Publicado: Sexta-feira, 27 de novembro de 2009
De olho no "rabo" alheio
Estava sem ideias. Não sabia sobre o quê escrever... Então me dei conta de que meu objeto de inspiração estava bem na frente dos meus olhos e eu não percebia: o povo brasileiro. Mais precisamente, as coisas que ocupam a mente do brasileiro.
Somos um povo que adora se importar (com coisas que não importam), que aprecia um “oba-oba” e que adora dar a opinião, mas sem estarmos preparados para ouvir a opinião alheia. Pelo contrário, nós nos ofendemos com a opinião dos outros quando ela é contrária à nossa.
Tome como exemplo o recente caso da jovem Geisy. A aluna da Uniban foi ridicularizada pelos estudantes por frequentar a faculdade com um micro-vestido rosa. Em parte eles estavam mesmo com a razão, já que a pobre garota passa longe de ser um colírio para os olhos.
Bastava entrar na Internet para ver que Geisy foi o centro das atenções de quase todos os veículos, que mostraram desde o guarda-roupas da garota até seu novo corte de cabelo. Os sites se encheram de pessoas que criticaram a postura da jovem.
Mas enquanto todos estão preocupados com a “imoralidade” e a “falta de vergonha” da mocinha, em Brasília estão convocando uma entidade esotérica para explicar o apagão ocorrido no dia 10 de novembro. Sim, caro leitor... Você não leu errado: uma entidade esotérica! Ou seja, a mãe Diná, o pai-de-santo e o “preto véio” vão tentar explicar o motivo que levou milhares de brasileiros de 18 estados a ficarem no escuro por horas.
Esse fato revela bem a realidade do brasileiro: gostamos de ver e comentar o rabo dos outros, mas nem percebemos que, na mesma hora, pode estar passando uma carroça em cima do nosso próprio rabo.
Fico comovido em ver a luta do brasileiro ouvinte da “Dança do Créu” em prol da moralidade e dos bons costumes. Gostaria que fosse demonstrado tamanho empenho quando falamos de prostituição infantil, de tráfico de mulheres ou da pena branda que temos em relação aos milhares de estupradores e assassinos.
Adoramos cantar aos quatro ventos que vivemos no país da democracia, mas a verdade é que o brasileiro não tem maturidade o suficiente para usufruir positivamente dela. Falta espírito democrático ao brasileiro, então achamos que somos democráticos por pura falta de conhecimento de causa.
A cabeça do brasileiro é que nem a de uma criança. Não é preciso muito para alegrar uma criança. Dê uma bola pra ela, que ela vai inventar incontáveis brincadeiras e se divertir por horas. Conosco é a mesma coisa, basta jogar um assunto qualquer na mídia, que nós já estamos felizes e sorridentes a comentar e tripudiar. Deixamos de lado todas as coisas relevantes.
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