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Publicado: Quarta-feira, 6 de julho de 2005

De lagarta a borboleta

Há momentos na vida em que percebemos uma mudança interna com uma qualidade diferente. Olhamos para trás e para frente e nos vemos exatamente no ponto intermediário entre o passado e o futuro, segurando as rédeas do nosso destino. Esses momentos podem durar meses, anos, minutos ou segundos. Ocorrem quando nos damos conta de que chegou a hora da nossa lagarta transformar-se em borboleta. Abrimos mão de uma vida para ingressar em outra. Saímos do casulo com suas paredes seguras e partimos para a liberdade do vôo e da leveza. A liberdade de poder ser o que a natureza nos pede. A liberdade de colorir o mundo com nossas cores brilhantes. A liberdade de aceitar nossa nova condição e ser quem queremos ser.
São nesses momentos que Deus mostra a sua existência. Percebemos que, em qualquer situação, temos o poder de escolher.
Fico imaginando a lagarta. Quanto medo, quanta dúvida, quanto esforço para ser algo diferente do que já está habituada a viver! Será que ela tem a exata noção de como pode se transformar? Será que ela acredita que dentro de si está o poder de virar borboleta? Será que, quando ela vê as borboletas, se percebe como uma delas ou será que pensa que não nasceu para isso? Será que se sente feliz por saber que um dia chegará a sua vez ou será que ela se esconde do seu destino, por acreditar que é incapaz de realizar tamanha grandeza?
Felizmente, a natureza é sábia e generosa. A lagarta carrega dentro de si a verdade que precisa para cumprir a sua existência.
E nós, seres humanos?
Temos esta verdade dentro de nós?
Acreditamos que somos capazes de realizar a nossa grandeza? Ou ficamos olhando e assistindo algumas pessoas “escolhidas” transformar-se em borboletas, enquanto calamos a nossa verdade e aceitamos a árdua tarefa de continuar lagarteando pela vida até o fim dos nossos dias?
Este artigo é dedicado para todas as lagartas que querem virar borboletas. E ouso dizer que todos nós temos o poder de colorir e voar o mundo.
É da nossa natureza, assim como é da natureza da lagarta transformar-se em borboleta. O medo de viver muitas vezes nos engana, fazendo-nos acreditar que não nascemos para isso, que a vida é uma sucessão de passos intermináveis e entediantes. Acreditamos que temos de cumprir o papel que nos foi designado, veladamente ou escancaradamente. E enquanto passamos nossos dias tentando agradar a todos, a vida passa e leva a nossa vida embora. Quanto desperdício!
Quando você estiver na dúvida sobre o que fazer em um momento de decisão, é só imaginar o mundo repleto de lagartas medrosas e perdidas, que se recusaram a sair do casulo. Seja pelo receio de largar sua casa confortável, seja pelo medo de pagar o preço de ser livre. Florestas, jardins, lagos, praias... todos cheios de lagartas, sem nenhuminha borboleta voando... que triste seria...
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