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Publicado: Quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Caminhos Perigosos (1973)

Caminhos Perigosos (1973)

Caminhos perigosos é um ótimo "preview" do que Scorsese iria fazer futuramente na sua carreira. Em seu segundo filme ele mostra o que já sabe. Lidando com temas como a máfia, personagens pouco peculiares, mas mesmo assim prende atenção o filme todo. E lembrando também da violência que é sua marca registrada e claro Nova York que forma um belo cenário dentro do contexto do submundo.

Com uma clássica narrativa que ele usa como a câmera na mão, o uso freqüente do plano seqüência, cortes rápidos e até a influencia da "nouvelle vague", que em uma cena especifica é inspirada totalmente em "O Acossado" de Godard. E claro a câmera na mão que ele usa em alguns elementos do filme.
A história do filme acompanha Charlie (Harvey Keitel) um cobrador da máfia, que trabalha para o seu tio que é "Wise Guy". Charlie tem uma vida que vai de andar com os amigos o dia todo sem fazer nada, bebendo num bar de outro amigo e ficar aturando as idiotices do seu melhor amigo Johnny Boy (Robert Deniro), ele que deve sempre dinheiro para agiotas, e não se preocupa com nada a não ser se divertir, e isso causam a raiva em certas pessoas. Mas ele parece não se preocupa com nada disso já que Charlie sempre está disposto a ajudá-lo.

Charlie vive uma vida cheia e ao mesmo tempo vazia. Não sabendo direito o que quer ele vive entre as cobranças, a sua fé, e Teresa (Amy Robisson) seu amor de infância e que hoje eles tem um relacionamento, mas ao mesmo tempo é proibido.

Martin Scorsese elabora uma boa trama com esse filme, já que o roteiro é dele. Mas ele consegue juntar elementos que enriquece a trama como o amor proibido, uma pessoa de bom coração que não se encaixa dentro daquele mundo e claro como eu disse os personagens. Apesar de ter um caráter mais experimental com a câmera e edição. Scorsese também se apóia em sua cinéfila e usa isso muito bem principalmente nas cenas de Teresa e Charlie. Quando vemos os dois juntos pela primeira vez, eles estão num quarto que lembrou bastante "Acossado" pelos diálogos que não contribuem para a trama, mas mesmo assim faz os personagens serem mais cultivados e amadurecerem ao longo do filme. Também temos alguns elementos de "O Poderoso Chefão" como nas cenas finais onde temos algumas mortes e no fundo uma música e nisso vai se mesclando com pessoas que fazem parte da trama e a violência.

O que ao mesmo tempo é um ponto positivo essa duvida de Charlie, chega a ser irritante de como ele não define um lado e tenta ao mesmo tempo não "ferrar" ninguém. Esse lado de ter um bom moço na história foi um erro já que estamos falando de mafiosos, cobradores e até assassinos. Ainda bem que Scorsese abandonou esse lado da trama e fez personagens completos que não são totalmente ruins ou totalmente bons, são humanos com todos os seus defeitos.

Talvez o que mais pareça um personagem típico do universo do diretor é Michael outro cobrador vivido pelo ator Richard Romanus e o dono de bar que eles freqüentam Tony (David Proval). Michael e Tony têm muitas coisas em comum que apesar de serem amigos de todos, seguem uma regra básica, "não atrapalhe os meus negócios!" e é isso que é o espírito da máfia. Quando Michael briga o tempo todo com Johnny Boy por causa de um dinheiro que ele deve, ele é paciente e camarada, mas na parte final quando é levado ao limite, ele é ardiloso e trama bem o que vai fazer. Já Tony ele tem um papel de destaque no começo do filme e o vemos em todas as cenas, mas aos poucos ele vai se afastando. O fato de ele ser assim é como ele vai percebendo que as atitudes de Johnny são perigosas e o faz ser mais cauteloso ainda e não se envolver tanto com eles.

O desfecho final deixou a desejar e pulou um pouco o que o filme se apresentava até ali. Quando Charlie, Teresa e Johnny Boy fogem da cidade, a cena não condiz com o que estava acontecendo há 15 minutos antes, onde eles estavam desesperados e Johnny apronta mais uma da suas. E quando finalmente se tem o acerto final que Michael encontra com Johnny temos uma cena muito gratuita, que se não soubesse quem era o diretor iria dizer que era Quentin Tarantino ou Robert Rodriguez, digo isso pela forma que a "morte" de Johnny é feita, com tiros que vazam litros de sangue e um carro em alta velocidade. Achei o final muito exagerado e totalmente contra o que o diretor estava levando até agora, se em uns momentos temos referencias a "Nouvelle Vague" e a "O Poderoso Chefão" no outro é um "Exploitation" da pior maneira possível.

"Caminhos Perigosos" podem ser considerados uma versão pobre de "Os Bons Companheiros" e "Cassino". Sendo um dos primeiros filmes de Scorsese ele consegue acertar em muito com algumas coisas, mas também erra feio com outras. Podemos vê-lo com um filme de curiosidade para mostrar o tanto que ele fez pelo cinema e como foi fazer seus primeiros filmes, que estão eternizados sempre em nossas memórias.

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