Depoimentos que permanecem
Retornei, depois de emocionar-me e oferecer-lhe o meu sufrágio em celebração eucarística na Igreja do Bom Jesus, no centro de Itu, à minha biblioteca em que vim reunindo livros biográficos e belas revistas sobre o Papa que “não veio da Polônia mas saiu das margens do Lago de Genesaré” (Jean Guiton). Não foi nada difícil anotar entre tantas encíclicas, exortações apostólicas e mensagens do venerando Pontífice, alguns dos depoimentos que fez e que, tenho certeza, continuarão ecoando por longos anos.
Escolho alguns dos testemunhos de João Paulo II que foram mais fundo no coração das multidões que puderam ouvi-lo. A sua primeira palavra, apenas eleito novo Papa, quando se apresentou à multidão reunida na Praça de São Pedro em 16 de outubro de 1978 foi: “Abram as portas para Cristo, uma após outra! Abram os confins dos Estados, dos sistemas econômicos e políticos! Não temam!”. Mais adiante João Paulo II partiria para a defesa da dignidade, dos direitos humanos, entre eles o da vida, do ventre materno ao término da existência. “Uma nação que mata as suas crianças não tem futuro!”. Vale a pena reler nestes dias o “Evangelium Vitae”, de 1995.
Desde os primeiros dias de seu fecundo pontificado, Karol Wojtyla multiplicou os seus encontros com a juventude. A palavra que repetia aos jovens com freqüência era: “Vocês jovens são a esperança da Igreja e o futuro do mundo!”. Já em 1983, quando assinou a “Familiaris Consortio”, sobre a instituição familiar, escrevia no parágrafo 11: “O futuro do mundo passa pela família”. Ele instituiu e presidiu todos os Encontros Mundiais da Família, entre eles o realizado no Brasil em 1997. Quem não se lembra dos 150 mil casais que se reuniram no Maracanã e dos quase dois milhões de fiéis na grande Concelebração Eucarística do Aterro do Flamengo?
Em uma das três visitas apostólicas que fez ao Brasil, João Paulo II afirmou com a coragem que nunca lhe faltou: “Ai daqueles que juntam casa com casa, campo com campo, até ocupar todo o território, como se somente eles vivessem na face da terra!”. Se nossos governantes tivessem ouvido os seus apelos por uma justa e necessária reforma agrária, não estaríamos hoje diante dos riscos de enfrentamento fratricida entre sem-terras e latifundiários.
Convidado para falar aos líderes das 190 nações em Assembléia da ONU, em Nova York, aplaudido entusiasticamente por todos, o Sucessor de Pedro ousou dizer: “O Norte está cada vez mais rico e o Sul cada vez mais pobre. Cristo é o juiz!”. Anos depois ousou afirmar: “O futuro do homem não está nem em Moscou nem em Nova York! Eu, João Paulo II, filho de nação polonesa, Sucessor do Apóstolo Pedro, digo a você, velha Europa, com um grito cheio de amor: encontre a si mesma!”.
A palavra de João Paulo II ecoou muito além dos espaços da Igreja católica de que foi Pastor exemplar. Disse em certa oportunidade: “Quero alcançar a todos. A todos aqueles que rezam... desde o beduíno dos desertos aos monges dos mosteiros, desde os enfermos e oprimidos até os humilhados em todos os lugares!”. Haveria muito mais a dizer deste incansável peregrino do mundo e arauto da paz. Entretanto, não consigo omitir o que dele disse Mikhail Gorbachev, Presidente da ex-União Soviética: “Se não contássemos com o seu empenho e excepcional atuação no cenário mundial, a reviravolta no Leste Europeu jamais teria ocorrido.
Deixo para outro artigo as referências aos elogios feitos ao Papa que acaba de partir, Billy Graham, conhecido líder protestante dos Estados Unidos, o Dalai Lama, Nobel da Paz, budista e Elio Toaff, Grão Rabino dos judeus da sinagoga de Roma. A Igreja acaba de perder um grande Pastor e o Mundo o maior arauto da paz, dos direitos humanos, da justiça e da fraternidade entre os homens. Mas temos agora uma nova estrela brilhando nos céus. Na contemplação da face de Deus, João Paulo II certamente estará sempre intercedendo por nós.