Capacitação em viagens de incentivo
O executivo chega a um resort de luxo em São Paulo que se auto-classifica como cinco estrelas. Quando entra no hotel, atende o celular e durante a conversa precisa tomar nota de um número de telefone. Pede à responsável pela recepção papel. Leva o maior susto quando a moça lhe entrega um rolo de papel higiênico.
Esta história, que realmente aconteceu, não é um fato isolado. Ela é emblemática, pois simboliza a carência de preparação profissional que o setor de turismo ainda experimenta no País. A situação torna-se mais dramática na área de viagens de negócios e incentivos, pois atende a um público sofisticado e exigente, responsável pela maior parte da movimentação de hotéis e aviões.
Um dos que mais chamam a atenção para a falta de preparação de quem trabalha com incentivo é Helder de Castro, diretor da Total On Demand, empresa especializada no assunto. "Para atuar nesta área, a pessoa precisa estar antenada com as constantes mudanças no mundo e ter sensibilidade para propor ideias criativas capazes de transformar comportamentos nas empresas", ele explica. Resumindo, um bom desempenho exige conhecimento do cotidiano corporativo, independentemente do ramo, e propor soluções que estimulem a produtividade e a melhoria da performance.
Castro destaca a diferença entre viagem de incentivo e o turismo regular: "Incentivo é uma recompensa, geralmente um final de uma campanha que prima pela excelência e qualidade". Não é, portanto, uma opção de destino do viajante, mas uma conquista associada aos resultados obtidos. A viagem de incentivo se caracteriza pelo seu caráter exclusivo, customizado para os ganhadores em seus mínimos detalhes. "É bem diferente da compra de um simples pacote de férias e por isto, seu apelo é emocional, algo que ficará registrado na memória do premiado por até 12 anos", diz Castro.
Diante do desafio, o profissional de incentivo deve estar ciente de sua responsabilidade e características específicas da atividade. Precisa estar preparado para cuidar dos detalhes de um prêmio que é um sonho de muita gente. Castro espera desse profissional excelente formação universitária, fluência em línguas, e conseguir navegar no mundo digital com desenvoltura. Não faz nada mal ter forte bagagem cultural e conhecimentos gerais, muito úteis no processo criativo e formulação de ideias propostas para os projetos de incentivo.
O diretor avalia que a falta de uma sólida formação acadêmica em marketing de incentivo torna a operação por vezes muito difícil. Para suprir o vácuo e reter talentos, ele costuma tomar o mesmo remédio que prescreve aos clientes: promover a motivação interna, reconhecer os melhores e recompensar quem se supera em desempenho e qualidade. "Aqui a gente diz que santo de casa faz milagre sim!", diz.
*Este texto foi publicado originalmente na coluna Viagens de Negócio, de Fábio Steinberg, no dia 10 de abril de 2013, no Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo.