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Publicado: Sexta-feira, 11 de junho de 2004

Bush vai ao Vaticano

Dias atrás George W. Bush esteve na Itália e França. Em Roma visitou o Presidente Ciampi e, no mesmo dia, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi, encontrando-se logo em seguida com o Papa João Paulo II, em audiência particular no Vaticano. Em Paris, reuniu-se com o Presidente Jacques Chirac, com a Rainha Elizabeth, da Inglaterra e Gehrard Schroeder, Chanceler da Alemanha. Todos, vencedores e vencidos, comemoravam os 60 anos do desembarque das forças aliadas na Normandia, início da derrocada definitiva de Adolf Hitler e do nazismo.

O encontro com o Papa teve grande destaque na mídia. Foi cordial e nele Bush reconheceu os méritos e o empenho do Papa na defesa dos direitos humanos. Charge da “Folha de S. Paulo” do dia 06 deste mês, destacava um rastro de sangue deixado pelo Presidente Bush quando se aproximava do Papa. As fotografias da audiência, da primeira página e de páginas internas, mostravam um George Bush sério, contrastando com o sorriso normalmente evidente onde aparece, quando fala e discursa. Talvez naquele histórico momento estivesse recordando os apelos feitos por João Paulo II para evitar a guerra contra Saddam Hussein no Iraque e, mais ainda, como lembrei no artigo “Réquiem Para George W. Bush”, divulgado dia 03 de junho na página A-3 da “Folha”, o primeiro mandatário da mais poderosa potência militar da história talvez estivesse arrependido, por ter vencido a guerra e estar perdendo a paz no distante país do Oriente Médio.

Aos que estranharam a audiência concedida a George Bush pelo Sucessor do Apóstolo Pedro, lembro que é norma qualquer Chefe de Estado que visite Roma, sair do Quirinal e ir ao Vaticano. A Itália e o Vaticano são Estados cujo relacionamento se atém ao histórico Acordo de Latrão, do ano de 1929, ano da reconciliação da Itália com a Santa Sé. Ser recebido pelo Papa, maior autoridade moral no mundo de hoje, é sempre uma grande honra para qualquer um.

Além disso, lembro-me das críticas feitas em 1960 ou 1961, quando o genro de Nikita Kruchev e diretor do Pravda, jornal estatal oficial do regime soviético, foi recebido pelo Papa João XXIII, segundo alguns “Papa de transição” (sic!) que, convocando o Concílio Ecumênico Vaticano II, mudou os rumos da Igreja católica. Era a primeira vez, desde 1917, que uma personalidade da União Soviética era recebida por um Papa. João XXIII, nessa oportunidade, teria dito que receberia até o demônio, se este quisesse dialogar para um maior bem da humanidade. Não é o caso do Presidente Bush, apesar do que dele pensem milhares e milhares de italianos e franceses, que saíram às ruas para protestar contra a sua presença na Itália e na França.

O importante é o que aconteceu na audiência do dia 4 de junho, numa das salas da Casa Pontifícia ou Palácio Apostólico, de onde os Papas se debruçam sobre os problemas do mundo e pastoreiam a Igreja católica, presente em todos os continentes. Dentro de dois ou três dias, estarei recebendo o “L’Osservatore Romano” em sua edição semanal, em língua portuguesa. Muito provavelmente divulgue as palavras ditas pelo Presidente Bush a João Paulo II. Mas já é público o que lhe disse o Papa. Insistiu em que todos querem, quanto antes, a normalização da convulsionada e dramática situação do Iraque. Enfatizou o papel que cabe à Organização das Nações Unidas, a ONU, com a participação de toda a comunidade internacional.

Com ênfase, e ao mesmo tempo o respeito com que os Papas dizem tudo o que têm o dever de dizer, João Paulo II deixou claro que “sem o respeito aos valores humanos, nem a guerra, nem o terrorismo podem ser derrotados”, acrescentando que “poucas semanas atrás, vieram à luz outras ocorrências deploráveis que afetaram a consciência cívica e religiosa de todos, dificultando o compromisso sereno e determinado em favor dos valores humanos que compartilhamos”.

Mais uma vez, portanto, o Vigário de Cristo reiterou a condenação da Igreja e de seu Pastor maior às guerras, como a pior de todas as soluções para superar os problemas entre os povos. Proclamou, pela milésima vez em seus 25 anos de fecundo pontificado, que a dignidade humana, comum a todo homem e a toda mulher, envolve direitos sagrados e inalienáveis, que não devem ser desconhecidos e violados por quem quer que seja.

A bondade do Papa Karol Wojtyla não o fez deixar de dizer ao Presidente George W. Bush que a Igreja aplaudia, em sua pessoa, a corajosa e freqüente promoção dos valores morais como a defesa do casamento, o respeito à família e à vida dos nascituros. São pontos em que tem se empenhado, na sociedade americana, o Presidente Bush, em sintonia com o direito natural e os postulados da moral cristã. São valores com os quais, infelizmente, não está comprometido John Kerry, candidato do Partido Democrata, ainda que católico...

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