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Publicado: Quarta-feira, 1 de fevereiro de 2006

Comemorando o Vaticano II no Peru

Não foi um serviço prestado à Igreja sem algumas boas dificuldades, porém não consegui negar o convite para uma palestra em Lima, no Peru, entre os dias 21 e 22 de janeiro. Valeu a pena passar alguns dias por lá. A cidade tem sete milhões de habitantes e é formada por um povo pacífico, bom e acolhedor. É rasgada por grandes avenidas, circundada pelas montanhas dos impressionantes Andes e pela beleza do Oceano Pacífico.

Tratava-se de uma comemoração dos 40 anos do Concílio Ecumênico Vaticano II. O encontro contou com cerca de mil participantes de toda a América Latina e também de Roma. O Cardeal Primaz de Lima, Juan Luis Cipriani Thorne abriu oficialmente o evento. Coube-me a honra de falar logo após ele. Foi fácil perceber a importância desse encontro dedicado à Constituição Dogmática sobre a Igreja, fundamental para as outras três Constituições da grande assembléia do episcopado católico mundial.

Um dos 2.300 Padres Conciliares peruanos que participou do Vaticano II, entre 1962 e 1965, estava entre nós. É o atual Arcebispo Emérito de Cuzco, que fez uma interessante reflexão sobre os grandes momentos do Concílio. Todos os demais documentos do Vaticano II mereceram abordagens sérias dos palestrantes. O Professor Vicente Espeche Gil, ex-embaixador da Argentina no Vaticano, encerrou o encontro.

Como impressão geral, não tomei conhecimento de um evento de tão alto nível em outros países, comemorativo dos 40 anos do Vaticano II. Pessoalmente, além de uma reflexão sobre a “Lumen Gentium”, falei sobre certas leituras ideológicas, mais sociais e políticas do que eclesiais, feitas sobre a importante Constituição. Citei alguns teólogos brasileiros que entre nós prosseguem fazendo análises discutíveis sobre os documentos do Vaticano II, mesmo em questões fundamentais como a eclesiologia, a constituição hierárquica da Igreja e a co-responsabilidade do colégio episcopal na missão evangelizadora da Igreja, “cum Petro et sub Petro”.

Como a Igreja não é uma instituição meramente estática e humana, ousei levantar algumas possibilidades futuras. Por exemplo, como uma atribuição decisória e não somente consultiva em questões disciplinares e pastorais, nos futuros Sínodos Mundiais, Regionais e Nacionais dos Bispos, sempre supondo uma afetiva e efetiva comunhão com o Papa.

Lembrei que João Paulo II, em sua encíclica “Ut Unum Sint”, de 1995, recomendou aos teólogos e peritos em ecumenismo que sugerissem alguma nova diretriz no exercício do supremo pontificado romano, que lhe cabe por direito divino já definido no Concílio Vaticano I, realizado em 1870. Ousei sugerir ainda que se aprofundasse a reflexão sobre o “duplo efeito” no caso de casais sem filhos que optam pela “reprodução assistida”.

Outras delicadas ações que tornariam menos agressivas algumas práticas da engenharia genética e da bioética, também foram respeitosamente recomendadas por mim. Ao que parece, prevaleceu a seriedade das minhas sugestões, algumas delas merecedoras de novas reflexões nestes tempos em que alguns vivem exigindo do Estado a sua laicidade, como se pudesse haver algum real conflito entre a verdadeira fé, revelada por Deus, autor de toda a verdade e da autêntica ciência que, também ela, vem de Deus, pois foi o Criador que impôs a todas as coisas e fatos as suas próprias leis.

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