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Publicado: Sexta-feira, 1 de junho de 2007

Cavalgadas

Crédito: Roberta Molteni Cavalgadas
Ao cavalgar, uma visão privilegiada do cenário
Uma nova tendência chegou, e veio a galope: a cavalgada. Nada tão revolucionário que o homem já não conheça há séculos. Mas andar a cavalo por prazer, sozinho ou em grupo, estava meio esquecido para a gente da cidade. Sempre houve entre os homens da era moderna uma certa nostalgia eqüina, seja através das motocicletas, espécie de cavalo de aço, ou na referência ao número destes animais na força dos motores dos carros. Mas não deixa de ser irônico que, na disputa pelo transporte individual de lazer, os avançados veículos cheios de tecnologia – das motos aos jet skis – perdem no final para o velho alazão. É que com a crescente valorização da natureza, interagir com o relincho eqüestre leva vantagem sobre as buzinas automotivas. Lembra daqueles cavalinhos meia boca, os populares pangarés, que as pessoas da cidade montavam (ou era puxadas pela corda) quando eram pequenas? Pois estes cavalos ganharam status. Agora atendem por sobrenomes ilustres, como lusitanos, crioulos, apaloosas, mangalarga, mangalarga marchadores, anglo árabes, pantaneiros, ou marajoaras, uma nomenclatura até pouco restrita a entendidos.
 
Ao cavalgar, você tem uma visão privilegiada do cenário, até dois metros acima do que o olho humano. Passeia por locais por vezes inacessíveis, no silêncio natural, e de forma ecologicamente correta – sem destruir a mata ou espantar os bichos. A interação com a natureza é total. E se você estabelecer uma relação de cumplicidade com o bicho, que é um pouco mais do que apenas saber o nome e gritar “Aiô, Mimoso” (ou nome similar) de tempos em tempos, a experiência pode se tornar inesquecível. Para isto, dizem os especialistas com quem conversei, é preciso ganhar a confiança do cavalo, que nunca soube direito se é para bater no pescoço, alisar a crina (mexer no rabo é uma péssima idéia), ou deixar ele beber água e comer na hora que ele cismar. O turismo eqüestre pressupõe também o relaxamento, sem ter pressa. Assim, vale parar quantas vezes quiser, aproveitar para se deslumbrar com uma vista, admirar uma construção antiga, fazer piquenique, mergulhar num riacho, tomar banho de cachoeira, observar uma planta ou um animal, sentir o cheiro do mato, ouvir o silêncio, e fazer pipi (algo que vale tanto para você quanto para o seu alazão). “Em cima de um cavalo, eu vivo horas de grandes emoções, de contato intenso com a natureza, do sol entrando em cada partícula minha, amenizado por árvores centenárias, frondosas e mata virgem. São momentos regados do sabor do interior, da cor da simplicidade, do barulho do silêncio”, recorda a jornalista Fátima Turci. Ela não está sozinha: "Andar a cavalo sempre foi um problema para mim. Para evitar vexames procurei ficar longe das fazendas e do campo. Confessei o problema a um amigo, João Pacheco, especializado em cavalgadas. Ele me garantiu que além de perder o medo, eu me tornaria fã. Pouco a pouco, do pangaré ao alazão, eu me tornei um cavaleiro", conta Alan Dubner, consultor de marketing. "Trilhar caminhos incas no Peru ou das tropas no Brasil é uma experiência fascinante. Permitiu também ao meu filho João, de 11 anos, adquirir vivência em família e grupo”, comenta a engenheira agrônoma e especialista em turismo rural Andréia Roque Junqueira Arantes. 
 
De olho na busca do homem urbano pelo mundo rural, o turismo eqüestre chegou de mansinho ao Brasil, com passeios organizados, animais treinados e guias capacitados. Num país que possui 6 milhões de cavalos, a terceira maior tropa do mundo, já estava mesmo na hora de fazer alguma coisa. Até que em 2005, surgem iniciativas mais estruturadas, como por exemplo a Cavalgadas Brasil, que montou doze roteiros pelo país. A cavalgada é para quem pode viajar, mas não é milionário. Por R$ 260 por dia, o turista conta com pousada, refeições, cavalo, guia e seguro", conta um dos idealizadores, Paulo Junqueira Arantes. Ele comenta que enquanto os estrangeiros preferem passeios de até 10 dias, os brasileiros se contentam com um. O ponto comum de quem gosta de cavalgar é que hospedagem não é importante; o que interessa é segurança, qualidade da travessia, e paisagem.
 
Para experimentar um roteiro, escolhi a Rota do Jequitibá, em Mococa, aquela cidade paulista famosa pela vaquinha do anúncio. São três horas da capital, em estradas maravilhosas com paisagens deslumbrantes, mas que parecem ter mais pedágios que canaviais em sua volta. O passeio promete. Cinco dias, 120 quilômetros no lombo de um cavalo. Saímos em um grupo de doze, entre adultos e crianças. É uma viagem ao tempo. Do ciclo do café que se foi, restaram as fazendas, algumas bem conservadas, outras nem tanto. Na luta pela sobrevivência, cada uma delas buscou a especialização: vai do turismo individual ou empresarial, criação de cavalos e gado, cultivo de cana ou eucalipto, até a indústria de cachaça. Mas todas têm um traço comum: a encantadora hospitalidade dos seus proprietários. A natureza não para de contribuir para a beleza do passeio: planícies, serras, cachoeiras, e resquícios de mata atlântica. Nela, os jequitibás são os reis do pedaço, com árvores que podem chegar a dois metros de diâmetro e até 40 metros de altura. Pernoitamos na Fazenda Nova, com 200 anos e que cria cavalos e também funciona como escola de equitação. Os anfitriões, Jan Rais, ele um checo que chegou ao Brasil em 1949, e sua mulher Leonora, ela descendente direta do fundador, Diogo Garcia da Cruz, se desdobram em gentilezas. Já na sétima geração, todo mundo ali tem cavalo no sangue. A continuidade da propriedade está assegurada através das filhas, Marina, que é psicóloga e cuida das atividades terapêuticas oferecidas pela fazenda, e Laura, professora de equitação e juíza da Federação Eqüestre Internacional. Na propriedade de 20 alqueires, cavalgamos por uma trilha entre matas, riachos e açude. “A simpatia das proprietárias faz com que todos se sintam envolvidos com  situações cotidianas, e com a preparação para o passeio: desde costurar a mochila que rasgou na última hora, até selar os  cavalos, tudo  acontece com a maior naturalidade”, comenta a fotógrafa Suzana Barretto, estudiosa da cidade e descendente de família centenária do local. Ela participou do roteiro ao lado do marido, o arquiteto Caetano de Lima. Cada refeição é uma festa, graças à deliciosa comidinha caipira, feita em fogão a lenha. Mas o roteiro tem outros bons momentos. Na imponente sede da Fazenda Santa Cecília, dá tempo de comer um ped
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