Crônica - Um menino chamado Jonathan
Era um dia frio e chuvoso. Com o vento e a chuva fina lá fora, eu estava feliz por não precisar sair.
Gosto do silêncio! Mas de repente esse silêncio foi quebrado pelo telefone.
- Alô. Meu nome é Jonathan – disse uma voz de menino – Será que a senhora pode me responder uma pergunta?
Eu não tinha a menor ideia de quem era Jonathan, mas assim mesmo fui pronta a responder:
- Claro. Qual é a pergunta?
Jonathan explicou que tinha escolhido o meu número na lista telefônica.
Esse menino deve estar se sentindo muito sozinho, pensei.
- Está bem, pode falar – disse a ele.
- A minha professora pediu que eu fizesse uma redação sobre a felicidade, mas não sei o que escrever. A senhora sabe o que é felicidade?
A pergunta me pegou de surpresa, mas respondi:
- Não é uma pergunta fácil. Não seria melhor você perguntar ao seu pai ou à sua mãe?...
- Não posso. Eles estão trabalhando e chegam só à noite – explicou Jonathan, sério. – Eu sou um bom aluno e quero fazer uma boa redação. A senhora pode me ajudar?
Eu já tivera tempo para me reorganizar e minha voz soou mais tranqüila.
- Bem, há vários tipos de felicidade. Para uma mãe a felicidade está nos filhos. Para os filhos, a felicidade pode ser um doce, um presente, um carinho...
Jonathan ouviu educadamente, e acrescentou: Acho que a maior felicidade dos pais é estar junto com os filhos ... a senhora não acha?
Concordei com ele e, depois de me agradecer, ele desligou.
Que menino triste pensou. Talvez não fosse informação sobre a felicidade o que ele queria, mas sim sentir ele mesmo o que é a felicidade.
Foi nesse momento que senti um estalo de que deveria saber mais sobre ele e até sobre sua família, mas não sabia nem seu sobrenome e nem tampouco seu telefone.
Perdi a oportunidade de ter uma nova aproximação com alguém, que com certeza, só queria ter com quem conversar.
Perdi a oportunidade também de lhe mostrar tantas coisas sobre a tão desejada felicidade...
Com este pequeno conto, reflito e muito, sobre a nossa responsabilidade social para com as crianças.
E sinto-me muito inquieta!
Nos dias de hoje, pai e mãe trabalham e ficam fora de casa. Para compensar a própria ausência, dão presente aos filhos e assim as crianças vivem entre a fartura material e a carência afetiva.
Mas afinal, o que é uma criança?
Uma criança é sempre uma mágica! Ela possui a magia do carinho, da ternura e da afeição.
Devo estar ficando velha. Para mim, a imagem da criança não é a de alguém presa num apartamento ou a um computador. Infância para mim são meninos e meninas jogando bola na rua, brincando na chuva, longe de toda essa parafernália eletrônica. É nesta imagem de criança que se esconde um futuro de esperança.
E aqui neste ponto, lembro-me novamente de Jonathan, o menino que queria saber sobre a felicidade.
Querido Jonathan, a felicidade não existe pronta... “Reis procuram aprisionar a felicidade, mas ela não se deixa prender. Ricos tentam comprá-la, mas ela não se deixa vender. Famosos tentam seduzi-la, mas ela não resiste ao estrelato”...
Jonathan! Jonathan! A felicidade existe sim e está dentro de nós mesmos...
Ditinha Schanoskiota
Nota: com esta crônica fui premiada pela participação no I Concurso Literário da Casa do Editor de Sorocaba (Ceres).