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Publicado: Segunda-feira, 25 de julho de 2005

Corrupção na política: anti-ética e imoral

Nesta altura dos acontecimentos, todos estamos estarrecidos com a corrupção que grassa no meio político brasileiro, de modo especial em Brasília. É nauseante o que a Comissão Parlamentar de Inquérito, presidida pelo Senador Dulcídio Amaral (PT-MT), vem revelando sobre a corrupção que acabou envolvendo tanto o Partido dos Trabalhadores quando o Partido Liberal, o Partido Progressista e o Congresso Nacional. O pior é que o PT, quando oposição em seus 25 anos de vida, proclamava-se o campeão da moralidade. Subindo ao poder da República, tornou-se a vanguarda da corrupção no meio político brasileiro.

Até este momento estão gravemente envolvidos em “maracutaias” como tráfico de influência, “mensalões”, “malas pretas”, “laranjas” e empréstimos milionários envolvendo Sílvio Pereira, ex-Secretário Geral e Delúbio Soares, ex-Tesoureiro do PT. Já é possível dizer que dificilmente o “mar de lama” não tenha atingido o ex-super-ministro José Dirceu, José Genoíno, Luiz Gushiken e um bom número de deputados federais e dirigentes petistas.

Pessoalmente, estou pedindo a Deus que o Presidente Lula não seja envolvido nesse escândalo. Não é fácil convencer-se de que ignorasse tudo que se passava ao seu lado, em salas do Palácio do Planalto, com Ministros, ex-Ministros e altos dirigentes de seu próprio Partido. Seria lamentável que depois do suicídio de Getúlio Vargas em 1954 e do “impedimento”de Fernando Collor de Mello em 1992, nossa frágil democracia tivesse de passar por um novo fato traumático.

José Genoíno, ex-guerrilheiro felizmente convertido para a convivência democrática, acaba de fazer a sua autocrítica em recentíssimo artigo no Estadão. Afirma entre outras coisas: “Como presidente do PT, deveria ter adotado um empenho maior na gestão administrativa interna do Partido, exercendo maior controle, renovando métodos e procedimentos... adequando o PT à nova condição de governo... Isso nos levou a cometer erros políticos que se traduziram em prejuízo para o Partido e seu endividamento” (Cfr. caderno A-2, de 16 de julho). Tarso Genro, novo presidente do diretório nacional do PT, admite dívidas de quase 40 milhões, mas os membros da CPI já sabem que devem chegar a cerca de 190 milhões. E Genoíno assinou, “sem ter lido”, empréstimo de alguns milhões!

Chegamos assim a uma situação preocupante, envolvendo dezenas de parlamentares, vários Ministérios e publicitários como Duda Mendonça, responsável pelo marketing de campanha que elegeu o Presidente Lula, e Marcos Valério de Souza, que doou e movimentou, em benefício do PT, os milhões e milhões necessários para a compra do apoio e dos votos de tantos deputados e dirigentes dos Partidos envolvidos. Um escândalo que levou o relator da CPI a dizer: “Acabou a esperança”. Nesse quadro, em dois anos e pouco de governo o PT acabou desvirginado, demonstrando ter chegado ao poder sem um sério projeto de governo. Está falhando onde mais se esperava: na superação de pelo menos alguns graves problemas sociais de desemprego e insegurança, falta de moradias e reforma agrária. O assistencialismo que o caracteriza, nem de longe levará à superação real e definitiva dos graves problemas de carências e marginalizações existentes entre nós.

Penso que o Presidente Lula não está governando. Viaja demais em seu Airbus de 57 milhões de dólares. Tem um ano e meio para se recompor e melhorar a situação dos cerca de 50 milhões de pobres e miseráveis do país, sem terra e sem teto, sem saúde e sem esperanças. Não basta o seu carisma pessoal, o seu passado e as suas falações. É preciso empenhar-se a fundo no governo, na administração federal, cercando-se de Ministros competentes, mais técnicos que políticos. E não só do PT.

É preciso dizer que a corrupção política, em qualquer esfera, é um problema de falta de valores ético-morais. Quando uma grande parte da juventude vive relativizando tudo, trilhando descaminhos da safadeza, da violência e das drogas, quando o casamento se torna descartável e a família se desagrega aceleradamente, quando muitos perdem a crença em Deus vivendo como pagãos, mais interessados em sacos e malas de dinheiro que nos valores do Reino de Deus – amor e solidariedade, dignidade e justiça – está-se bem próximo da “25a Hora” do clássico livro de Virgil Gheorghiu, que recomendo aos leitores.

Com Deus, diga-se de passagem, já não está fácil comportar-se com dignidade em um mundo relativista, consumista, erotizado e permissivo como este. Sem Deus, tudo desanda e caminhamos, rapidamente, para uma nova Sodoma e Gomorra. Ou, se quiserem, para uma nova Babilônia e Nínive. Ainda bem que Deus continua paciente e misericordioso porque há, certamente, em toda cidade, mais de dez justos. Mas tenhamos certeza, chegará o momento final do ajuste de contas de cada um, quanto “irão os bons justos para a vida eterna e os maus...” (Mt 25,46).

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