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Publicado: Sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Convivência das Gerações

A vida pode se assemelhar a um torvelinho. E à medida que o tempo passa e o progresso avança, a velocidade dos meios de comunicação se acelera de maneira que, na atualidade, tudo é ainda muito mais rápido, fugazes os momentos para a paz e reflexão. Sinto esses momentos às 11h30 horas de domingo ensolarado, fustigado pelo ventinho frio da noite gélida e me ponho a questionar com os abundantes e infatigáveis pensamentos.  
 
Noto que, sem perceber, tornei-me pessoa formal ou estatisticamente da geração antiga e que, como tudo respira novidade, o culto do momento é predominante, ou seja, o presente constitui a adorável vida. Tudo que é novo, jovem tem valor; coisas conhecidas, antigas, já sabidas, tornam-se desinteressantes, e podem ser trancafiadas em armários de sótãos ou porões, onde se guardam blusões e agasalhos para o inverno seguinte.
 
Da geração antiga procuro companheiros, talvez- quem sabe ?-, encontrá-los, revê-los para simples conversação, até telefônica, mas observo ausência quase total: boa parte já falecidos, outros distantes, enfermos do corpo ou da mente (não dispostos ao diálogo) e assim a única solução é mesmo entrar na dança, como os mais novos.
 
O primeiro passo é tratar de rejuvenescer: participar de academias de ginásticas, cuidar das rugas, cabelos brancos e calvície (um implante e uma peruquinha até que pode ser bom). Ir a shows, competições esportivas, bailes (ao menos comemorativos) e não se esquecer das viagens turísticas (inclusive internacionais), as badaladas “viagens transatlânticas” (de três a cinco dias) etc.etc.
 
A esta altura é que mais aparecem as dificuldades para a convivência das gerações. Enquanto a mais nova se encontra exuberante, a todo vapor, a mais antiga prefere se acomodar e aceita sem pestanejar apenas os prazeres da cama e mesa. Com isso, vão surgindo as discriminações pela idade (os mais jovens evitam os mais velhos e estes também não se sentem bem com a presença daqueles que dominam pela natural potencialidade física).
 
A convivência dessas duas gerações, a mais nova e a mais antiga, vai se tornando fastidiosa, sobretudo pela ausência de diálogo de temas mais profundos, como educação espiritual, religiosa, indispensáveis, para aperfeiçoamento do homem e da mulher. Disso decorreria melhora de toda a vida social em seus fundamentais aspectos, o que evidentemente não acontece.
 
As religiões cristãs, ao que parece, têm conseguido no máximo, cristalizar o respeito pelos mais velhos, dado o quarto mandamento do Decálogo, mas a idiossincrasia quanto à idade ainda deve perdurar por muitos anos e talvez nem chegue a desaparecer.
 
Na constatação que a geração mais nova não se sujeita a ser interagida pela mais antiga, pode-se declarar a inutilidade da história e das ciências correlatas embasadas no testemunho humano. Então, compreender porque a civilização moderna está eivada de tantos, erros, calamidades e sofrimentos desnecessários ou insuportáveis fica bem mais fácil.
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