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Publicado: Quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Cada louco com sua loucura?

Todos nós temos um pouco de louco ou um pouco da “loucura”. Já se dizia o ditado popular aqui um pouco modificado: “de médico, psicólogo e louco todo mundo tem um pouco!”

Quem nunca “diagnosticou” uma outra pessoa ou colega, dizendo que está com aquela doença e até indicou um remédio ou tratamento? Até mesmo quando achava que nada mais adiantava (o conhecimento do assunto lhe fugia) disse que “aquele não tem mais jeito está louco”. Pois é, isso tudo é bem comum. Seja no trabalho, na escola, em casa, sempre alguém vai tentar “ajudar” o outro nesses termos, muitas vezes sem ter conhecimento de causa.

Quando converso com as pessoas sobre louco ou loucura, percebo que a maioria diz que o louco é o outro e a imagem que se tem dele é de uma pessoa que fala tudo o que pensa sem ponderar, que anda “jogado” por aí, manicômios, inútil, perigoso, etc. Será mesmo????

A loucura sempre foi tratada por nossa sociedade como algo a ser excluído, seja “colocando” as pessoas ditas loucas em casas especializadas (antigos manicômios) e por vezes até abandonando-os a própria sorte.

A diferença entre a saúde e a doença está na intensidade dos “sintomas” e comportamentos, ou seja, todos somos passíveis de apresentar alguns sintomas e comportamentos fora dos padrões aceitáveis socialmente. O problema está justamente no que isso representa ou pode acarretar para o próprio sujeito. A partir do momento em que ele não se sente bem, ou está de alguma forma sofrendo é que isso precisa ser olhado.

O que não pode acontecer é achar que podemos sair por aí “concertando” pessoas. Antes vem a reflexão: “será que ela precisa ou quer?”; “será que isso está provocando algum tipo de sofrimento a ela?”

Há poucos dias assisti na televisão uma reportagem sobre um hospital psiquiátrico onde haviam morrido algumas pessoas aparentemente de causas passíveis de serem resolvidas (falta de agasalho no frio). Quando o repórter entrevistou a família de uma dessas pessoas obteve a resposta de que a pessoa havia morrido de frio e não teria as doenças citadas pelo hospital, pois caso tivesse o hospital teria que ter comunicado a eles. Além disso, também foi dito que esse paciente era um morador do hospital há pelo menos 11 anos!

Nesse caso citado e em muitos outros vemos pessoas que são moradores de hospitais psiquiátricos. Será que eles precisam morar lá para fazer o tratamento? As políticas de saúde mental pressupõem a existência de leitos para internação em hospitais psiquiátricos assim como a utilização dos Centros de Apoio Psicossocial (CAPS), onde aquele que precisa pode utilizar os serviços durante o dia e a noite volta para casa, mantendo o convívio social em meio as possibilidades de cada um. Para cada pessoa há um tratamento adequado as suas necessidades e deve levar em conta a pessoa como um todo, com suas potencialidades e limitações.

Ainda hoje, 10 anos após o início da reforma psiquiátrica no Brasil, ainda ouço nos meios de comunicação a utilização da palavra “manicômios” para se referir aos hospitais psiquiátricos. Essa palavra que vem tão carregada de preconceito e exclusão.

As pessoas que se utilizam dos serviços de saúde mental são em primeiro lugar pessoas e, assim como todos, têm necessidades de afeto, convívio social, trabalho, lazer, conhecimento, cultura, respeito, vida; a partir daí é que podemos pensar em trabalhar em prol da saúde e bem-estar, de acordo com as possibilidades e demanda de cada um.

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