Colunistas

Publicado: Segunda-feira, 18 de julho de 2005

Desagregação moral e corrupção

Relutei escrever este artigo. Porém, não resisti, diante de páginas e páginas de jornais e revistas colocando diante dos seus leitores o “mar de lama” que emporcalha o Brasil um pouco por toda a parte mas, de modo especial, os poderes Executivo e Legislativo da República.

Outro dia dei-me à reflexão sobre o Brasil de décadas atrás, quando vivia a minha juventude. Nos meus longos anos tive a oportunidade de viajar pelo Brasil de norte a sul. Percorri trinta países em todo o mundo, menos na Ásia e na Oceania. Vários desses países têm uma longa história, cenários e povos que não deixam de impressionar. Até há pouco, entretanto, vinha repetindo que não trocaria o Brasil e o nosso povo por nenhum outro. Temos qualidades incomparáveis, como a nossa hospitalidade e solidariedade, nosso espírito de reconciliação e criatividade. Não perdemos para nenhuma outra nação em belezas naturais, alegria de viver, integração racial e convivência pacífica.

Porém, olhando para trás, vejo que somos hoje um outro Brasil. Aquele de antigamente era muito diferente e bem melhor que o atual. Tenho saudades da minha Sousas e Campinas de 1930 a 1950. Também sinto falta dos jovens, da família, dos costumes e mesmo da Igreja daqueles anos. Não consigo lembrar-me de jovens drogando-se e engravidando, de casais amancebados, de mães abortando, de menores mendigando, de lares desfeitos, de irmãos famintos e desempregados. Sim, se os havia eram exceções. Hoje, beiram à regra. Claro que tivemos problemas como no Estado Novo, a ditadura de Getúlio Vargas, ou com os nordestinos que, de quando em quando, eram flagelados pela seca. Havia, também, alguns criminosos, corruptos e estupradores. Mas estavam nas cadeias.

De repente, de 1950 para cá, as mudanças para pior foram muito rápidas e profundas. Nem pensar, então, em menores e moradores de rua, em moças engravidando, em mães desnaturadas, em padres contestadores da autoridade dos Papas ou em fiéis em debandada. Separada do Estado em 1889, na Proclamação da República, em apenas uma geração a Igreja organizou-se e tornou-se mais presente na vida pública. Inspirou a Constituição de 1934. Tivemos bispos da estatura de Dom Duarte Leopoldo e Silva e do Cardeal Leme, sacerdotes cultos, modelares e ativos como Leonel Franca e Arruda Câmara, leigos exponenciais como Alceu de Amoroso Lima e Gustavo Corção. Quando os Pastores da Igreja se posicionavam, os poderosos da República estremeciam e o povo assimilava os valores proclamados.

Em 1950 chegou a televisão, nova fonte de informações e entretenimentos sadios, respeitadoras dos autênticos valores de nossa cultura e história. Nos últimos 50 anos perdemos a unidade religiosa e a opinião pública que era formada por nossos diários católicos e rádios. Depois que, há 40 anos, chegou a Rede Globo - tecnicamente invejável mas ética e moralmente desagregadora, atacando valores sagrados no coração das nossas famílias, seguidas de outras emissoras de menor audiência - foi notável a deterioração dos costumes do nosso povo. Filmes, revistas e jornais que me dispenso de citar, entraram pelos mesmos descaminhos.

Mas é preciso fazer uma referência à legislação brasileira que aos poucos legalizou o aborto, instituiu o divórcio, difundiu o uso de contraceptivos e esterilizações. De uma legislação respeitosa dos valores humanos e cristãos, passamos a uma legislação liberal, permissiva e estatizante, desrespeitosa da família. A emenda constitucional de 1977, no governo de Ernesto Geisel, acabou tornando descartável o casamento. Levou-nos ao freqüente costume do acasalamento, ao arrepio das leis do Estado e da Igreja. À escola pública de ensino fundamental, que nem informa como deve e muito menos educa dando um sentido à vida. À liberdade desenfreada entendida como “vale-tudo”. Deu no que deu nos dias de hoje: a podridão moral, a corrupção e venalidade generalizada em todos os níveis, do municipal ao federal, os cambalachos e conchavos, a criminalidade e o narcotráfico, a petulância e a violência.

Felizmente nem tudo está perdido. Há honrosas exceções, jovens honestos e famílias bem constituídas. A grande mídia, porém, continua destacando nestes dias os “mensalões” e “malas” de fortunas, os conchavos dos vendilhões da Pátria. Futuramente voltarei a abordar o assunto dos problemas das últimas décadas e dos dias de hoje.

Comentários