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Publicado: Quinta-feira, 15 de março de 2012

Contaminação a bordo, fato isolado?

Crédito: Massimo Percossi/EFE Contaminação a bordo, fato isolado?
Contaminação à bordo não afastará turistas

A recente epidemia de gripe causada pelo vírus Influenza B em um cruzeiro do MSC Armonia que culminou com a morte de uma tripulante e mais 13 casos de infecção entre passageiros, embora raro, não é fato isolado. Como qualquer ambiente com grande circulação de pessoas, de metrôs a aeroportos, de shopping centers a hotéis, de praias a supermercados, navios também se tornam potenciais focos de contaminação. No entanto, são os cruzeiros que registram os menores surtos de gripe ou complicações gastrointestinais, o que pode ser creditado a rigorosas medidas de higiene.

Segundo a Anvisa, durante a temporada 2010/2011, dos mais de 850 mil passageiros a bordo, houve 792 ocorrências, ou seja, apenas 0,09% do total. Adrian Ursili, presidente da MSC, complementa que acidentes de percurso como o ocorrido são raros na empresa. Portanto, não há motivo para alarme. Assim como ninguém vai deixar de embarcar em navio por causa do naufrágio do Costa Concórdia ou viajar de avião pela queda no Oceano Atlântico do Airbus da Air France, não há quem queira riscar do mapa a viagem em cruzeiro devido a uma contaminação a bordo de consequência restrita, embora não desejável.

Acidentes ocorrem à revelia das empresas transportadoras, apesar das progressivas medidas de segurança e profilaxia. No caso dos cruzeiros, até por uma questão de sobrevivência do setor, faz parte da rotina a preocupação constante com a saúde e segurança dos passageiros e tripulantes, algo continuamente escrutinado pelas autoridades responsáveis, no Brasil e exterior. Como informa a Abremar, entidade que reúne as empresas do setor no País, todos os cruzeiros obedecem a rígidas regras, controles e imposições determinadas por organismos internacionais, como o International Maritime Organization (IMO), com sede em Londres (Reino Unido), e o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), em Atlanta (EUA), que mantém programas médicos e sanitários dirigidos a passageiros de navios. Além disso, as associadas tomam providências próprias para prevenir surtos, como sistemas complexos de tratamento de água e efluentes, descarte e reciclagem de lixo, segurança ambiental e controle alimentar.

Então como explicar, apesar de todas as precauções e a relativa raridade, incidentes em navios e aviões receberem atenção tão desproporcional da mídia? Não se trata de especulação ou sensacionalismo, como pode parecer a alguns à primeira vista. É que atendendo à lógica jornalística de que as exceções são sempre notícia, a indústria de transporte de massa acabou por se tornar vítima do seu sucesso. Na proporção inversa de motoboys que morrem diariamente no trânsito de São Paulo ou das vítimas de violência de bandidos em todo o País que viraram triste rotina, a raridade de ocorrências graves em navios e aviões faz delas presa fácil para o noticiário. Assim, o registro pela imprensa de um acidente ou problema de saúde em um cruzeiro que receba da mídia alarde inverso ao baixo índice de ocorrência é, de forma paradoxal, uma boa notícia.

*Este texto foi publicado também na coluna Viagens de Negócio, de Fábio Steinberg, no dia 14 de março de 2012, no Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo.  

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