Colunistas

Publicado: Terça-feira, 20 de maio de 2008

Corpus Christi: A Divina Presença

Com a festa de Corpus Christi, na próxima quinta-feira, a Igreja celebra não tanto a instituição da Eucaristia, mas a permanência  sacramental de Jesus entre os fiéis. A ênfase sobre a instituição é dada na Quinta-feira Santa.
 
Passados os cinqüenta dias pascais, a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo vem recordar a perenidade da Ceia e do Sacrifício de Cristo, na  Igreja. Mistério central e básico, a Eucaristia é a vida da comunidade eclesial e de cada pessoa que crê. Sem Eucaristia não existe Igreja. Ela vive da Eucaristia, nos recordou o Papa João Paulo II na encíclica Ecclesia de Eucharistia.
 
A Eucaristia é o dom mais precioso dado por Cristo à sua Igreja, pois não permite que a Sua ação salvadora fique presa ao passado, mas faz verdadeira memória, no sentido de torná-la objetivamente presente e atual. Também não permite que sua recordação seja apenas uma obra da imaginação  sem se concretizar em gestos, pois o Senhor, ao instituí-la utilizou palavras, gestos e sinais sensíveis.
 
Quando Jesus disse: “Tomai e comei, isto é o meu corpo, tomai e bebei, este é o cálice de meu sangue”, ele tinha em suas mãos o pão e cálice de vinho. Esta junção ‘palavra e gesto’ une matéria e vida e é repetida pela Igreja a cada vez que se reúne para celebração do mistério eucarístico. ‘Fazei isto em minha memória’,  ordena o Senhor aos seus discípulos.
 
Quando a comunidade se reúne para a Eucaristia, ela, na verdade, não participa de uma ‘nova celebração’, mas sim daquela única celebração de Cristo, recordada e tornada presente pela ação do sacerdote que por sua vez age na pessoa de Cristo. É como se estivéssemos presentes no cenáculo e ao pé da cruz, nos lembrou o Papa na citada encíclica.
 
A Eucaristia foi prenunciada no Antigo Testamento, por várias imagens. Como alimento ela foi simbolizada pelo maná do deserto, descrito no livro do Deuteronômio, 8. Como sacrifício ela era já indicada no altar levantado por Moisés, narrado pelo livro do Êxodo, 24. Como ação sacerdotal, tem referência em Melquisedec, que se encontra no Gêneses, 14.
 
O maná saciou a fome temporal do povo hebreu na caminhada da libertação, em busca da terra prometida. A Eucaristia é o verdadeiro maná, pão vindo do céu que alimenta o povo de Deus na busca da Jerusalém celeste. É o viático de todos os que enfrentam as intempéries deste mundo em busca da cidade eterna.
 
O altar erguido por Moisés ao sopé da montanha era destinado a sacrificar animais cuja metade do sangue era aspergida sobre o povo em sinal de purificação. No altar da cruz, Jesus se sacrifica a si mesmo, oferece como sacerdote sua vida ao Pai em benefício da salvação de todos, perdoando os pecados.
 
No sacerdócio de Melquisedec, cuja origem familiar e a morte são desconhecidas, está a figura do único e verdadeiro sacerdócio de Cristo, sacerdócio este não adquirido por genealogia humana, mas de origem divina. A oferta de pão e vinho de Melquisedec é imagem pálida da Eucaristia do Senhor Jesus.
 
Por fim, a festa de Corpus Christi recorda a partilha do pão material que deve se realizar entre os que crêem.  Sobre este aspecto, o capítulo 6 de João oferece ótima reflexão. Inicia-se com a narrativa da multiplicação dos pães, os quais Jesus manda sejam distribuídos pelos Apóstolos.
 
O pão que mata a fome física é imagem do pão espiritual que sacia a alma. A fome dos empobrecidos sejam eles membros da comunidade de fé ou não, cristãos ou não, é um desafio para quem se aproxima da mesa da Comunhão eucarística, pois se o Senhor foi capaz de dar sua vida por nós, como podemos estar em união com Ele se não somos capazes de ao menos partilhar o que temos com aqueles que pouco ou nada têm?
 
A solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue do Senhor para os que crêem alimenta a fé, une no amor e prepara para a vida eterna, onde se dará o verdadeiro e definitivo banquete de Deus com os que foram salvos.
 
Corpus Christi: Ele está no meio de nós!
 
Sinal de amor supremo! Lição de solidária partilha! 
Comentários