Colunistas

Publicado: Quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Cascavel de terno

Crédito: Image Bank - RF Cascavel de terno
Cuidado: mais que cascavel de terno...
Na ficção ou realidade, o psicopata corporativo - inteligente, elegante e sem compaixão - destrói valores e pessoas com seu comportamento doentio 
 
Charmoso, mas sádico. Carismático, mas sem conteúdo. Impulsivo, mas sem remorsos. Sofisticado, mas manipulador. Inteligente, mas incapaz de conviver em harmonia. Jovem e sarado, mas desalmado. Bem vestido, mas sem ética. Predador social sem escrúpulos, busca poder e dinheiro para atender sua insaciável escalada hierárquica. Você trabalha com alguém assim? Cuidado: mais que cascavel de terno, você pode estar ao lado de um psicopata corporativo.
 
O alerta vem de um especialista no assunto, o Professor Robert Hare, da Universidade de British Columbia, Canadá. Para ele, 1% da população, inclusive a empresarial, é psicopata. Talvez não o tipo violento como Jack o estripador ou Charles Manson. Ou mesmo o motoboy “maníaco do parque” que aterrorizou São Paulo. Ao contrário, o seu correspondente nas empresas é educado e refinado. Mas os seus desvios de caráter, frieza e agressividade, são confundidos como atributos positivos e pré-requisitos para atuar no competitivo mundo dos negócios.      
 
Quem leu o livro Psicopata Americano – ou assistiu o filme baseado na obra de Brett Easton Ellis – lembra do anti-herói, o cruel e endinheirado garanhão yuppie Patrick Bateman, que trabalha em Wall Street e adora Donald Trump. Graduado em Harvard, gasta dinheiro em restaurantes caros, boates da moda, roupas e academias. Ele consome com a mesma avidez perfumes, mulheres, produtos de beleza, equipamentos de última geração e drogas. Faz das grifes moeda de relacionamento, e do sucesso material uma meta da sua existência vazia.
 
Como pode alguém desequilibrado e destrutivo conviver com pares que representam a nata econômica da metrópole mais sofisticada do planeta, sem que ninguém note algo errado? É que ao adotar símbolos e hábitos de sucesso, como marcas famosas, lugares de status, e cartão de crédito multifuncional – que serve tanto para pagar como administrar cocaína - Bateman está dentro dos padrões de aceitação social. Torturar e matar suas vítimas, independente de classe econômica, que somem desapercebidas na cidade violenta, é um mero acessório. 
 
Fora da ficção, um psicopata corporativo, ao invés de grifes, só precisa ter um bom domínio de procedimentos, protocolos e rituais internos para garantir sua sobrevivência e ascensão. Ele também sabe torturar e assassinar, mas de forma mais sutil, como humilhar subordinados, não assumir erros e atribuí-los a outros,  submeter colegas a acessos de fúria, ou, ato extremo, promover demissões. O comportamento, por mais bizarro, é percebido como excêntrico – desde que devidamente compensado por suas contribuições aos resultados de negócio.         
 
O professor Hare e o Dr. Paul Babiak estudaram 100 criminosos condenados por fraude e falsificação, e escândalos com o da Enron e WorldCom, e conseguiram estabelecer um padrão de comportamento. Desenvolveram um teste, em fase de validação, para detectar perfis disfuncionais nas organizações. Chamado de Business Scan 360, visa desmascarar indivíduos que dão uma boa impressão, parecem líderes, mas depois revelam um lado sombrio que só promove paranóia na organização e dissemina uma cultura perversa - reflexo da própria personalidade. Os autores propõem aplicar o teste em executivos atuais ou com potencial de crescimento. Fatores como estilo e maturidade organizacional são escrutinados, seguidos por entrevistas com secretárias, colegas e gerentes e todos os que cercam o executivo em cheque. O produto está fadado ao sucesso. Mesmo não lançado, já tem fila de espera de corporações ávidas em utilizá-lo.        
Comentários