Cabra Marcado Para Morrer
Cabra Marcado para morrer é um dos melhores filmes brasileiros de todos os tempos. Filmado por Eduardo Coutinho o filme é dividido em duas partes, a primeira parte que séria um filme biográfico de João Pedro Teixeira; que retrata a história de um lavrador que virou líder agrário em Galileia, interior da Paraíba, nos anos 60 e que foi executado pela polícia em 1962. Na época em que Coutinho estava realizando o filme, ele foi interrompido pelo Exército sobre acusação de fazer material “Comunista”.
O ano era 1964 e só 17 anos depois, em 1981, ele retomou o projeto. Várias coisas foram apreendidas na época como partes do filme, Roteiro, Equipamentos e as fotos. E poucas coisas foram salvas e recuperadas anos depois, como 8 fotos dos atores que eram parte da família de João Pedro, um rolo do filme e parte do roteiro.
Depois de 17 anos a ideia de Eduardo Coutinho de continuar a gravar para saber o que ouve com a família de João Pedro foi ousada. Primeiro por não saber onde eles estavam já que a viúva de João Pedro, Elisabeth Teixeira era foragida, vivia clandestinamente e estava separada dos filhos. E até o próprio medo dos envolvidos que faziam parte da gravação e da liga dos camponeses.
Mas o resultado obtido é maravilhoso e a narrativa do documentário é espetacular. Achar os envolvidos na época e contar o que aconteceu com cada pessoa da família era dispendioso por não saber o paradeiro deles. Talvez Coutinho tenha tido um pouco de sorte com as filmagens, principalmente com Elisabeth. Depois que seu marido faleceu ela tornou-se líder agrária e com isso ela foi presa e acusada de ser comunista. Com a fuga da Paraíba ela se escondeu no Rio Grande do Norte e só conseguiu levar 1 filho dos 8 que tinha, e esses ficaram em casa de parentes e não tiveram mais contato com nenhum dos irmãos. Ao acompanhar a entrevista você percebe como a influencia do golpe militar separou a família e deixou traumas no resto da população local. Ao recolher o material para o documentário Coutinho optou por entrevistas no qual ele foi atrás da família toda, até chegar ao presente, neste caso o ano de 1981.
Mas acima de um documentário, Cabra Marcado para Morrer é o retrato de uma época escura do país, aonde não se tinha direito de voz e quando se tinha logo era censurado e de como simples camponeses, mesmo com a vida sofrida conseguiram ter voz e se revoltar contra os maus tratos.
Como próprio Coutinho define seu filme um “Cinema de conversa” a História da família Teixeira é a História do Brasil.