Colunistas

Publicado: Terça-feira, 4 de julho de 2006

Como correm os tempos...

“Rememorando o “Penta”,
correlatas, reais e utópicas adjacências”. . .”

Frente à ineludível demonstração de irresponsabilidade e imoralidade documentada feéricamente pelas profusas CPI’s, dos Bingos e do correspondente indiciamento pelo Ministério Público, dos personagens do mensalão, do caseiro de “casa da felicidade”, do episódio grotesco dos subornadores sanguessugas, das pretensas autoridades e prefeituras corruptas, sem autoridade moral alguma, achei conveniente repassar aos leitores, com enxertos atuais este trabalho, considerandos ou conjecturas, escrito em 3 de Julho de 2002 .

Nunca na história, se me não falha a memória, esfrangalharam-se valores vitais, tão estapafúrdia, esbaforida e esbanjadamente como nos dias que correm, seja nos contornos ou conceitos da beleza, quase ou totalmente predisposta ou condicionada a serviço do fator utilitário econômico, na concepção e aparente dádiva da bondade, que se estrutura abstrata e concretamente em “Ongs” gigantescas, movimentando a sociedade para fazer o bem e a obra de edificação, mas que consomem em sua própria estrutura, organização, burocracia sistemática e manutenção, a maior parte dos recursos que angariam a fim de alcançar o ápice ou quimera do absoluto sucesso; no alarde da expressão falaciosa e bombástica da comunicação e midia, tantas e repetidas vezes descuidada, sibilina, maldosa, calculista, inconseqüente; na sofreguidão do comportamento epidérmico, avassalador; populista; na incapacidade ou quase impossibilidade, cada vez mais generalizada, de pensar bem, de testemunhar ou ensinar a pensar responsável, oportuna e adequadamente; no turbilhão confuso e fosco do sentir, do persentir, do pressentir no espesso e escasso espaço hoje vedado às suas múltiplas, ricas, efervescentes, construtivas, lúcidas e intensas manifestações, na dimensão verdadeira e clara da sensibilidade real, profunda, consciente, do sentimento alimentado de ponderação e subtileza, fortalecendo por sua vez, pleno de conteúdo, qualidade, autoridade e acerto, razão e intelecto a dar suporte à mente sadia, amadurecida, responsável, livre de temores irracionais ou irreais. Nunca se malbarataram tanto em tal volume e extensão os verdadeiros valores da personalidade humana e da vida real consciente e autêntica, ansiáveis e essenciais numa democracia, para a qual tanto contribuíram, pensaram e muito bem, os iluministas com o seu contrato social e análises fundamentais, que produziram a república democrática. Não recordo de tal descalabro, tal desprezo aos fundamentos e alvoroço irresponsável, como o de agora. Tal negação de princípios e às pessoas que os vivem. Tudo parece carecer de consistência no país da “ordem e progresso” em que há forçosamente que conviver com a desordem, com a falta de crescimento, pelo contrário, há que conformar-se com o encolhimento econômico e visão cultural capenga generalisada, e portanto com a realidade de um país sem progresso. Consome-se sem critério administrativo, gasta-se. Usa-se de créditos imerecidos e dúbios que levam a desastres os “inábeis”, sem condenar os corruptos e calculistas do interêsse próprio, (haja vista ao drama da imensa dívida da VARIG, de sete ou oito bilhões, acumulada irresponsàvelmente por várias gerações de áulicas administrações) desperdiça-se aos borbotões, sem nexo nem ponderação, empurrando-se problemas graves que demandam soluções urgentes, para a frente, com a barriga, para as futuras administrações resolverem, ao som da algazarra de turbas ou turmas entusiásticas e enlouquecidas nos piquetes, no antegozo de delícias falaciosas e improváveis, mas muito provavelmente de óbvio final pouco feliz. Quem duvida de que falta sensatez e probidade administrativa em todos os recantos da nação? Não há tempo para pensar. Nunca há tempo para meditar bem. Não há tempo para ler. Não o há para comentar ou raciocinar conscienciosa e conscientizadamente. Não o há para introspecção e aprofundamento. Verdadeiramente não há tempo disponível nenhum para valores, ou massivamente não se sabe já pensar, não se sabe ou se intui o que é certo ou o errado, próprio ou impróprio, como antigamente em sociedades analfabetas mas cultas de espírito e respeito à experiência cumulativa e sã dos tempos, talvez porque tenhamos perdido o costume, o hábito de pensar, porque não haja liderança política ou social que o indique e dignifique com o exemplo pessoal, talvez porque tenhamos perdido o prazer, o orgulho e o conhecimento básico para poder fazê-lo ou exercê-lo. Só se sabe negar o óbvio e ululante veredicto da verdade incontestável . Vive-se ilusão de vida chamada moderna, fruindo-a e medindo-a por quantidade ilusória, por promessa que não precisa ser cumprida, por volume e pela maior velocidade meteórica e eletrônica que lhe possamos imprimir, por pressões e pressas irracionais urgentes e urgentíssimas, sem jamais separar tempo para a mínima meditação, estudo, interiorização. Tudo são sorrisos, paixão, alegria, ritmos alucinantes, delirantes embalos no trem da alegria, sejam elas meras expressões da “balsâmica”, epidérmica e ilimitada alegria carnavalesca de nossa sociologia ou o conforto do tão ansiado recente e abençoado PENTA, ( agora em busca do ansiado HEXA, que ficou tão tristemente pelo caminho, mudando os ventos do humor e opinião a cada faceta da decepção ou vitória) gloriosamente alcançado então por ídolos milionários, ainda ontem deplorados, também na época inicial na seleção do Filipão, mas logo depois gritado a plenos pulmões por multidões endoidecidas durante horas e horas e horas de insônia, pulos atléticos e gritos descontrolados e efuziantes em qualquer das camadas sociais, de gargantas roucas, lágrimas e olhares esgazeados, PENTA escrito em belas letras de fôrma fumegantes pelos ares e céus da República e da Pátria a cada instante, pela famosa esquadrilha da fumaça. Fumaça que logo se esvai mas fica ainda no ar e neste horizonte inconsistente, o azul da esperança. Quentes, gratas, contagiantes e inevitáveis expressões perfeitamente lógicas, legítimas e compreensíveis e até certo ponto reconfortantes e analgésicas, mas realísticamente administradas mágicamente por técnicas sub-reptícias e sub-liminares dos “interesses ocultos,” do inigmático Jânio, econômicos, esotéricos ou inconfessáveis, como aqueles dos antigos emperadores romanos com seu “daí ao povo pão e circo e tudo estará solucionado”, mas que continuam de fato e

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