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Publicado: Sábado, 11 de agosto de 2012

Desafio

Acabo de chegar da barbearia.

São nove horas e cinquenta e quatro minutos.

Imaginava adiantar as crônicas semanais, porque cada vez mais sobram compromissos e falta tempo.

Correria de fim de ano, mesmo disfarçada, já começou.

Guardam-se na mente e se acotovelam os planos, como que se acomodados em mil gavetas de todos os matizes, ideias e fins.

Descubro, alertado de repente, que hoje é o dia 6 de agosto. Tinha até este momento a noção de que o concurso literário em que me alistara há meses, previa inscrições até o dia 9. Que nada. O prazo expira hoje.

Caí em mim, pois, agora cedo. Recorri de novo à ficha de inscrição, com o que ficou confirmado o cochilo. Assoberbado de afazeres, adiara várias vezes essa tarefa, sempre para o dia seguinte.

Sequer tinha eu ainda cogitado de qual tema haveria de criar afinal, com a ousada pretensão de concorrer e não somente participar do tradicional evento.

Adentrar um concurso literário, sem menos nem mais, não faria sentido. Mesmo assim não consegui ceder ao conformismo da mera desistência.

Não me lembra oportunidade outra em que tenha acionado uma empreitada tão marcadamente de última hora como esta. Desafio autêntico.

As condições do certame sinalizavam no objetivo de uma monografia, tema livre, de no mínimo seis e máximo de treze  laudas, espaço simples, fonte tamanho doze.

Propositadamente, às dez horas e trinta minutos, sentei-me para produzir uma matéria consentânea com o improviso de sua feitura.

Denominei-a: Desafio.

De fato, um desafio de mim para comigo. Por volta das dezesseis horas, sem ter feito lanche e almoço muito menos, segui para os Correios a despachar os papéis. Estou regularmente inscrito.

Até por um mínimo de bom senso, assegurei-me do fato de não manter esperanças de êxito, pois dada à emergência, tudo refluiu no prazer de apenas poder participar.

Vai daí, amigos, que, por via de consequência, a crônica semanal segue no mesmo teor.

Sonho? Quimera? Ingenuidade? Não importa.

É que surge a ideia de propor aqui outro desafio.

O povo brasileiro acompanha o julgamento do século, que tem como réus quase quatro dezenas de personagens, entre políticos e assessores seus.

Haja aqui em baixo também, entre os simples mortais, o lançamento de igual desafio, o da limpeza e higienização dos costumes e do respeito ao múnus público..

Desafio de se unirem os homens desta terra abençoada por Deus, mas que precisa se levantar do berço esplêndido, para por cobro à forma desavergonhada de como os senhores políticos de todas as esferas, das municipais a Brasília, sem esquecer as estaduais tampouco, surripiam parcela tremenda do erário.

Fico a pensar – e pouco se me dá seja visto como ingênuo ou solitário  – que se eu me propus ao desafio da redação apressada de uma monografia, por que não acreditar que, sem arruaça nem inversão da ordem, a população acorde e se levante para um desafio nacional? Aos poucos, com determinação porém.

A imprensa, jornais e revistas, a mídia toda enfim, tem feito apelos repetidamente nos últimos tempos, para extirpar do Brasil o cancro da corrupção.

Nessa hora, soa inútil, o dizer-se que a arma do brasileiro é o voto. E é? Deveria ser.

Obrigatório – e talvez por isso mesmo e porque atrapalha o programa e a descontração do domingo – vai-se às urnas inconscientemente. O semblante dos eleitores, no ir e vir das ruas e nos corredores das seções, parece denotar uma espécie de vergonha, por realizar-se ali um gesto automático e inconsequente, debaixo de pura coerção. Aflora-se neles leve sorriso, ao cruzarem-se, amigos e conhecidos.

Hora e vez do cidadão comum.

Absolutamente, que não haja nessa iniciativa figurões nem falsos líderes, com interesses mal disfarçados. Vedada inteiramente a entidades classistas e, principalmente, sem nenhuma cor política ou partidária. Um movimento nacional e livre por excelência.

Como começar então sem organizadores e sem bandeira?

Quanto aos organizadores, que o sejam pessoas de todas as classes, nesta ou em qualquer cidade próxima, eis que o aceno brotaria com a marca histórica da região. O reclamo por um movimento distinto e popular se originou por iniciativa da mídia credenciada e insuspeita. Mas é preciso começar.

Indaiatuba, Itu já tão famosa na História pátria, Salto, Porto Feliz, seja qual for, que de uma delas venha o nascedouro de uma ação concreta que, corporificada por um clamor uníssono de todas as comunas, consiga salvar o país.

No que tange à bandeira, já existe: a brasileira. Faça-se viger o brado de ordem e progresso.

Este desafio, uma vez transmudado em concretude, seja ele o artífice da mais sublime e pacífica revolução.

A substituição definitiva da impunidade pela honradez.

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