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Publicado: Sexta-feira, 5 de agosto de 2005

Caminhos de esperança

Enojado diante de tantos escândalos e da corrupção reinante entre as lideranças políticas de Brasília, emocionei-me e quase fui às lágrimas lendo, em 3 de agosto último, esta notícia em nota da “Folha de S.Paulo”: “O projetista de caldeiraria Antônio Fernando Rodrigues, 53 anos, saiu do trabalho em Diadema e pegou o trem em São Paulo em direção a Jundiaí, a 60 quilômetros da capital, como sempre faz. No caminho encontrou em um bagageiro do veículo uma maleta típica de executivos, documentos e objetos de valor avaliados em cerca de R$ 200 mil. Levou a mala para casa, no dia seguinte buscou o cartão do dono da valise e entrou em contato para devolvê-la. ‘Não peguei o dinheiro, nem nada, porque não era meu’, disse. A mala pertencia a um consultor financeiro de Francisco Morato que deu de recompensa a Rodrigues R$ 110...” (página C-5).

Esse fato, que não é o primeiro e nem será o último, infunde a esperança de que nem tudo está perdido. Pelo menos aqui na planície, bem distante do planalto. Para ser justo, acrescento que nem tudo está perdido em Brasília, porque certamente deve haver outros operários honestos como Antônio Fernando Rodrigues e, também, entre os Deputados, Senadores e Ministros de Estado. Estou me lembrando de Pedro Simon e Marco Maciel, de Patrus Ananias e Luiz Dulci, entre outros. Isso permite confiar em um futuro melhor para a nossa Pátria.

Pergunto-me, como devem estar fazendo tantos bispos e sacerdotes de minha Igreja, tantos educadores e cidadãos brasileiros nestes dias de “maracutaias”, “mensalões”, “tráfico de influência”, “venda e compra de mandatos e votos”, especialmente nos poderes legislativo e executivo do governo federal: qual seria a motivação que, de um lado lançou tantos nesse “mar de lama” que a cada dia se espraia mais e mais em Brasília e alhures, no Nordeste, na Amazônia e, pro dolor, até mesmo em Minas Gerais? Quais as referências que ainda temos para não desanimar, prosseguindo rumo a um amanhã melhor para o nosso povo sofrido?

Tenho para mim que, por primeiro, devemos crescer em nossa fé e confiança em Deus. Não só porque “Ele é brasileiro” e nos ama, mas também, porque continua presente na vida de um sem número de católicos, evangélicos e não-cristãos. A certeza da presença de Deus, cujos olhos acompanham todos os nossos passos, cuja bondade é provada a cada dia e cuja justiça inapelável se dará mais adiante a cada um conforme se comportou na própria vida. Essa fé na onipotência, no amor e na graça divina fundamenta, solidamente, a opção dos que cremos pelos caminhos do bem, da verdade e da honestidade.

Grande parte das famílias brasileiras é outra razão das esperanças que tenho quanto ao futuro. Pais e mães desnaturados, esquecidos dos próprios deveres, felizmente são minoria absoluta de norte a sul. A cada dia que passa, embora preocupado com a acelerada desagregação de tantas famílias, fruto amargo do divórcio e da descrença em Deus sinto que, na absoluta maioria dos lares do Brasil, prevalecem o amor dos esposos, o acolhimento dos filhos, os bons exemplos dos que os geraram para a vida. É uma pena que certos programas de televisão, especialmente novelas, diariamente continuem agredindo os mais sagrados valores familiares. Apesar de tudo a família, se não é uma pequena “igreja doméstica” evangelizando os filhos à luz dos valores cristãos, pelo menos continua sendo um dos poucos redutos de dignidade e solidariedade de nosso povo.

Para dizer toda a verdade, estou decepcionado com a escola, especialmente com a escola pública brasileira. Foi, nos anos de minha infância, adolescência e juventude, nos primeiros anos de meu sacerdócio, uma comunidade que realmente educava, preparando seus alunos para uma vida digna. Hoje verifico, com muito pesar que a quase totalidade das escolas oficiais nem está informando bem e muito menos passando, aos seus milhões de alunos, os valores necessários para que sejam bons cidadãos e eleitores conscientes. Há diretores e professores omissos, incompetentes e envaidecidos que não deveriam estar onde estão, nem de longe merecendo o nome de mestres. Impressionam a indisciplina e o desinteresse pelo aprendizado, a mediocridade, o desrespeito e o estrago que as drogas vêm fazendo em escolas públicas quase sempre omissas na formação humana e moral dos seus alunos.

Ainda restam para os que marginalizaram Deus de suas vidas, relativizando tudo, negando a perene distinção entre o bem e o mal, o honesto e o desonesto, alguns pontos de referência. São a dignidade humana, o respeito aos direitos e a proclamação dos deveres decorrentes do fato de não sermos aqueles “macacos, primatas que perderam o rabo, desceram das árvores e começaram a fazer história”, imaginados pelos evolucionistas. Os que assim pensam e ensinam essas e outras tolices, nem de longe explicam o sermos obras-primas da criação, feitos à imagem e semelhança de Deus, livres e responsáveis, vocacionados para o amor.

Os que ainda estão convencidos de que o homem e a mulher são os reis da criação e que a “pessoa humana é o que há de mais perfeito em toda a natureza” (Santo Tomás de Aquino), têm nos valores que se enraízam esse primado humano caminhos para a superação dos preocupantes problemas que nos afligem nesse momento da vida nacional. Ainda é tempo de mudarmos os rumos de nosso Brasil, ainda é tempo de sonharmos com uma Pátria mais fraterna e justa.

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