Colunistas

Publicado: Sábado, 15 de janeiro de 2011

Corpo e alma: encontro e desencontro

Corpo e alma: encontro e desencontro
O que de fato importa é a verdade do sentimento...

Voltei das férias descansada, renovada, inteira. E cheia de dúvidas. É sempre assim, toda vez que consigo me afastar da rotina profissional, me distanciando da pressa e pressão deste mundo que fizemos, fico em dúvida da posição assumida nesta desvairada relação com o mundo do trabalho. 

Já fiz muitas mudanças por isso. Alguns dizem, inclusive, que sou vulnerável em excesso, que coleciono mudanças e outras coisas mais que, sinceramente, dou poucos ouvidos.  

O que de fato importa prá mim é a verdade do meu sentimento: preciso estar de corpo e alma, inteira e presente naquilo que toma o meu dia, que me faz distante da família, da casa, e muitas vezes daquilo que realmente é fundamental na vida. Sou incapaz de manter um trabalho pelo salário, pela segurança ou estabilidade que ele possa oferecer. Sou movida a desafios e minha alma se alimenta de vôos altos e distantes. 

Respeito e admiro, sem nenhuma vontade, é verdade; colegas que se mantêm 20, 30 anos na mesma empresa, em alguns casos na mesma função. Tenho a sensação que a vida dessas pessoas é mais tranquila, certa, equilibrada... Eu sei, eu sei, que nem tudo que parece é; e que a existência humana é muito mais complexa do que podemos compreender. No entanto, como o discurso dessas pessoas para explicar tanto tempo na mesma rotina é sempre tão cheio de palavras bonitas, como compromisso com os colegas, clientes, comunidade; a impressão é de equilíbrio, certeza e segurança.    

Ainda assim, nada disso me conquista. Penso e sinto diferente. Penso que somos mutantes, que hoje somos tão desiguais ao que fomos ontem tanto quanto do que seremos amanhã. E que por isso, muita coisa do que nos serviu um dia pode sim, sem nenhum problema, não servir mais num constante encontro e desencontro. Assim mesmo, bem simples, sem frescura, sem culpa, sem cobrança... Aliás, não posso deixar de dizer aqui, num breve parêntese, que não suporto cobranças. Principalmente as veladas, ditas ao avesso, camufladas, quase sempre envernizadas de sentimentalismo, como os famosos comentários, de que jamais esperava que você fosse capaz de...

Enfim, voltando ao assunto, penso que podemos partir, mudar ou deixar de ser e ter sempre que a alma estiver rasa, pouca ou vazia. Claro, tudo e sempre com muito respeito. Afinal, ainda que pareça cruel, toda relação humana, inclusive de pai e filho, marido e mulher, se baseia na troca: eu entrego o que tenho de melhor e retiro de você o que me é necessário.  

Difícil? Sim é difícil... Mas, nem por isso precisamos nos tornar inimigos ou amigos. Basta aceitarmos a lógica da troca na verdade do sentimento e então, como canta o Rappa, responder prá gente mesmo: "Qual a paz que eu não quero conservar, prá tentar ser feliz?"

Comentários