Colunistas

Publicado: Segunda-feira, 16 de maio de 2005

Diário de um peregrino em Roma - III

Na audiência com os jornalistas

A participação na Missa do sepultamento do Papa João Paulo II, o ter podido estar em Roma na eleição e posse de Bento XVI foram dias de graça para mim, momentos históricos da vida da Igreja e do Mundo. Agradeço a Deus a possibilidade dessa nova visita, talvez a última, à Cidade Eterna. Antes jamais vivi semelhantes acontecimentos.Quando da morte de Pio XII, João XXIII, Paulo VI e João Paulo I, senti de longe os sofrimentos do povo católico, alegrando-me com suas eleições e posses. Agora lavei a alma fazendo um verdadeiro retiro espiritual de 20 dias. Vivi, intensamente, inesquecíveis emoções.

Em artigos anteriores fiz depoimentos de quem esteve na Basílica e Praça de São Pedro, testemunhando tanto o sepultamento de João Paulo II quanto a plebiscitária eleição, e solene Eucaristia da posse do novo Papa Bento XVI. Além de bispo, o que me abria as portas do Vaticano, sou jornalista registrado desde 1953 e em plena atividade mesmo como emérito. Assim, quando se tornou público que o 264o Sucessor de Pedro receberia os numerosos jornalistas presentes em Roma, fiz questão de credenciar-me para participar da audiência. Realizou-se na ampla e moderna Sala Paulo VI, em 23 de abril.

Pelo menos 4 mil jornalistas, radialistas, operadores de câmera e correspondentes dos maiores jornais do mundo aguardavam, ansiosos, o Santo Padre. Na Sala que comporta até 10 mil pessoas todos admirávamos a grande escultura do Cristo Ressuscitado. No centro do palco destacava-se a poltrona do novo Bispo de Roma. Guardas suíssos, secretários do Papa e seguranças, fotógrafos e operadores da Rádio e TV do Vaticano documentavam o importante momento.

Às 11 horas em ponto Bento XVI, todo de branco, entra com passos firmes, sorridente e braços abertos. Saudado pelas palmas de todos e, em inglês, pelo Arcebispo John Patrick Foley, Presidente do Pontifício Conselho para os Meios de Comunicação Social (MCS), o novo Papa pronunciou, em várias línguas, uma breve mas incisiva alocução. Como bispo no fim da audiência pude aproximar-me de sua acolhedora pessoa. No aperto de mão congratulei-me com sua eleição, dizendo-lhe ser um bispo brasileiro e jornalista. Pedi a sua bênção e ousei desejar-lhe, na altura dos seus 78 anos de idade, um longo e feliz pontificado. Apertando minha mão ele sorriu. Certamente não terá um pastoreio tão longo quanto o de João Paulo II.

Foi uma audiência atípica, um tanto breve. Os jornalistas brasileiros logo me cercaram para um depoimento querendo saber, se possível, o que dissera ao Santo Padre. Bento XVI levantou-se, rezou um Pai-Nosso, abençoou a todos e retirou-se para outros importantes compromissos do início de seu pontificado. Seguem algumas referências da alocução do Papa que sensibilizaram a todos:

“Pode-se dizer que graças ao trabalho de todos, por diversas semanas a atenção do mundo inteiro ficou voltada para a Basílica, a Praça de São Pedro e o Palácio Apostólico. É com prazer que me encontro com os senhores e cordialmente saúdo a vós jornalistas, fotógrafos, operadores de rádio e televisão e quantos pertencem ao mundo da comunicação. Prestastes nestes dias um grande serviço tanto à Santa Sé quanto à Igreja Católica. Estes acontecimentos eclesiais de importância histórica tiveram, por merecimento vosso, uma cobertura mundial. Sei da vossa competência e da dedicação com que desenvolvestes este nada fácil serviço.

Os Padres do Concílio Vaticano II afirmaram que os MCS, por sua própria natureza, podem movimentar grandes multidões e toda a humanidade. Do dia 4 de dezembro de 1963, quando foi promulgado o decreto “Inter Mirifica”, até os dias de hoje, a humanidade conheceu uma extraordinária revolução midiática. A Igreja tem procurado colaborar com o mundo das comunicações sociais. O Papa João Paulo II foi o grande artífice desse diálogo aberto e sincero. E é exatamente aos responsáveis pelas comunicações que ele dedicou um dos seus últimos documentos: a Carta Apostólica de 24 de janeiro de 2005, na qual recorda que ‘a nossa época é um tempo de comunicação global, que o fenômeno das comunicações sociais incentiva a Igreja a uma espécie de revisão pastoral e cultural respondendo, adequadamente, ao momento especial que estamos vivendo’...

Para que os instrumentos de comunicação social possam prestar um positivo serviço ao bem comum, é necessária a colaboração de todos na formação da opinião pública. Não se pode, pois, deixar de pôr em evidência a responsabilidade ética dos que trabalham nesse setor, particularmente no que se refere à sincera procura da verdade, à salvaguarda da centralidade e dignidade da pessoa humana. Somente assim os MCS poderão responder aos desígnios de Deus...”.

Essas palavras vêm mais que oportunas quando acabamos de celebrar, na festa da Ascensão do Senhor aos céus, o 38o Dia Mundial das Comunicações.

Comentários