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Publicado: Terça-feira, 30 de novembro de 2010

Causa Mortis

Crédito: "Os Amantes" - Catedral de St. Paul Causa Mortis
Morrer de amor nunca foi algo tão desejado

Quando me perguntam se eu gosto de política, normalmente recebem uma resposta negativa. E aí logo vêm os questionamentos, os dedos apontados na cara, as condenações... Mas por que uma jovem como você não gosta de política? Mas é algo tão interessante, por que essa revolta? Você só pode estar brincando, isso é sério? Olha, é melhor tomar cuidado, porque os que não têm interesse por política são governados por aqueles que o têm.

Esta é a parte em que eu fecho os olhos, respiro fundo, (re) absorvo todas as críticas e zombarias e inicio o meu segundo questionamento-resposta: e que incentivo eu tenho em gostar de política, hoje? Tem que gostar, dizem. Deve. Justamente por toda tragédia do século XXI você deve saber o que acontece com o mundo em que você vive. Os jovens devem lutar por um mundo melhor.

E por que não os mais velhos? Por que não todos? Por que esse desespero em colocar a responsabilidade do futuro do mundo nas mãos do jovem que mal sabe onde pisa, que não se interessa por política?

E outra: quem disse que eu não sei o que acontece no mundo em que eu vivo? Não é o interesse por política, dinheiro na cueca ou informações confidenciais recentemente reveladas que vai mudar o presente ou o futuro do planeta.

O que acontece no meu mundo é uma descrença grave e coletiva no amor. O ponto é: Domitila, artista, jovem, estudante, está crendo cada vez menos no amor. E isso sim é preocupante. Quer dizer, o que aconteceu com o amor? O amor puro que costumava emanar das pessoas para as pessoas, coisas e lugares. Que tipo de revolução moderna e científica é essa que condena as relações humanas à rapidez do fast-food? É tudo prático, mas não é verdadeiro, não tem gosto e nem emoção.

E que difícil é encontrar uma paixão que não seja movida a outros interesses... Pesquisa? Dinheiro. Esporte? Dinheiro. Trabalho? Dinheiro. Dinheiro, dinheiro, dinheiro. Que crença é essa que priva o ser humano de fazer o que ama, por medo de não conseguir sobreviver?

O que aconteceu com a sinceridade? Será que algum dia ela existiu ou só é mais uma invenção comercial, a favor de finais “felizes para sempre”? Não. O amor não pode ser isso. Mas está difícil de acreditar que um sentimento tão nobre não seja apenas mais uma estratégia blockbuster de Hollywood. E da Disney.

Não estou dizendo que o sofrimento deve ser extinto, muito pelo contrário. Com o amor, vem o sofrimento, isto é inevitável, mas nos faz crescer. Uma grande obra de arte não é feita da noite para o dia.

Um bom rei, um rei justo que não deixa herdeiros nos faz refletir que devemos aprender o bem por nós mesmos. Um mundo justo e feliz não deve ser dado como presente, mas conquistado com o suor de cada minuto batalhando. Isto é merecer.

 E o grande problema, bem grande por sinal, é que na praticidade buscada diariamente, acabamos procurando a rapidez na solução dos problemas. Deixamos as estratégias e a conversa fora do campo de batalha. Partimos para a agressão, humilhação, a luta.

Conquistas rápidas...

Valores efêmeros...

Bilhões de anos para a formação do Universo e apenas alguns para o seu fim.

Morrer de amor nunca foi algo tão desejado.

Ironia, então?

Mate-me, por favor.

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