Colunistas

Publicado: Domingo, 4 de março de 2007

Conhecendo a Amazônia

Conhecendo a Amazônia
A Campanha da Fraternidade do corrente ano pretende levar ao povo brasileiro maior conhecimento sobre o que significa a extraordinária obra da criação que é a Amazônia, da qual grande parte do planeta, de alguma forma depende. O conhecimento, contudo tem finalidade mais ampla: deseja despertar em cada um e em cada segmento social posicionamento urgente para salvar esta maravilha da criação, uma vez que anda assustadoramente ameaçada por um crescente desmatamento, destruição da cultura local e a dizimação dos povos indígenas. Preocupam a todos a violência estabelecida, seguida da impunidade, o absentismo governamental e judicial, o modelo econômico que favorece o lucro em detrimento da dignidade da pessoa humana.
 
À Igreja preocupa ainda a falta de maior número de missionários que anunciem explicitamente Jesus Cristo e constituam comunidades autenticamente assentadas sobre as bases fortes do Mistério de Cristo.
 
Tive, nos meus primeiros anos de vida sacerdotal, a graça divina de trabalhar como missionário do projeto Igrejas - Irmãs, na Prelazia de Tefé, em pleno interior da floresta amazônica. Tefé está distante de Manaus cerca de uma semana de viagem em barco motorizado, em condições normais da meteorologia. Mas a Paróquia de Foz do Jutaí, onde exerci as funções de pároco por seis meses, está ainda mais três dias de viagem além de Tefé.
 
Um mundo novo se descortinava à minha frente quando íamos avançado sobre o rio Solimões, singrando a imensidão inimaginável de águas do canal principal de quilômetros de largura e de numerosos rios que vinham do interior da mata, chamados ‘paranás’ quando maiores e ‘igarapés’ quando menores. A vegetação exuberante e diferente das que comumente via em outras partes do País, as revoadas de pássaros e a dança dos botos que como golfinhos saltavam ao lado da embarcação, as auroras douradas, o pôr-do-sol naquelas longas e demoradas viagens, as chuvas sobre as águas dos rios ou entre a abundante folhagem, tudo era como presente de Deus para os olhos e para a alma. As pessoas que víamos às margens, aqui e acolá, ou aquelas que encontrávamos nas comunidades, eram gente boa, amiga, simples, terna e acolhedora. Na maioria eram povos indígenas, plenamente integrados ao eco-sistema, cujos grupos culturais e lingüísticos variavam. Chamou-me à atenção o sentido de desapego de coisas materiais daquela gente. Quase nada pertencia às pessoas, quase tudo era tido em comum.Todas as vezes que visitei comunidades, recebi delicados presentes em frutas, peixes, tracajás ou até mesmo farinha, básica para a alimentação local. Praticamente todas as vezes que aportei em alguma pequena comunidade, vi as pessoas saírem de suas casas e virem à beira do rio para acolher.
 
Naquele tempo - já se vão quase 30 anos - o desmatamento e o desrespeito pelos rios, flora, fauna praticados por estrangeiros e por brasileiros à busca desenfreada de lucros eram já preocupantes, mas não tinham ainda a extrema gravidade dos dias de hoje. A Amazônia, sobretudo o povo amazônico, agora grita por socorro urgente.
 
A Amazônia é constituída de um território imenso que abrange 59% do território brasileiro e se expande para mais oito países: Bolívia, Peru, Venezuela, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa e Suriname. Sua bacia hidrográfica é constituída pelo rio Solimões que depois de se encontrar com o rio Negro passa a chamar-se Amazonas, com 6.695 km de comprimento e mais de mil outros rios que serpenteiam entre as gigantescas árvores da densa floresta. O nome Amazonas foi dado por frei Gaspar de Carvajal, um dos primeiros missionários que viajou pelo rio no século XVI. Na Amazônia vivem cerca de 20 milhões de pessoas de várias raças, na maioria de origem indígena, mas também caboclos, mestiços, brancos e negros. Os povos autóctones estão diminuindo espantosamente, pois se na época da descoberta do Brasil eram cerca de seis milhões, hoje estão reduzidos ao menos 20 vezes. As línguas faladas na região eram por volta de 1.300, atualmente não passam de 170. Os elementos culturais, na maioria condizentes com os princípios cristãos, confirmam o axioma patrístico da semina verbi, com a qual se constata que mesmo em povos não cristianizados, Deus já de antemão colocou uma semente da sua Palavra a ser desenvolvida.
 
A vida animal e a variedade de vegetais da Amazônia não são ainda totalmente conhecidas, pois cada vez que um pesquisador entra na região, quase sempre descobre espécies novas. A riqueza das ervas medicinais, dos recursos alimentícios e minerais do subsolo é extraordinariamente grande.
 
Isto tudo, infelizmente encontra-se hoje ameaçado pelo trabalho explorador desordenado e na maioria das vezes ilegal. Atualmente, 17% da floresta já foram destruídos e pouquíssima parte foi recomposta. A área desmatada corresponde aos territórios da Dinamarca, Holanda, Portugal e Bélgica somados.
 
A Amazônia precisa de nosso senso de amor à obra da criação. O povo amazônico precisa de nosso senso de fraternidade e solidariedade. As comunidades da Amazônia precisam de nosso senso missionário.
Comentários