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Publicado: Sexta-feira, 4 de novembro de 2005

Corrupção: do Descobrimento até hoje

É conhecida a piada em que, depois de caprichar na criação do Brasil, com os maiores rios e florestas, as mais belas praias e cachoeiras, sem vulcões e maremotos, Deus teria sido interpelado por outros povos, entre eles o japonês. Faltam-lhes as belezas de nossa pátria, sobrando problemas com vulcões, tsunamis e terremotos. A resposta de Deus teria sido: “Fiquem tranqüilos, agora vocês irão ver o povinho que vou colocar no Brasil”.

Impressiona a bondade do nosso povo, que é mestre em “quebrar um galho”. Se tivéssemos a disciplina e a organização dos alemães, o empenho no trabalho dos japoneses, imaginem onde já estaríamos neste início de terceiro milênio. O problema é o dos nossos governantes. Muito provavelmente de Pedro Álvares Cabral ao Presidente Lula, do Brasil Colônia e Império, passando pela República velha e a atual.

Ao leitor atento não deve ter passado despercebido que as observações de hoje contrariam o que escrevi semanas atrás, onde afirmei que não há termo de comparação entre o Brasil dos anos de 1930 a 1950 e o de hoje. O que veio acontecendo no meio político nacional desacredita e envergonha a qualquer um. Parecem intermináveis os casos de “caixa dois”, “mensalões”, propinas, troca-troca e aluguel de Partidos. Um mar de lama ameaçando o Palácio do Planalto.

Poderia alguém me contradizer quando me refiro elogiosamente a outros tempos, lembrando o que escreveu o insuperável Padre Vieira em “A Arte de Furtar”, na metade do século 17:

“Conjugam por todos os modos o verbo ‘rapio’, porque furtam por todos os modos da arte. Tanto que lá chegam, começam a furtar pelo modo indicativo, porque a primeira informação que pedem aos práticos é que lhes apontem e lhes mostrem os caminhos por onde podem abarcar tudo. Furtam pelo modo infinito, porque não tem fim o furtar com o fim do governo e sempre lá deixam raízes, em que vão continuando os furtos. Finalmente, nos mesmos tempos não lhes escapam os imperfeitos, perfeitos, mais-que-perfeitos e quaisquer outros, porque furtam, furtaram, furtavam, furtariam e haveriam de furtar mais, se mais houvesse”.

Ou então o que escreveu Eça de Queiroz no periódico “As Farpas”, de 1871:

“Estamos perdidos há muito tempo... O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes morais estão dissolvidos, as consciências em debandada. Os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua ação fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-que por toda parte o País está perdido!”.

Por essas e outras, nada tão oportuno quanto o magistral e curtíssimo texto de uma nova Constituição proposta por Capistrano de Abreu, com apenas dois artigos:

“Artigo I – Todo brasileiro é obrigado a ter vergonha na cara.

Artigo II – Ficam revogadas todas as disposições em contrário”.

Bastaria essa breve Constiuição, bem menor que a atual, com centenas e centenas de artigos. Sim, bastaria e seria outro o Brasil se governantes e governados não se esquecessem dos dez mandamentos da Lei de Deus e das oito bem-aventuranças proclamadas por Jesus Cristo.

O problema é que nossas famílias estão geralmente omissas no cumprimento de seus deveres. Nossas escolas, principalmente as públicas, nem bem informam. Nossas autoridades, feitas as honrosas exceções de sempre, estão dando nos dias de hoje péssimos exemplos. Quais adolescentes e jovens, diante de tanta corrupção, sentem-se estimulados a serem honestos e sérios?

Aqui entra o insubstituível papel da nossa Igreja e de outras que não fazem chantagem com seus desavisados fiéis. Mas esse é outro problema, que certamente merecerá nova reflexão mais adiante.

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