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Publicado: Quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Caminhos opostos nos negócios

Fim de casamento costuma deixar mágoas. Por isto, é bom dar o devido desconto às declarações elegantes sobre o que levou ao fim de uma relação de seis anos. De um lado a ABGEV, a principal associação brasileira que reúne gestores e fornecedores de viagens e recentemente também de eventos. Do outro, a GBTA, a até recentemente sua musa inspiradora norte-americana, agora com pretensões globais, e que não se satisfaz mais em ser representada no Brasil – ela quer ser dona do seu destino. Sintonizados na resposta, tanto o veterano na indústria Wellington Costa, novo Presidente da GBTA para o Brasil, como a empreendedora Viviânne Martins, que preside a ABGEV, dizem que a separação foi fruto de uma decisão conjunta diante de divergências em relação às prioridades para a América Latina.

Seja lá o que isto significa, fica claro que o Brasil e, em segundo plano, a região latino-americana, são a bola da vez em viagens de negócios. Como ocorre em qualquer disputa pelo mercado, quem ganha com isso são os profissionais da área, a maioria cansada de tanto "oba-oba" festeiro cercado de pouco conteúdo e profundidade nas discussões vitais para o setor.

A verdade é que associações de classe costumam lutar com a falta de recursos. No caso brasileiro, isto é particularmente verdadeiro em viagens de negócios, um mercado oligopolizado em alguns setores, e engessado pela falta de concorrência em outros. Diante do triste quadro, volta e meia as associações são obrigadas a passar o pires entre fornecedores para assegurar patrocínios de encontros em troca da docilidade no trato dos temas polêmicos. Com a raposa a tomar conta do galinheiro, o resultado são eventos com debates pra lá de sonolentos que pouco agregam ao exercício da atividade. Neles, sobra mesmo é o networking dos próprios com eles mesmos.

Neste tremendo faz de contas, quem entra pelo cano são os gestores do setor. Em vez de ter acesso a discussões proveitosas, cases que quebram paradigmas e apontam melhorias de processos, ou o acesso isento a ferramentas de produtividade, esses profissionais são submetidos a lavagens cerebrais que por pouco não canonizam os patrocinadores.

"O objetivo é trazer ao Brasil toda a gama de benefícios que GBTA oferece aos seus mais de 6 mil membros, e aumentar a sua presença – incluindo programas de educação, por meio da GBTA Academy, conferências globais, regionais e locais, além do "networking" de 17 mil profissionais da indústria de viagens", garante Wellington.

"A nossa parceria era somente no LACTTE, sempre organizado por nós, e por isto nada muda na operação da ABGEV. Teremos mais flexibilidade para trabalhar com todas as outras associações globais", replica Viviânne.

Enquanto os ex-pombinhos, agora recém-divorciados, disputam a partilha dos bens, a promessa de diversidade de players no mercado deve modificar o cenário modorrento, um modelo obsoleto e em descrédito no mundo. Por isso, GBTA, ACTE, ABGEV, MPI, ou seja qual outra sigla vier, são todos bem-vindos.

O sempre esquecido consumidor corporativo, encantado com as opções, agradece. E que os melhores conquistem corações e mentes.

*Este texto foi publicado também na coluna Viagens de Negócio, de Fábio Steinberg, no dia 12 de janeiro de 2012, no Diário da Associação Comercial de São Paulo.

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