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Publicado: Quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Cenário Econômico Brasileiro

Crédito: FF CONSULT Cenário Econômico Brasileiro
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O ambiente internacional permaneceu desafiador para as economias emergentes em agosto. O mês foi marcado pela piora das condições financeiras nessas economias mesmo com a ausência de um fato gerador específico. Diante desse ambiente mais incerto, ajustamos nossa projeção de câmbio para R$/US$ 3,90 ao final deste ano. O cenário externo seguirá desafiador nos próximos meses, o que, juntamente com os fatores locais, sustentam uma taxa de câmbio mais depreciada do que a esperada anteriormente. As contas externas do país seguem positivas, com fluxo cambial no ano superior a US$ 20 bilhões e rolagem praticamente integral da dívida externa, além do reduzido déficit em conta corrente, elevado investimento externo e reservas, o que nos coloca em situação mais favorável do que os emergentes mais frágeis. Por isso, se as reformas forem adequadamente endereçadas no próximo ano, esses fundamentos devem prevalecer e levar a uma apreciação em relação ao patamar atual. Em contrapartida, em um cenário em que as reformas não sejam endereçadas, as contas externas não serão capazes de evitar uma deterioração da ancoragem nominal e de expectativas na economia, podendo levar o câmbio a depreciar mais, com implicações para a inflação e a taxa de juros. Portanto, esse período de transição, até que a nova agenda econômica seja conhecida, deve seguir acompanhado de volatilidade.

Essa piora das condições financeiras influencia negativamente o crescimento e traz impactos em direções opostas para a inflação. Em relação à atividade econômica, apesar de termos mantido a projeção de crescimento do PIB de 2018 em 1,1%, a eventual manutenção de condições financeiras apertadas coloca um desafio ao crescimento nos próximos trimestres.

Neste contexto de uma taxa de câmbio mais depreciada, elevamos nossa projeção de IPCA para uma alta de 4,4% em 2018. A elevação da curva de juros, enquanto não acompanhada de piora das expectativas de inflação, implica uma contração adicional ou retomada lenta da atividade e pressiona a inflação para baixo. Mas a depreciação cambial, por sua vez, tem efeitos mais imediatos.
   

 => Sinais adicionais de fragilidade em mercados emergentes são novo desafio global

As últimas semanas têm sido marcadas pela piora dos preços de ativos dos países emergentes. Essa piora, entretanto, ocorreu sem novos episódios de tensões comerciais e geopolíticas e sem altas adicionais das taxas de juros nos Estados Unidos ou em outros desenvolvidos. Esses eram, até julho, os dois elementos principais que sustentavam a alta do dólar frente às demais moedas. Na nossa visão, a justificativa para essa piora de percepção de risco com os países emergentes não se deve a nenhum fator em específico, mas sim à maior sensibilidade conjuntural dos investidores com as economias. Até aqui, os Estados Unidos são os beneficiados desse novo contexto, mantendo crescimento acima de 3,0% nos últimos trimestres, enquanto fica cada vez mais clara a desaceleração das economias emergentes mais frágeis e de algumas economias asiáticas mais abertas ao comércio internacional.

Apesar de não existir um evento gerador específico para essa recente piora dos preços dos ativos das economias emergentes, todos os fatores de risco elencados nos últimos meses permanecem presentes. A guerra comercial, que apesar do recente entendimento entre os EUA e o México, não apresentou alívio significativo das tensões com a China, com Canadá, entre outros. Como efeito da tensão comercial, tem aumentado a incerteza em relação a uma desaceleração mais intensa da atividade na China e nos países com elevada exposição comercial ao país.

Somado a isso, tudo indica que os EUA devem continuar normalizando a política monetária, frente à robustez do crescimento da atividade doméstica e à gradual aceleração da inflação. Ademais, a questão fiscal na Itália e o Brexit são riscos adicionais a serem observados nos próximos meses.

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