tomamos conhecimento das desrespeitosas insinuações desses ex-teólogos da Igreja, mais interessados em política e ideologia do que em ortodoxia da fé e moral cristãs. “Grande inquisidor” e “ultraconservador” é o menos que disseram sobre Bento XVI.

Os citados teólogos da libertação vinham sonhando com outro Papa e um novo Concílio Ecumênico realizado “fora de Roma” que, rompendo com dois mil anos de tradição autorizasse a ordenação de mulheres, tornando a Igreja menos “machista”, legitimando segundos casamentos, autorizando recasados a participarem da Eucaristia, legalizando a união de gays e lésbicas, liberando os preservativos, ampliando os casos de aborto. Numa palavra, sonhavam utopicamente com uma Igreja conivente com o relativismo ético-moral e o secularismo do mundo moderno.

Desde 1965 acompanho de perto os escritos e trabalhos dos teólogos da libertação, particularmente dos brasileiros. Contam com amplo espaço na mídia, têm a benevolência das maiores editoras católicas, dão repetidas entrevistas, escrevem artigos e livros imaginando uma “Igreja popular”, sinodal, condescendente com os desvalores do mundo de hoje. Fundamentam os seus sonhos em uma cristologia e eclesiologia bem diversa da “Lumen Gentium” e da “Gaudium et Spes” do Concílio Vaticano II. Continuam fazendo a própria releitura do documento da III Conferência do Episcopado Latino-Americano, realizado em Puebla em 1979.

Contestam reiteradamente a autoridade pontifícia dividindo, maniqueísticamente, os homens entre opressores e oprimidos, incentivando lutas de classes, guerrilhas e revoluções, apontando o caminho do ódio e não o do amor como superação das injustiças atuais. Nem de longe sintonizam com as encíclicas sociais de Pio XI, João XXIII, Paulo VI e João Paulo II. Estão muito mais para o marxismo e o socialismo que para o personalismo e o solidarismo, caminho original da doutrina social da Igreja.

Felizmente, testemunharam com mais sensatez e respeito sobre o novo Papa, teólogos como Paschoal Rangel, João Batista Libânio, Manoel Godoy, Maria Clara Bingemer e Therezinha Cruz, conhecidos nomes da teologia e pastoral da Igreja Católica no Brasil. Termino este artigo lamentando novamente o inexplicável “complexo anti-romano” a que se referia Von Hurs Balthasar, renomado teólogo suisso. Destaco a oportunidade e sensatez das cartas enviadas por mulheres como C. da Silva Prudente, no “Painel dos Leitores” da “Folha de S.Paulo”, na página A-3 de 19 de maio: “Estou pouco interessada sobre o que o teólogo Leonardo Boff acha ou deixa de achar sobre Bento XVI e sim no que Bento XVI acha de Leonardo Boff”. Destaco, ainda, a mais que oportuna pergunta feita por R. V. da Silva Martins no “Fórum dos Leitores”, do “Estadão” na página A-3 de 20 de maio, elogiando a entrevista de Vitor Messori: “Afinal quem são os verdadeiros inquisidores?”. É muito fácil a um bom entendedor identificá-los no Brasil, na Europa e alhures...

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