Destruição, Evolução e Astrologia
Um astrólogo tentando entender a “primavera brasileira”.
Diz Zuenir Ventura na introdução de seu “1968 – O ano que não terminou”: É possível que 1968 não seja como querem alguns de seus hagiólogos, o ano zero de uma nova modernidade...
Concordo com o Zuenir. 1968 não foi o ano zero. Mas os que diziam que foi erraram por pouco. O ano zero foi 1966. O ano do alinhamento de Urano com Plutão. E nós estamos aqui e agora, em 2013 vivendo um desdobramento daquele movimento: a primeira “quadratura”, que é um ângulo de noventa graus formado entre os dois astros que estavam alinhados em 1966.
A Astrologia, essa antiga forma de conhecimento, é uma linguagem simbólica. Por isso tanta gente não entende nada do que ela quer nos dizer, nesses dias em que desaprendemos a pensar de forma simbólica e talvez como nunca antes na história da humanidade, temos a pretensão de acreditar que o pouco que nossa limitação nos permite ver, é o todo. Venho apresentar aqui a minha compreensão astrológica do fenômeno que estamos vivendo atualmente, chamado por alguns de “primavera brasileira”.
Nunca vi nenhum tipo de comprovação de que os astros “influenciem” a vida das pessoas. Mas não me canso de me maravilhar com a sincronia que existe entre os fenômenos celestes e as coisas que acontecem aqui embaixo.
E qual é a qualidade do momento do tempo em que está acontecendo essa tal de “primavera brasileira”?
Como disse, estamos em um desdobramento do ciclo que iniciou em 1966. O ciclo de Urano e Plutão dura aproximadamente 140 anos. Mais do que planetas, Plutão e Uranos são símbolos, ou arquétipos de princípios que existem no Universo e estão presentes em nossas vidas humanas.
O fenômeno associado a esta quadratura iniciou no final de 2011 e não está acontecendo apenas no Brasil.
Urano constitui um dos mais confusos e excêntricos arquétipos planetários. Sua simples descoberta perturbou completamente a ordem estabelecida no estudo dos astros até então. Aliás, o “planeta estranho” foi descoberto “sincronicamente”, em 1781, durante o período das grandes revoluções francesa e americana.
Urano gira em torno de si mesmo num ângulo de 90 graus, diferentemente de qualquer outro corpo do sistema solar.
Palavras chave associadas ao arquétipo uraniano: liberdade, independência, comportamento iconoclasta, excentricidade, quebra de barreiras sociais, econômicas e raciais, avanço e loucura tecnológica, rebelião contra o passado, seja ele qual for, e como não poderia deixar de ser: a arrogância e o orgulho de quem não respeita as regras e se sente superior, seja isso justificável ou não.
Ouranos, o deus grego, era uma força essencial de criação. Água da vida que desaba do céu em tempestades e raios. Criatividade ilimitada, genial e turbulenta.
Quando estamos em um momento de forte tonalidade uraniana, como esse, queremos nos sentir livres, excitados o tempo inteiro. Queremos viver uma “vida maior que a vida”. Não suportamos nada que impeça ou detenha o fluxo criativo (que também pode ser destrutivo). Muita gente pode estar sentindo também uma necessidade repentina e esmagadora de acabar com modos de comportamento desgastados e criar um estilo de vida totalmente diferente para si. Em outras palavras: romper com a rotina, seja ela qual for. Nosso sistema nervoso central é altamente estimulado e temos que fazer um esforço grande para estarmos concentrados e nos sentirmos ligados ao chão.
Por isso é bobagem criticar os movimentos que estão acontecendo, pela sua falta de foco e linearidade.
Já ouvi algumas pessoas chamando ao movimento de: “passeata DDA” de déficit de atenção... Faz algum sentido.
Mas passa longe da compreensão do que realmente se trata.
Sendo esta “quadratura”, a primeira do ciclo que iniciou em 1966, ela tem uma relação direta com a primeira quadratura de Urano que ocorre em nossas vidas aproximadamente no final da adolescência e inicio da vida adulta.
Aqui vivemos o espírito uraniano de rebelião em sua forma mais pura. Nesta fase da vida pensamos que sabemos de tudo. E que tudo está errado.
Ou seja, estamos vivendo uma espécie de adolescência de um movimento de transformações radicais na forma de compreender as coisas, que teve inicio nos anos sessenta.
Quando Plutão foi descoberto em 1930, o mundo embarcava em uma grave crise. Foi o período mais sombrio do século XX e provavelmente um dos mais sombrios de todos os tempos. Enquanto Hitler, Stálin, Mussolini e Franco preparavam seus exércitos movidos a delírios e ódios ancestrais, a bomba atômica, feita de plutônio estava em seus primeiros estágios.
Gangsterismo, terrorismo, ditadura, depressão econômica, e outras manifestações de vida subterrânea que irrompem sem pedir licença, que nem um vulcão, estão associadas a este astro minúsculo. É o mais distante do sol. Já chegou até a ser rebaixado de seu status planetário. Mas o princípio por ele representado não perdeu seu lugar no mundo invisível e onipresente dos arquétipos.
Aliás o seu banimento é bastante arquetípico, não é mesmo?
Hades, o deus grego associado ao Plutão romano, regia o reino do medo e da escuridão, o mundo dos mortos. Plutão tem um espírito guerreiro, mas está incrustado no mundo subterrâneo ou inconsciente. É liberado de forma esporádica, desajeitada, nas épocas em que a pessoa está menos capaz de controla-lo. Ele desafia o controle. Desencadeia turbulência subterrânea acumulada em anos de sentimentos de raiva, ciúme e violência reprimidos.
E o mais interessante é que ele tinha um capacete que o tornava invisível. E é quando estava invisível, que ele aprontava mesmo...
Sendo o regente do mundo dos mortos, Plutão, nos momentos em que tem uma presença marcante, também sinaliza que algo deve morrer. Não se trata aqui necessariamente da morte física. Pode ser também a morte de algo, de alguma coisa, ou mesmo a morte de um determinado período da história. E com Plutão não tem volta nem apelação.
A morte do que está velho e sem vida precisa acontecer para dar espaço ao novo. O melhor é nos rendermos logo e abrirmos mão seja lá do que for que ele quer nos levar. Mesmo que seja algo que julgávamos inseparável de nossas vidas, há bem pouco tempo atrás.
É hora de nos despojarmos dos trajes de vaidade e glória que nos deixavam tão confiantes. Nossas certezas e garantias se transformam em pó. Estamos diante do senhor da morte.
Como dizia aquele inesquecível “replicante” do filme de Ridley