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Publicado: Terça-feira, 29 de abril de 2008

Chega de Gurus!

Ninguém sabe ao certo como e quando a onda começou. O fato é que o mundo corporativo nunca andou tão assolado por uma horda de gurus que parecem entender de tudo – de marketing a energia tântrica. Eles chegam de mansinho durante uma burocrática reunião de negócios, ou de um congresso técnico bem chato, ou de um workshop patrocinado por alguma empresa que ninguém sabe direito o que vende. Aí, falam apenas o óbvio ao distinto público com a propriedade de um especialista. Mesmo assim, estes mágicos fazem platéias rir e chorar - como se acionassem uma varinha mágica que manipula emoções públicas. São aplaudidos de pé. Depois saem de fininho com os bolsos cheios igualmente de dinheiro e de cartões de visita de potenciais clientes. No dia seguinte, como  fim de efeito da ressaca, as pessoas se perguntam: “o que foi mesmo que ele disse?”
 
Quem registrou com muita verve este fenômeno, e que não é apenas brasileiro, foi o jornalista inglês Francis Wheen. O título de seu livro na edição brasileira Como a picaretagem conquistou o mundo (Editora Record) já diz tudo. É uma pena que a expressão em inglês do título original, “mambo-jambo”, que dá o tom da obra, não pôde ser aproveitada em português. Quase sempre associada à música latina e até à comida, tem uma versão menos conhecida, mas indispensável para entender o mundo contemporâneo de negócios. Mambo jambo são também as palavras ou atividades tornadas complicadas desnecessariamente, e até misteriosas, mas que no fundo não querem dizer absolutamente nada. Soa familiar? Estamos diariamente cercados por este lero-lero que homenageia o vazio, um jogo de palavras e idéias que dão importância ao supérfluo, e situações surrealistas que zombam da nossa inteligência. O mambo jambo parece demonstrar que a erosão do bom senso e o festival de banalidades veio para valer, e quase sempre alavancadas por charlatões e falsos profetas.
 
Há quem diga que tudo começou em 1982, quando um jovem consultor adminis­trativo da McKinsey & Co., Thomas J. Peters,  resolveu escrever Em busca da excelência, que procurava identificar a razão do sucesso das melhores empresas dos Estados Unidos. O livro vendeu cinco milhões de exemplares. Wheen, que concentra um capítulo inteiro do livro ao tema gurus, revela que Peters, com o que faturou, até comprou uma fazenda de 1.300 acres em Vermont, que além de gado tem até lhamas. No rastro desta mina que descobriu, seguiram-se vários discípulos com suas obras. Os sete hábitos das pessoas muito eficazes, de Stephen R. Covey; A quinta disciplina, de Peter Senge; O gerente minuto, de Kenneth Blanchard e Spencer Johnson; Desperte o gigante interior, de Anthony Robbins, são alguns exemplos deste modismo que tomou conta do mundo corporativo. Embaladas pelo sucesso desta gente, surgiram também biografias e, praga das pragas, obras que poderiam se classificar na estranha categoria de “inspiradoras”. Quem não se lembra do famoso Fernão Capelo Gaivota – a piegas história um passarinho que quer se exceder através de vôos cada vez mais altos, uma alegoria boboca ao desenvolvimento pessoal, mas que foi usado por anos seguidos em dez de cada dez programas motivacionais de empresas? A leitura destes bestsellers expõe idéias óbvias ou tolas como “vá fundo e continue a ir fundo”, “transforme os negativos em positivos”, “um pouquinho de cortesia e atenção ajudam enormemente”, “o mundo dos negó­cios é um jogo, por isto jogue para ganhar”, “quando se é empresário, não se olha para os dentes de cavalo dado”,  “se a oportunidade bate à porta, o empresário deve estar sempre em casa”, ou  “qualquer trabalho digno de ser feito é digno de ser bem-feito.”
 
Apesar do caminho aberto, a exploração excessiva esgotou o assunto. Estava na hora de uma segunda geração de temas. Foi quando um sujeito chamado Wess Roberts teve a idéia de migrar da abordagem de liderança para as analogias históricas. Em 1991, escreveu Os segredos de liderança de Átila, o Huno, que virou livro de referência para todos os gerentes de nível médio nos Estados Unidos. Trazia ensinamentos vitais para a sobrevivência corporativa como “Você deve ter flexibilidade para superar os infortúnios pessoais, o desânimo, a rejeição e a decepção”. Ou “quando as conseqüên­cias de seus atos forem terríveis demais para suportar, procure outra alternativa”. O pioneirismo literário de Roberts foi seguido por uma enxurrada de obras neste promissor segmento histórico. Francis Wheen se deu à pachorra de catalogar alguns destes títulos hilários: Gandhi: o coração de um executivo; Confúcio na sala de reuniões; Se Aristóteles dirigisse a General Motors; Faça acontecer: lições de gerenciamento de “Jornada nas estrelas, a próxima geração”; Elizabeth I, executiva-chefe: lições estratégicas de liderança da mulher que construiu um império. E, acredite se quiser: Moisés: executivo-chefe.
 
Nessa altura dos acontecimentos, estava lançada oficialmente a prateleira de auto-ajuda das livrarias, e que nunca mais foi embora.  E com ela a segmentação. Na linha do desenvolvimento pessoal, nasceram títulos como Histórias para abrir o coração, O caminho menos percorrido, e Homens são de Marte, mulheres são de Vênus. Até mesmo o misticismo atingiu em cheio o mercado corporativo. Exemplos desta temática: O executivo místico: ferramentas de poder mediúnico para o sucesso, de Barrie Dolnick, ou o bestseller de Paul Zane Pilzer, Deus quer que você enriqueça. Mas há também a vertente zoológica de pensamento. Ela busca transpor atitudes do mundo animal para o universo empresarial, com verdadeiras pérolas que serviram para vender livros como pipoca em porta de escola. Você pode optar entreLeões não precisam rugir: destaque-se, enquadre-se e progrida no mundo dos negócios, de Debra Benton; Nade com os tubarões sem que eles o comam vivo, de Harvey Mackay, ou Ensinando elefantes a dançar: facilitando a mudança em sua organização, de James A. Belasco.
 
Mas no campo de gurus, nada se compara à carreira meteórica do Dr. Deepack Chopra, um endocrinologista que resolveu abandonar a carreira para escrever
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