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Publicado: Sexta-feira, 2 de setembro de 2005

Da Palestina a Israel

Da Palestina, a “Al Falestina” dos árabes e a “Palesth” dos judeus, até a constituição do Estado de Israel em 1948, correm milênios. A atual situação dos desencontros entre judeus, palestinos e árabes supõe o conhecimento dessa longa história de conflitos. A rigor Palestina significa “terra dos filisteus”, indo milênios atrás do mar mediterrâneo, a leste, ao deserto da Arábia, a oeste e do rio Litani, ao norte, até o vale de Gaza, no sul. Hoje compreende partes do atual Estado de Israel, da Jordânia e Egito.

No terceiro milênio antes de Cristo já existiam as cidades de Jericó e Megido. Os habitantes dessa região recebiam o nome geral de cananeus, formando a Canaã, terra prometida por Javé ao Patriarca Abraão e seus descendentes. Tribos semitas vindas da Arábia invadiram a região por volta do século 23 antes de Cristo. Os faraós, no tempo de Tutmés IV e egípcios, foram sucedidos no domínio de Canaã, a Palestina, pelos babilônicos, hititas e assírios, filisteus, persas, romanos e outros povos, sendo sucedidos, depois de Cristo, por árabes, turcos otomanos e pelos ingleses, no século passado.

No povo judeu destacaram-se depois de Abraão, Isaac e Jacó, Moisés, Josué, os reis Davi e Salomão, mulheres como Judite e Ester, os irmãos Macabeus e especialmente Jesus Cristo. Entres os que antes de Cristo dominaram Israel é preciso lembrar o faraó Tutmés IV, Pileser III, Senaquerib, dos assírios, Ciro II, rei dos persas, Antíoco e Pompeo, general romano. Depois de Cristo entram na história dos judeus como dominadores, Tito, futuro imperador romano, Saladino, sultão árabe, Otomão, turco, pelos quais depois a Palestina será dominada até 1920.

Pode-se imaginar quantos sofrimentos se abateram sobre esse povo eleito por Deus na história da salvação, para preparar e gestar Maria e Jesus Cristo, prometido e esperado durante milênos como “aquele em quem seriam abençoadas todas as nações” (Gênesis 12, 3). Somente depois da I Guerra Mundial (1914-1918) os acontecimentos tomam outro rumo, antecipando a reconstituição do novo Estado de Israel, em 1948, em histórica decisão da Organização das Nações Unidas. Antes, porém, a Palestina tornar-se-ia um Protetorado inglês, como a Síria e o Líbano um Protetorado francês, Constantinopla e Anatólia um Protetorado russo.

Nesse quadro histórico devem ser lembradas a primeira “diáspora” ou dispersão dos judeus para a Babilônia nos tempos de Nabucodonosor, a segunda e a terceira quando os judeus tiveram Jerusalém destruída pelo general romano Pompeo, em 63 antes de Cristo e em 70 depois de Cristo, novamente destruída por Tito.

Estado soberano durante alguns séculos nos tempos dos Juízes, dos reis Davi, Salomão e outros, nos dias dos valentes irmãos Macabeus, os judeus praticamente sempre estiveram sob domínio estrangeiro, constituindo pequenas comunidades por todo o mundo antigo e o Império romano. Somente com o surgimento do projeto sionista no fim do século XIX, veio se delineando, em 1948, o reencontro de milhares de judeus na terra dos seus antepassados, já agora como novo Estado soberano, porém assediado de todos os lados por árabes e palestinos.

Jerusalém, fundada pelo rei Davi lá pelo ano mil antes de Cristo, seria arrasada em 587, tendo o seu grande templo profanado e destruído por Nabucodonosor, babilônio, em 701 por Senaquerib, assírio, Tito, romano e Saladino, sultão muçulmano em 1009 depois de Cristo, quanto também foi profanado e destruído o Santo Sepulcro.

Foi o bastante para que ao grito de “Deus o quer”, os cristãos iniciassem no século XII a epopéia das Cruzadas, fundando o efêmero Reino Latino de Jerusalém entre os anos de 1095 e 1187. Das várias Cruzadas ficou pelo menos o saldo de poderem os cristãos retomar as suas peregrinações aos Lugares Santos da Palestina, venerando em Belém a gruta do nascimento de Cristo, em Jerusalém o seu Santo Sepulcro, o Cenáculo da instituição da Eucaristia e a Galiléia, Nazaré, os Montes das bem-aventuranças e da transfiguração do Senhor. Não foi fácil mas foi possível uma certa convivência entre cristãos, árabes, palestinos e judeus até os dias de hoje.

Nesse entretempo, após a I Guerra Mundial, mais especificamente em 1920, além de ser instituído pela Liga das Nações o Protetorado inglês, surgiu o reino da Jordânia ao qual foi anexada a Cisjordânia, região além do Jordão, com domínio sobre parte de Jerusalém, É uma história feita de muito sofrimento para todos: judeus e palestinos, árabes e cristãos. Exatamente nestes dias, despontam possibilidades de trégua e paz, antecipando-se a constituição e uma possível desejada convivência entre Israel e o projetado Estado Palestino, ainda em formação.

Permita Deus que na Terra Santa, palmilhada e santificada pelos passos de Jesus Cristo, Messias, Redentor e Filho de Deus haja, finalmente, aquela paz que os anjos anunciaram na noite do seu nascimento vinte séculos atrás!

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